Conhecer mais para perder menos. Esse é o desafio do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) no acompanhamento da seca no semiárido brasileiro, uma área que abrange 11 estados na qual vivem 22 milhões de pessoas. O esforço é para ampliar o conhecimento científico e minimizar os impactos da seca, classificada como o terceiro desastre natural em ocorrência no Brasil, ficando atrás das inundações e dos deslizamentos.
Para isso, o Cemaden, que é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, deve concluir nos próximos meses o Sistema de Previsão de Riscos de Colapso de Safras no Semiárido Brasileiro, um conjunto de ações que envolvem modernas plataformas de coleta de dados agrometeorológicos.
“O Nordeste tem a singularidade das plantações dos pequenos produtores. Ele pode até vender parte da produção nas feiras dos pequenos centros urbanos, mas as plantações são, principalmente, voltadas para as famílias”, explica a diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá.
Ela lembra que, para esses produtores, a ciência e a tecnologia podem fazer a diferença para reduzir as perdas econômicas provocadas pela estiagem. Em 2012, por exemplo, o Nordeste teve a pior seca dos últimos 30 anos, que provocou a perda de quatro milhões de animais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Monitoramento
O acompanhamento agroclimático do semiárido é feito pelos pesquisadores do Cemaden desde 2014. A instalação de 650 equipamentos permitiu a formação de uma rede de monitoramento. São 550 plataformas para medir a quantidade de chuva e de água no solo a uma profundidade de até 20 centímetros. Mais 100 estações agrometeorológicas coletam dados sobre radiação solar, temperatura e umidade do solo.
Todas essas variáveis são importantes para melhorar a produtividade das lavouras. Com esses equipamentos, os pesquisadores conseguem refinar as previsões para minimizar o risco de quebra de safra.
Inicialmente, os pesquisadores acompanhavam as culturas de milho, arroz, sorgo, feijão e mandioca, mas o trabalho está sendo ampliado para as plantações de café, batata, frutas e hortaliças.
AgriSupport
O sistema de previsão também conta com a participação dos próprios agricultores. Por meio de um aplicativo para celular, desenvolvido em parceria com o International Institute for Applied Systems Analysis (Iiasa), da Áustria, os produtores podem enviar informações sobre o plantio das culturas diretamente para o Cemaden. A versão final do AgriSupport será lançada em breve, e uma parceria com instituições estaduais deve ampliar o alcance do produto.
“A ideia é fazer um acompanhamento mais próximo ao agricultor. Além dos dados de precipitações, queremos saber as condições de onde ele está instalado. Se ele tem acesso à água por meio de poços ou açudes, por exemplo, se tem acesso à irrigação e o panorama das áreas de pastagem. Queremos saber onde está a seca e quem está sendo mais impactado por ela”, detalha Ana Paula Cunha.
Previsão
O mais recente Relatório da Seca no Semiárido Brasileiro e Impactos, que o Cemaden produz mensalmente, indica o agravamento da seca com alto risco para cerca de 90 municípios da região. Segundo o documento, divulgado na última terça-feira (6), as chuvas de setembro a novembro devem se tornar mais escassas na Zona da Mata de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Há poucas chances de reversão do quadro crítico nos municípios afetados pela seca.
De acordo com o Cemaden, o período chuvoso, entre abril e julho, apresentou um déficit pluviométrico, agravado no mês de agosto, com acumulados de chuva inferiores a 60 milímetros nos municípios da maior parte do Nordeste.
Segundo a pesquisadora Ana Paula Cunha, o ano hidrológico no semiárido começa agora, entre os meses de outubro e novembro. “A expectativa é saber se o volume de chuvas vai ser baixo novamente. O que nós buscamos levantar é quanto de chuva é preciso para recuperar o bioma e as áreas de pastagens.”
(Fonte: Portal Brasil)