Policiais invadem estúdio da Itatiaia e prendem marido de vereadora durante entrevista

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Apresentador foi interrompido ao vivo e se revoltou com ação. Corregedoria investiga invasão.

Dois policiais civis invadiram o estúdio principal da Rádio Itatiaia, no início da tarde desta terça-feira, para prender Armando Júnior Pereira da Cruz, que concedia entrevista ao jornalista Eduardo Costa no programa Chamada Geral. O entrevistado é marido de Flávia Renata Oliveira Silva Cruz, vereadora de Confins que já tinha sido detida na operação Lavagem III da Polícia Civil.

Durante o intervalo do programa, Armando Cruz, que ainda não tem o envolvimento confirmado no caso, foi revistado e preso logo em seguida. Os policiais não apresentaram mandado e efetuaram a prisão após receberem autorização do delegado responsável pelo caso, Jonas Tomazi.

“Quero comunicar aos senhores que, neste momento, dois policiais civis estão no estúdio da Rádio Itatiaia para prender o Armando, marido da vereadora de Confins. Até aqui, respeitosamente, estou resistindo e dizendo a eles que não acho crível, lógico, correto que invadam o estúdio da maior emissora de Minas para fazer uma prisão”, denunciou, ao vivo, o apresentador Eduardo Costa.

A investigação é uma sequência das operações Lavagem I e II, que tinha, a princípio, o objetivo de apurar o envolvimento do presidente da Câmara Municipal de Confins, o vereador Aladir José Pessoa de Souza, e de outros três suspeitos de fraudarem licitações. A terceira fase da ação tenta desarticular uma organização criminosa envolvida em esquema de fraude, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e corrupção que atuaria em Santa Luzia, Vespasiano, Sete Lagoas, Confins e Belo Horizonte.

O porteiro da Itatiaia, Marcelo Camargo, afirmou que os policiais não apresentaram mandado de prisão e contou o que aconteceu desde quando os civis chegaram na rádio até a invasão do estúdio. “O rapaz se identificou como policial civil do lado externo da roleta. Perguntei do que se tratava. Eles falaram que vieram buscar um rapaz que estava dando entrevista e que tinha um mandado de prisão em aberto. Eu falei que tinha que chamar minha chefia, que estava almoçando. O rapaz já entrou por um lado [da roleta] e eu falei ‘não pode subir não.’ Eles já estavam meio alterados com a situação”, explicou.

“Perguntaram como fazia para entrar no estúdio. Eles foram e eu fui atrás deles. Cheguei na porta do estúdio e chamei a Natália [Quaresma, produtora do Chamada Geral]. Eles se identificaram para ela como policiais e nesse meio tempo eu desci. Não sei mais o que aconteceu”, acrescentou.

A produtora do programa Chamada Geral, Natália Quaresma, se assustou com a ação dos policiais. “Entraram com muita truculência sem apresentar mandado de prisão. Eles entraram no estúdio me empurrando”, contou.

O diretor-presidente da Rádio Itatiaia, Emanuel Carneiro, reclamou da postura dos policiais e relatou que é a primeira vez na carreira que ele viu esse tipo de ação. “A falta de respeito ao profissional de imprensa está muito acentuada. Esse episódio é pontual porque nós nunca tínhamos assistido a uma invasão de um estúdio por policiais armados para tirar um entrevistado no momento em que ele estava presente em um programa que terminaria dentro de cinco minutos. O apresentador Eduardo Costa pediu um pouquinho de paciência e não foi respeitado”, criticou.

“Não vou entrar no mérito se o convidado é do bem ou do mal, mas ele foi retirado algemado da Rádio Itatiaia. Uma jornalista da Itatiaia foi empurrada. Um espetáculo muito ruim. Mas ficamos felizes pela solidariedade dos dois sindicatos, radialistas e jornalistas, e também da pronta presença da Corregedoria da Polícia Civil, que prometeu uma apuração urgente e muito forte sobre esse acontecimento. Faz parte da nossa profissão, faz, enfrentar de vez em quando esse tipo de problema, mas não da forma que aconteceu hoje aqui no prédio da Rádio Itatiaia”, completou.

Corregedoria vai investigar invasão

O subcorregedor da Polícia Civil, Antônio Gamanjura, garantiu que toda a ação dos policiais será apurada. “A Corregedoria vai instaurar o procedimento para a apuração das circunstâncias. Os policiais compareceram aqui na Rádio Itatiaia para o cumprimento do mandado da pessoa que estava sendo entrevistada. Vamos pedir a cópia das imagens (do circuito interno), a partir da chegada dos policiais”, avisou.

Em nota, a Polícia Civil explicou que “a Corregedoria Geral já iniciou apuração capaz de esclarecer as circunstâncias em que dois policiais civis cumpriram um mandado de prisão nas dependências da Rádio Itatiaia”. O comunicado também informa que o corregedor-geral adjunto, delegado Antônio Gama, “já esteve na emissora, onde recolheu imagens de vídeo que registram a ação e levantou informações para elaboração do relatório preliminar capaz de subsidiar o procedimento investigativo”. Na nota, a Polícia Civil “reafirma que rejeita quaisquer práticas que atinjam a liberdade de imprensa, atributo que caracteriza a reconhecida independência dos veículos de comunicação do nosso País”.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG repudiou a invasão. “O Sindicato se solidariza aos jornalistas atingidos pela violência policial e protesta contra a forma truculenta como a prisão foi feita, atingindo frontalmente a liberdade de imprensa (…). A ação caracterizou-se por irregularidades que demonstram descontrole existente na polícia mineira. Os policiais deveriam, de início, ter exibido o mandado de prisão, poderiam ter aguardado o fim da entrevista e efetuado a prisão na porta de entrada da emissora. É também inadmissível a insinuação feita pelos policiais de que o entrevistado preso fosse “protegido da Itatiaia”.

Armando Júnior Pereira da Cruz é investigado por participação em fraudes em licitações em Confins. Ele teria coagido testemunhas do processo, que também investiga lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e falsidade ideológica. Ele é marido da vereadora Flávia Renata Oliveira e, por sua vez, acusou o delegado de perseguição durante a entrevista.

(Fonte: Rádio Itatiaia)

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