A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (FICCO-MG) desarticulou, nesta quarta-feira (26/8), uma organização criminosa especializada em estelionatos com atuação em todo o território nacional. Até às 18h desta quarta, 39 pessoas já haviam sido presas em oito cidades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro durante a Operação Pecus. A FICCO é composta pela Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS).
O grupo criminoso movimentou pelo menos R$ 10 milhões de mais de 100 vítimas identificadas pela investigação. A organização fazia as abordagens por meio do envio de falsas notificações judiciais que noticiavam supostos créditos oriundos de previdência complementar, com as quais as vítimas haviam contribuído no passado. Para a liberação do dinheiro então prometido, o grupo exigia a antecipação de valores a título de impostos e custas processuais. Dessa forma, os abordados depositavam elevadas quantias em contas repassadas pelos criminosos e, então, se davam conta que os créditos a que teriam direito eram fictícios.
Além das 39 prisões, foram apreendidos R$ 250 mil em espécie com os criminosos, três carros de luxo e duas armas. Um menor também foi apreendido porque portava armas de fogo e entregue à Polícia Civil de São Paulo. Já que não tinha relação com a investigação. Bens dos investigados, como imóveis, carros e contas de banco, também tiveram pedido de bloqueio.
De acordo com o delegado da Polícia Federal, Flávio Albergaria, um dos responsáveis pela investigação, a maioria das vítimas eram aposentados e pensionistas, profissionais e ex-profissionais do Ministério Público, Poder Judiciário e das polícias. Pessoas que, em algum momento, chegaram a pagar previdência complementar e, que por algum motivo, perderam o investimento.
“Os criminosos simulavam um depósito fictício na conta das vítimas e pediam o adiantamento de 10% do valor, que seria recebido para custas processuais. Quando as pessoas faziam o investimento, o crédito do dinheiro que seria recebido era estornado, uma vez que os depósitos eram feitos com cheques roubados, por exemplo,” explicou Albergaria.
Ainda segundo o delegado, algumas pessoas chegaram a cair no golpe mais de uma vez. “Há casos de pessoas que perderam R$ 800 mil, R$ 1 milhão. Os criminosos criavam uma dependência psicológica nas vítimas, fazendo-as acreditar em outras histórias. Há casos em que ameaçavam as pessoas, falando que tinham os dados pessoais delas e de suas famílias e que elas teriam consequências em qualquer comunicação com a polícia.”
O delegado da Polícia Civil, Daniel Araújo, também responsável pela investigação, explica que o grupo chegou a enviar 2 mil cartas por semana para ludibriar as vítimas do golpe de estelionato.
“Montaram uma espécie de call center, faziam várias ligações por dia”, acrescenta. Segundo o delegado, o perfil da organização criminosa é familiar. Ou seja, trabalhavam juntos pais, mães e filhos.
Objetos apreendidos na Operação Pecus – Foto: Gil Leonardi/Imprensa MG
Operação
Duzentos e cinquenta policiais civis e federais de Minas Gerais foram empenhados para cumprimento dos 50 mandados de prisão e 36 de busca e apreensão nos dois estados. Outros 50 policiais militares, civis e agentes penitenciários deram suporte nos procedimentos de prisão e escolta dos presos, durante a chegada da organização criminosa em Belo Horizonte.
Até às 18h desta quarta, todos os presos já haviam sido transportados da Base Aérea de São Paulo, que deu apoio à operação, para o hangar da Polícia Civil em Belo Horizonte. Eles passam por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte e serão encaminhados para as unidades prisionais de São Joaquim de Bicas I e II, Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Centro Sul e Presídio Feminino José Abranches Gonçalves.
Os presos foram encaminhados para Belo Horizonte em razão do Inquérito Policial em trâmite na comarca do município. Eles responderão pelos crimes de organização criminosa e estelionato, cujas penas somadas podem chegar a 13 anos de prisão.
A operação da FICCO desta quarta-feira foi chamada de Pecus em referência a palavra do latim que significa pecúlio – nome dado às economias de uma pessoa que, por meio de alguma armação, poderiam ser entregues a outros. (Agência Minas)