Minas Gerais é pioneira na formação em música pela rede pública de ensino básico

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Único estado do Brasil com ensino público de música, Minas tem 12 Conservatórios Estaduais voltados para crianças, jovens e adultos; e atualmente conta com 30 mil alunos

Patrimônio histórico da humanidade, a musicalidade típica da cultura popular mineira envolveu, ao longo de mais de 300 anos, compositores, instrumentistas e cantores de diversos espaços, como igrejas, coretos das praças, teatros, festas, bailes, saraus e serenatas em sua construção. A sonoridade versátil de Minas Gerais inspirou o ex-governador de Minas Gerais (1951 e 1955) e ex-presidente do Brasil (1956 e 1961), Juscelino Kubitschek, a propor – na década de 50 – a criação de Conservatórios Estaduais de Música (CEM’s).

Conservatório Lia Salgado, em Leopoldina, região da Zona da Mata – Foto: Divulgação/Conservatórios

Hoje, Minas Gerais é o único estado do Brasil que integra o aprendizado em música na rede pública de ensino e conta com 12 Conservatórios Estaduais de Música, geridos pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, localizados no interior do Estado, voltados para crianças, jovens e adultos. Atualmente, os CEM’s têm 31.281 alunos regularmente matriculados.

Os primeiros seis Conservatórios foram criados por Kubitschek na década de 50 nas cidades de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, Juiz de Fora e Visconde do Rio Branco, ambos na Zona da Mata, Pouso Alegre, no Sul de Minas, São João del-Rei, no Campo das Vertentes, e Uberaba, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. No entanto, a institucionalização dos Conservatórios foi realizada somente em 1961, com a entrada do governador José Magalhães Pinto, quando o Estado reiniciou os procedimentos de autorização para o funcionamento das escolas. A institucionalização nos moldes atuais ocorreu em 2011; no primeiro ano de existência já tinha 29.048 alunos em curso.

O objetivo central do visionário Kubitschek para os Conservatórios Estaduais de Música era a ampliação da formação de profissionais e apreciadores de música envolvendo compositores, cantores e instrumentistas, buscando ampliar a cultura do povo mineiro. Agora, 65 anos depois do pontapé inicial, as escolas são uma realidade e uma opção de formação profissional – a nível médio.

Os espaços trabalham por meio de audições, exercícios práticos e concertos, possibilitam que os estudantes participem de cursos como: 1) educação e sensibilização musical, abrangendo a formação inicial na área da música; 2) formação profissional a nível médio, com canto, técnica em instrumento; 3) cursos livres, com duração máxima de um ano letivo para atender as demandas específicas de capacitação de professores e requalificação de profissionais da música; 4) oficinas de curta duração, onde são trabalhados temas e assuntos relacionados à música ou à educação musical; 5) além de atividades em conjunto, visando o incremento da produção artística e cultural local dos Conservatórios, principalmente por meio da organização de grupos musicais para apresentações regionais.

As vagas disponíveis nos CEM’s são destinadas, em sua maioria, aos alunos matriculados ou egressos das escolas públicas de educação básica, com faixa etária entre 6 e 15 anos. Os jovens e adultos que apresentam nível de conhecimento e formação superior – em cursos técnicos ou superiores – na área da Música podem ser beneficiados em cursos livres de curta duração ou oficinas previstas nas programações de cada escola.

Os Conservatórios fundados desde a década de 50 estão localizados nas cidades de São João del-Rei (1953) – o primeiro conservatório do Estado -, Visconde do Rio Banco (1953), Juiz de Fora (1955), Pouso Alegre (1954), Leopoldina (1956), Montes Claros (1962), Ituiutaba (1967), Uberaba (1967), Uberlândia (1967), Diamantina (1970), mais um espaço em Uberlândia (1985), e Varginha (1985), contudo, é possível dizer que a música de Minas ecoa para muito além dos limites de nossa serras e montanhas, capaz de encantar e de inspirar novos talentos.

Veja a evolução das matrículas nos Conservatórios nos últimos quatro anos:



Os primeiros Conservatórios

Entre as primeiras escolas fundadas em Minas Gerais, na década de 50, está o Conservatório Padre José Maria Xavier, localizado na cidade de São João del-Rei, no Campo Das Vertentes. O espaço foi o primeiro a ser oficialmente institucionalizado, e em 1º de março de 1953 deu-se a instalação dos cursos e a aula inaugural. Em 1960, passou a funcionar no atual edifício, situado na Rua Padre José Maria Xavier, 164, no Centro da cidade.

Criado inicialmente para dar suporte às orquestras bicentenárias da cidade, a “Lira Sanjoanense” (1776) e a “Ribeiro Bastos” (1790), atualmente, além dar continuidade a este propósito, ampliou sua área de atuação, e agora abrange a formação de músicos para grupos diversos, como bandas, grupos de câmara, grupos de música popular e de música sacra, afirma a supervisora Cristina Moraes.

Segundo a aposentada Mariluse Ferreira de Andrade e Silva, 71 anos, o aprendizado em música é um complemento em sua formação tradicional como professora de filosofia. Ela estuda flauta transversal e teoria musical na escola. “Hoje vejo a música como um estudo que completa a formação humanista de qualquer pessoa. Como professora de filosofia ao longo da vida, percebo que a sensibilização que a música proporciona agrega na formação individual e, consequentemente, na social”, observa a aluna.

