Mãe de Jean Charles passa mal ao saber de informações falsas na Wikipédia

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Governo divulgou no Wikipédia que brasileiro, morto há 9 anos pela polícia no metrô de Londres, vivia ilegalmente na Inglaterra e que seria usuário de drogas

A revelação feita pela imprensa inglesa sobre alteração de informações, que teria sido feita em 2006 e 2008 a partir de computador do governo britânico na página da Wikipédia sobre Jean Charles de Menezes, deixou revoltada a família do mineiro morto no metrô de Londres há nove anos. Entre as mudanças, estariam as acusações de que o eletricista vivia ilegalmente na Inglaterra e que seria usuário de drogas. E ainda que críticas à investigação teriam sido retiradas “Eles se esquecem que outras vidas merecem continuar vivendo. E isso mata a gente. Mesmo depois da tragédia com o Jean, continuamos morrendo mais um pouquinho, a cada dia, toda vez que sai uma notícia falsa”, disse o aposentado Orlando Menezes de Figueiredo, de 68 anos, tio do brasileiro.

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Jean Charles foi morto aos 27 anos pela polícia britânica ao ser confundido com um terrorista em 22 de julho de 2005. Duas semanas depois dos atentados contra o transporte público londrino, que deixaram 52 mortos e mais de 700 feridos, outros extremistas tentaram repetir a matança, o que levou à morte de Jean Charles por engano, quando ele entrava no metrô e foi confundido com um dos autores do ataque fracassado.

Segundo a imprensa inglesa, um porta-voz da campanha “Justiça para Jean” afirmou ontem que uma seção que criticava a comissão independente de denúncias, que acompanha o caso e investigou a morte, teria sido suprimida da página por um editor anônimo, que teria feito as mudanças a partir de um computador do governo britânico, em 2006 e 2008.

“O governo leva muito a sério estes casos”, afirmou um porta-voz do Executivo ao Channel 4 News, que divulgou a suposta alteração na Wikipédia, em resposta às acusações. “Recentemente, recordamos aos funcionários suas responsabilidades sob o Código do Serviço Civil e nos ocuparemos de qualquer infração do código”.

Maria de Menezes (ao lado marido, Matozinhos) precisou de atendimento médico ao saber da notícia – Foto: Carlos Eller/Jornal Estado de Minas

Tristeza que não acaba

Em Gonzaga, no Vale do Rio Doce, a 306 quilômetros de Belo Horizonte, onde vive a família de Jean, um primo disse que os pais do eletricista sofrem a cada notícia falsa divulgada. Nessa quinta-feira, a mãe do eletricista, Maria Otoni de Menezes, de 71, que mora na zona rural, precisou ser atendida no centro de saúde do município. Parentes que vivem em São Paulo também estão indignados. “Não é porque Jean era meu sobrinho, mas ele era um menino bacana”, disse Orlando.

Dois meses antes de ser morto, Jean ficou hospedado na casa dele quando retornava a Londres, depois de visitar os pais no interior de Minas. “Eu estava com ele no supermercado e ele me disse que Londres era um lugar abençoado, que recebia muito bem os brasileiros. Falou de um atentado no trem e fiquei assustado. Falei com ele: ‘filho, larga tudo isso e volta para o Brasil. Aqui, a gente ganha pouco, mas vive bem na terra que a gente conhece’. Ele disse que pretendia ficar por lá por mais um ano e meio para terminar o curso de eletricista, que era sua profissão, e que queria se especializar”, comentou o tio.

Orlando conta que Jean não só apenas ajudava sua família financeiramente, mas todos que o procuravam. “Ele até chorava”, disse. Um irmão de Jean, que era funcionário de um banco em São Paulo, segundo o tio, “se perdeu na escuridão” e voltou para Gonzaga depois do crime. “Ele perdeu tudo, até a família. Não é mais aquele camarada que a gente conhecia sorridente, alegre, bacana. O pai dele, nem se fala, a mãe, todos ficaram atrapalhados depois da morte do Jean”, afirmou o tio. A avó de Jean, que vive em Gonzaga, e que tinha o neto bem mais do que um filho, segundo Orlando, quase morreu depois do crime.

(Estado de Minas / AFP)

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