A operação Carcinoma, que investiga um grande esquema criminoso instalado na administração da Associação de Assistência às Pessoas com Câncer (Aapec), com sede nos municípios mineiros de Ipatinga, Governador Valadares, Viçosa e Sete Lagoas, iniciou, na terça-feira, 16 de agosto, sua segunda fase.
No final da tarde, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), formado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e pelas Polícias Civil e Militar, cumpriu mais três mandados de prisão nos municípios de Ipatinga e Governador Valadares, no leste de Minas. Foram detidos: a cunhada do casal de administradores da associação, a gerente de uma das empresas envolvidas no esquema criminoso e o contador da Aapec.
A primeira fase da operação foi deflagrada em 9 de agosto e resultou na prisão de oito pessoas e no cumprimento de 22 mandados de busca e apreensão. Na casa dos investigados, foram apreendidos mais de R$ 38 mil, cinco carros de luxo, duas motos esportivas e outros veículos comuns.
O Procedimento Investigatório Criminal instaurado pelo MPMG apura a prática de apropriação indébita, estelionato, associação criminosa, organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato, crime contra a economia popular e delitos tributários, sob a modalidade de obtenção de ganhos ilícitos em detrimento do povo.
Até o momento, as investigações indicam que o rombo gerado pelos delitos supere a marca de R$ 1 milhão.
R$ 38 mil, cinco carros e duas motos esportivas foram apreendidos (Foto: Divulgação)
Abrangência
Segundo os promotores de Justiça do Gaeco Ipatinga, Francisco Ângelo Silva Assis e Bruno Schiavo Cruz, a rede criminosa atuava em mais de cem municípios mineiros e envolvia mais de 17 empresas. A associação, criada em 2003, teria fugido, desde o princípio, de seus objetivos estatutários.
“Os representados usavam o associativismo e a finalidade de assistência a doentes acometidos de câncer e com vulnerabilidade econômica para captação de recursos públicos e privados, que eram revertidos em favor de empresas dos administradores, com assistência de um advogado, que fornecia a suposta blindagem jurídica para a prática dos crimes”, explicam os promotores.
De acordo com as investigações, dos quatro polos da associação no estado irradiavam inúmeras rotas para recolhimento de doações, que eram captadas por meio de empresas de telemarketing e de motoqueiros, de propriedade dos administradores da entidade. A Aapec também possuía convênio com o município.
De acordo com os representantes do MPMG, o dinheiro chegava em espécie de diversas cidades mineiras e, antes que fosse contabilizado, os administradores se apoderavam dele para pagamento de despesas pessoais, como viagens, alimentação, personal trainer, festas, seguro, água, luz, cartão de crédito, entre outras. Apurou-se, ainda, que os administradores criaram um esquema para conseguir notas frias de combustível. Usadas para fazer a cobertura de caixa, elas não correspondiam aos reais gastos da associação com gasolina.
“O que se vê na criação da Aapec, desde seu início, foi a perpetuação de poder, com estabelecimento de cargo vitalício para presidente, criando uma fonte eterna de renda para uma família que, no proveito da desgraça alheia, viu a oportunidade para se manter na riqueza”, afirmam os promotores de Justiça.
Depoimentos colhidos demonstram que o grupo era ligado por parentesco sanguíneo e por afinidade, de modo a manter a organização em funcionamento, com laços de comprometimento e silêncio.
Administrador judicial
A fim de resgatar o objetivo assistencial da associação, um administrador judicial foi nomeado, em Ipatinga, nesta terça-feira. Ele ficará responsável por aplicar devidamente o montante de dinheiro bloqueado e apreendido durante a operação.
“Vamos analisar, junto a ele, de que forma o MPMG poderá contribuir nesse processo e traçar os próximos passos. Fatos como esse acabam gerando um descrédito grande para muitas outras entidades que fazem um serviço assistencial de verdade. Por isso, é importante que elas ajam sempre com o máximo de transparência, para continuarem a receber doações”, orientou Francisco Ângelo.
(Fonte: MPMG)