Para a pianista profissional, ex-aluna e atualmente professora de piano do Conservatório de São João del-Rei, Ananda Carolina Nicolau de Almeida, 34 anos, o estudo de música na rede pública do Estado definiu sua trajetória de vida. “Entrei no Conservatório aos sete anos de idade, fui alfabetizada em música ao mesmo tempo que na escola tradicional. Sou muito grata por ter estudado no Padre José Maria Xavier, onde descobri minha vocação. Hoje leciono na escola e posso enriquecer a vida de outros estudantes e futuros profissionais”, comemora Ananda.

O Conservatório participa ativamente dos eventos locais e regionais de São João del-Rei (UFSJ). Os grupos musicais participam de comemorações cívicas e religiosas em escolas e entidades públicas e privadas. Mantém parceria com a Universidade Federal de São João del-Rei, em diversos eventos. O Conservatório, com as diversas ações realizadas, pode ser considerado como uma das molas propulsoras da área cultural, educacional e do lazer da região.

Outro Conservatório Estadual de Música fundado – entre os seis primeiros – e uma das primeiras escolas oficialmente instituídas na década de 50 e 70, respectivamente, está o Conservatórios Lobo de Mesquita, localizado na cidade de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. Em funcionamento desde 1951 e oficialmente instituído em 1971, possui vários grupos musicais, como o “Ad Libitum”, o “Lukerê”, o coral “Eny Assumpção Baracho”, o coral infantil “Chochofrê”, a “Orquestra de Cordas Dedilhadas”, a “Orquestra Experimental”, e o “Grupo e Quarteto de Sax”.

Ao longo de toda sua história o Lobo de Mesquita esteve presente nos eventos culturais, religiosos, sociais e políticos de Diamantina e região, realizando projetos e ações como a “Cantata de Páscoa”, a “Apresentação da Família”, o “Concerto Lobo de Mesquita”, o concurso “Pequenos Cantores, Grandes Talentos”, o “LoboFest”, o “Concurso de Guitarra”, a “Semana Lobo de Mesquita”, o “Circuito de Corais”, o show “Missa dos Quilombos” e o “Recital de Natal”.

Sob direção de Vanessa Carballo Baracho Mota e dos vice-diretores Advânia Cardoso e Felipe Almeida, hoje, a escola atende a 1.630 alunos e conta com 48 professores, uma supervisora e 12 funcionários. Os cursos de bateria, cavaquinho, contrabaixo elétrico, flauta doce, flauta transversal, guitarra, percussão, piano, saxofone, teclado, trombone, trompete, violão, violino e violoncelo são oferecidos ao público.

De acordo com a diretora da escola, a importância dos Conservatórios está alinhada com o nascimento da proposta, elaborada pelo seu mentor, Kubistchek. “Os Conservatório são importantes para levar cultura à sociedade e impulsionar o desenvolvimento dos estudantes através de uma atividade lúdica”, afirma Vanessa.

Alunos do Conservatório Lia Salgado em apresentação em Leopoldina – Foto: Divulgação/Conservatórios

Avanço

No início de 2015, a Secretaria de Estado de Educação se reuniu com diretores e representantes de grupos de apoio aos Conservatórios. No encontro foram apresentadas demandas específicas de cada unidade de ensino no interior do Estado. A nova gestão da secretaria, realizada pela secretária de Educação, Macaé Evaristo, deliberou a criação de um grupo de trabalho com participação representativa dos Conservatórios para tratar de suas especificidades.

De acordo com a diretora de Projetos Especiais dos Conservatórios Estaduais de Música, Ivonice Maria da Rocha, o grupo de trabalho ainda está em fase definições. O grupo tomará, ainda neste semestre, decisões sobre quem serão os representantes e quais políticas educacionais serão implantadas nas escolas.

A diretora aponta boas perspectivas na atuação do grupo. “Temos uma expectativa muito positiva, os Conservatórios atuam no desenvolvimento cultural de Minas e do Brasil, mas não têm sua dimensão de atuação reconhecida. Com o conhecimento das necessidades de cada escola, o grupo de trabalho poderá avaliar os quesitos individuais para o avanço da formação e da produção artística e cultural das escolas”, afirma Ivonice.

“A arte é diferenciada no sentido do avanço social, e isso gera uma disposição integral de todos os agentes do governo de Minas Gerais para solucionar as possíveis lacunas no direcionamento das escolas para o avanço”, completa a diretora.

Mecanismos de fomento à música em Minas

O Governo de Minas Gerais também possui outros mecanismos para dar visibilidade à música mineira. O mais novo mecanismo de fomento à música se destina a compositores, intérpretes e instrumentistas, de diversos gêneros e tendências musicais, o “Música Minas – Programa de Estímulo à Música” – lançado em agosto de 2008 e difundido por meio de editais – tem como objetivo criar ações sustentáveis para que a música produzida em Minas Gerais encontre um lugar expressivo no mercado estadual, nacional e internacional.

O Fundo Estadual de Cultura e a Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais também disponibilizam recursos para projetos na área musical, anualmente, também por meio de editais.

O Estado investe, ainda, no projeto “Patrimônio Arquivístico-Musical Mineiro – PAMM”, – uma pesquisa que resgata e disponibiliza, por meio de cerca de 15 acervos mineiros, destinados a Conservatórios e escolas de música, o ritmo Barroco de Minas tocado nas igrejas e saraus.

O Governo de Minas Gerais fomenta, ainda, duas orquestras: a Sinfônica e a Filarmônica de Minas Gerais. (Agência Minas)

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