O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União divulgaram, na manhã desta terça-feira, 9 de agosto, novas informações sobre a qualidade da água em Governador Valadares.
Com base em dados coletados em julho, a Central de Apoio Técnico (Ceat) do MPMG concluiu que a água distribuída pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) do município não atende os padrões de potabilidade, apresentando concentrações de alumínio superiores aos limites estabelecidos na saída das Estações de Tratamento de Água (ETAs) Central, Vila Isa e Santa Rita e em quase todos os pontos da rede de distribuição onde foram coletadas amostras.
O laudo destaca que, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, foi verificado que os níveis de alumínio estavam muito elevados na captação do rio Doce. “Considerando que os rejeitos das barragens apresentam em sua composição elevadas concentrações deste metal, é bem possível que o alumínio tenha sido transportado ao longo do rio Doce, ocasionando alterações na composição química em diversos trechos deste curso d’água, conforme a direção dos ventos, os índices pluviométricos e a vazão do rio”. Além disso, o laudo aponta a substituição do coagulante polímero de acácia negra pelo sulfato de alumínio como outro motivo para a elevação dos níveis do metal na água.
De acordo com o documento, não há dúvida acerca dos efeitos crônicos à saúde humana causados pela ingestão constante de alumínio. “Em um dos trabalhos científicos mais completos sobre o tema, foi constatado que, a partir de valores superiores ou iguais a 0,1 mg/L de alumínio na água produzida para abastecimento público, o risco de demência e declínio cognitivo aumenta. Ademais, inúmeros estudos demonstram que a presença do alumínio na água, em concentrações superiores ao padrão de potabilidade, pode contribuir para o aparecimento de algumas doenças no organismo humano, tais como a osteoporose e doenças neurológicas e alterações neurocomportamentais, incluindo a encefalopatia, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson, demência dialítica e mal de Alzheimer”.
Em razão dessas evidências científicas, o laudo afirma ser imprescindível que o Saae adote as medidas necessárias para a adequação do parâmetro, tanto na saída das ETAs quanto na rede de distribuição. O laudo recomenda ainda que sejam constantemente monitorados os parâmetros alumínio, manganês, ferro, cor aparente, turbidez, pH, sólidos dissolvidos totais, Escherichia coli, coliformes totais e cloro residual livre, na saída das ETAs de Governador Valadares e em pontos estratégicos de toda a rede de distribuição do município.
Participaram da reunião os promotores de Justiça Evandro Ventura da Silva e Leonardo Diniz Faria; o procurador da República Bruno Costa Magalhães; e os defensores públicos da União Francisco Moreira Salles e Hendrikus Simões Garcia.
Análises dos dados:
Laudo técnico da Ceat/MPMG:
Parecer técnico da Ceat/MPMG:
Nota do SAAE
O SAAE explicou, por meio de nota que “monitora constantemente a água distribuída à população com análises diárias feitas no seu próprio laboratório e por análises feitas em laboratórios credenciados pelo Inmetro. No dia em que foram coletadas as amostras para a análise apresentada pelo Ministério Público (5 de julho), nos registros do SAAE, o índice de alumínio era de 0,081, dentro do parâmetro aceitável que é de 0,2. Na mesma época, foi feita análise completa da água em laboratório de fora, cujo resultado está sendo aguardado e será apresentado, assim como o resultado de outras análises em laboratórios diferentes credenciados pelo Inmetro.”
Nota da Samarco
“A Samarco esclarece que no dia 5 de julho último, conforme proposto pelo Ministério Público de Minas Gerais , acompanhou a coleta de amostras de água tratada nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) São Vitor, Santa Rita, Recanto dos Sonhos, Vila Isa e Central de Governador Valadares no período da tarde.
Nessa ocasião foram colhidas, por parte de representantes da Samarco e do Ministério Público, amostras da água do Rio Doce tratada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). As amostras colhidas pela Samarco foram analisadas pelos laboratórios Bioagri e Tommasi, ambos acreditados pelo Inmetro. Os resultados comprovam que não há alterações nos parâmetros de alumínio ou metais pesados. Tais análises estão à disposição das autoridades.
A Samarco ainda não foi notificada a respeito dos resultados das amostras colhidas pelo Ministério Público. De todo modo, a empresa realiza o monitoramento constante da qualidade da água em 92 pontos ao longo de todo o Rio Doce e foz. Na região de Governador Valadares laudos recentes comprovam que o parâmetro químico alumínio está dentro dos limites estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e dentro do histórico do rio no que diz respeito à água bruta. Em relação à água tratada, laudos comprovam que todos os parâmetros estão em conformidade com a portaria 2914, do Ministério da Saúde.”
(Fonte: MPMG)