E a lama continua o seu caminho em direção ao mar. A ultima informação, não necessariamente verdadeira, é que ela chegou ao litoral baiano, na região de Abrolhos. O que nós podemos afirmar com certeza, é que a lama continua se deslocando da região do desastre seguindo seu curso, natural na bacia do Rio Doce: Rio Gualaxo, rio do Carmo, rio Doce e finalmente o mar. Ainda há muito material depositado na região de Mariana que continuará o seu percurso com as chuvas. O rio Doce contínua com um elevado índice de particulados em suspensão na água, deixando-o com aspecto barrento; muito barrento, comprometendo a qualidade das águas para a vida dos peixes, das plantas aquáticas e o abastecimento humano. Mesmo com as novas tecnologias de tratamento da água para abastecimento público, muitos cidadãos de várias cidades, principalmente a maior da bacia, Governador Valadares, estão com medo de consumi-la, mesmo com os diversos laudos oficiais atestando a qualidade da água tratada. Será que podemos culpa-los? E a Samarco? Ações voltadas para as questões sociais como as ajudas de custo aos moradores que perderam tudo na tragédia na região, reassentamentos, ajuda de custo aos pescadores, dentre outras ações sociais estão sendo realizadas, mas e as questões ambientais? Por quanto tempo mais as partículas rejeitadas pela mineração continuarão a descer o Rio Doce? Teremos que nos acostumar com esta nova realidade, ou seja, que o Rio Doce agora tem a cor barrenta em definitivo?
A Samarco deve iniciar imediatamente a estabilização dos rejeitos naquela região onde encontramos a sua maior deposição. O material é totalmente instável, adensado e suas partículas sem qualquer tipo de agregação. Qualquer chuva na região da tragédia em Mariana terá o movimento das suas águas pela superfície devido a dificuldade de infiltração da água, levando toneladas de partículas soltas, principalmente as mais finas, para os rios e para o mar. É preciso apostar nas plantas. Apesar das características totalmente adversas deste resíduo, as plantas e suas raízes são o único caminho para a busca do reequilíbrio ambiental na região, tornando estas partículas de rejeitos em solos verdadeiros, evitando o seu deslocamento para os rios e o comprometimento da bacia. Temos tecnologia para isto. Sabemos como manejar as plantas para que agreguem estas partículas soltas evitando que as águas das chuvas as levem. Não podemos pensar em recuperar o litoral capixaba sem recuperar a raiz do problema, na região da barragem. A partir desta ação inicial poderemos pensar em como retirar estes milhões de toneladas de material de rejeito que estão depositados no fundo dos rios e nas represas das hidrelétricas.
Dois meses se passaram e percebo que faltam ações em relação às questões ambientais. A empresa está demorando a agir, por que será? Até quando vamos observar os rejeitos da mineração cruzar mais de 700 quilômetros de rios, se espalhar pelo mar e comprometer os nossos biomas?
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br