Estudo patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), feito em parceria entre pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Inglaterra, alerta que, por causa do aquecimento global e de fenômenos climáticos, o nível do mar na cidade paulista de Santos poderá se elevar até 30 centímetros até 2050, trazendo tanto impactos ambientais quanto econômicos.
O estudo faz parte de um acordo de cooperação com o Belmont Forum, grupo formado pelas principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo. Seus resultados foram apresentados às autoridades e à população de Santos no dia 30 de setembro.
Segundo o chefe de pesquisas do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, José Marengo, que coordena o projeto no Brasil, esta é a primeira etapa do projeto, e a segunda fase será divulgada no dia 1º de dezembro, com a apresentação de propostas de ações de adaptação para minimizar os efeitos da elevação do mar. “Vamos mostrar à população e ao governo que as perdas econômicas são muito menores quando existem medidas de adaptação”, disse Marengo.
A mesma metodologia foi aplicada para fazer projeções de aumento do nível do mar e inundações nas cidades de Broward, na Flórida, Estados Unidos, e em Selsey, na Inglaterra. O modelo é alimentado por informações das prefeituras locais, como topografia, destinação das propriedades, Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). De acordo com o estudo, o prejuízo econômico no município de Santos pode atingir R$ 600 milhões até 2100. Marengo disse que, em Broward, a perda é estimada em torno de US$ 1 bilhão no mesmo período.
Ele antecipou que uma das sugestões, do ponto de vista da engenharia, é reforçar muros com a colocação de comportas em algumas áreas do litoral santista. Na parte ambiental, as propostas incluem a recuperação dos manguezais e o engordamento das praias com a colocação de mais areia.
Marengo espera que, no segundo semestre do ano que vem, o estudo já possa abranger outras áreas do litoral brasileiro, como as cidades do Rio de Janeiro, de Fortaleza e do Recife, mas alertou que tudo vai depender das informações que as prefeituras fornecerem. “Se queremos aplicar em outras áreas costeiras, precisamos que os dados estejam ordenados.”
Para o presidente do conselho da organização não governamental (ONG) Associação MarBrasil, Ariel Scheffer, que atua na conservação de ecossistemas marinhos no Brasil, cada região costeira brasileira deve ter estudos próprios sobre a elevação do nível do mar porque, devido às dinâmicas oceanográfica e climática, haverá projeções diferenciadas de crescimento.
Ele ressaltou que as consequências da elevação do mar são graves para a biodiversidade brasileira. “Qualquer aumento causa um impacto muito grande.” Como biólogo, Scheffer disse que a preocupação é com a supressão de habitats e a perda de biodiversidade e de alguns serviços ecossistêmicos, como a pesca. Outra preocupação é a perda de patrimônio. A supressão de manguezais e restingas, por exemplo, pode gerar perdas materiais importantes, afirmou.
Marengo confirmou que, além dos impactos referentes à infraestrutura física, isto é, aos prédios da orla, o aumento do nível do mar pode gerar inundações das áreas litorâneas. As ressacas podem acabar com a praia, devido à erosão, e há possibilidade de a água entrar nos prédios. Daí a necessidade de se instalar sistemas de comportas e proteção na estrutura física.
Pode ocorrer também impacto de ventos mais fortes que levem as ondas do mar mais para dentro e também a possibilidade de chuvas mais intensas. “Esse é todo um cenário que acompanha a elevação do nível do mar. O que se espera é que, nas próximas décadas, isso comece a aparecer, podendo, em 2100, passar de um metro [a alta do nível do mar]”, alertou Marengo. (Agência Brasil)