Um ingrediente muito presente na culinária amazônica e indígena, o tucupi, poderá chegar à mesa dos consumidores de uma forma diferente. Pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifam), no Amazonas, trabalham no projeto Tucupi de Prateleira. A finalidade é enaltecer o produto regional, promover o envasamento dentro dos padrões dos órgãos de segurança alimentar e ainda aumentar a produtividade. A iniciativa é desenvolvida em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O tucupi é uma espécie de molho feito a partir da extração do sumo da mandioca brava. Também conhecida como macaxeira ou aipim, a mandioca é descascada, ralada e prensada. A parte sólida é usada na produção de farinha, e o líquido de cor amarela é fervido por várias horas para extrair o veneno presente na planta. Depois desse processo, o tucupi já pode ser consumido e compor algum prato, como o pato no tucupi, típico da região.
Atualmente o produto é vendido em garrafas PET reaproveitadas. Segundo a estudante de tecnologia em processos químicos do Ifam e responsável pela pesquisa, Suane Costa, os produtores vendem o tucupi para os comerciantes que fazem o processo de tempero e embalagem. Com o projeto, o tucupi será comercializado em uma embalagem tipo saco plástico, com rótulo e especificações técnicas do produto.
“Hoje o tucupi, na forma como ele é comercializado, tem prazo de validade médio de 15 dias. Com a técnica que vamos aplicar, esse prazo sobe para três a seis meses. Não vamos interferir totalmente na cadeia, mas, vamos padronizar [o processo de extração] com a máquina prensa que está sendo desenvolvida que será disponibilizada ao produtor em sistema de Comodata [empréstimo gratuito]”, explicou Suane. A expectativa é que o tucupi em nova embalagem já esteja disponível no mercado amazonense até dezembro deste ano.
Tucupi embalado em saco plástico, pronto para distribuição – Foto: Lana Santos/Fapeam
Prensa
De acordo com o coordenador de Culturas Industriais da Secretaria de Produção Rural do estado (Sepror), Alexandre Araújo, essa máquina de prensa, que vai ser emprestada aos produtores, vai substituir o tradicional tipiti (tecido em que se espreme a mandioca). Com isso, haverá maior aproveitamento da matéria-prima. “Vai também incentivar que os produtores passem a trabalhar mais com o próprio tucupi. O que acontece hoje é que o maior produto trabalhado como derivado da mandioca é a farinha, depois a goma. O tucupi geralmente é jogado fora sem cuidados ao meio ambiente. No momento em que você valoriza esse produto, ele passará a ser mais produzido e mais comercializado.”
O novo processo deve diminuir o custo de produção e, consequentemente, o tucupi deverá ser repassado aos comerciantes com um valor mais baixo.
Seu Jorge do Tucupi, como prefere ser chamado, trabalha com o produto há mais de 30 anos e demonstra interesse em comercializá-lo na nova embalagem. “Se vier assim, embalado e com preço menor, talvez seja melhor. Talvez a gente tenha menos despesa. Tem muita despesa para levar, trazer, comprar embalagem, rótulo”, disse o comerciante.
Lidiane Gomes vende tucupi há dois anos na Feira Manaus Moderna. Ela considera vantajosa a industrialização. “Fica bem higiênico, mais bem conservado. Pelo menos do ponto de vista da gente que trabalha com a venda, ficaria ótimo”, avalia a vendedora.
Exportação
A pesquisadora acredita que, com um prazo maior de validade, o tucupi possa ser exportado para outros estados, como o Pará, que é um grande consumidor. Segundo ela, um manual de boas práticas do processo produtivo será elaborado em parceria com os produtores de farinha e tucupi, levando em consideração a realidade local.
“O projeto está em fase de implantação da empresa que vai gerenciar todo o processo. Estamos captando recursos e também, em paralelo, estamos ainda em processo de mapeamento dos produtores, confecção de manuais, visita a fornecedores e pretensos fornecedores”, explicou Suane. (Agência Brasil)