A morte de pacientes em um acidente na BR-367, no Vale do Jequitinhonha, envolvendo um ônibus de turismo e um micro-ônibus que transportava moradores de Araçuaí para tratamento médico em Diamantina, voltam a chamar a atenção para o risco a que milhares de mineiros se submetem todos os dias ao cruzar o estado em busca de saúde. A batida, que feriu mais de 20 pessoas na zona rural de Carbonita, é a segunda em menos de uma semana com veículos de transporte de pacientes. No dia 13, um micro-ônibus com moradores de Corinto capotou na BR-040 e deixou 10 feridos em Esmeraldas, na Grande BH.
Os casos deste ano não são isolados. Pelo menos 25 pessoas morreram em viagens do tipo desde 2013 – houve 85 feridos. Pacientes, auxiliares de enfermagem e motoristas que pegam estrada constantemente revelam que o sentimento é de medo em boa parte das viagens. “Não basta dirigir para si. O que mais preocupa quando a gente está no volante é o comportamento dos outros motoristas. Tem muita imprudência na estrada”, conta Alexandro José Braga, que dirige uma das ambulâncias do município de Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas, a 211 quilômetros de Belo Horizonte.
Milhares de viagens são feitas no estado para tratamento de saúde. Em Minas, 28 grandes municípios servem de referência para atendimento de média e alta complexidade, mas são muitas as rotas que veículos das secretarias de saúde fazem em busca de assistência. Dados do governo de Minas mostram que o número de viagens feitas para tratamentos de saúde aumentou 31% entre 2012 e o ano passado (saltou de 138,4 mil para 181,4 mil). Em 2015, até 15 de agosto, já são 55,6 mil viagens. O número de pacientes levados nesses trajetos também cresce: passou de 2,3 milhões de pessoas em 2012, para 3,2 milhões em 2014, alta de 38%. Este ano, até o último dia 15, o total chega a quase 1 milhão de pacientes.
TRATAMENTOS
As viagens, de modo geral, são resultado da falta de infraestrutura, equipamentos e de profissionais especializados para prestação de serviços de maior complexidade nos municípios de origem dos pacientes. Na lista de gargalos estão procedimentos relacionados à hemodiálise, tratamentos de câncer, cardiológicos e ortopédicos, entre outros.
Morador da cidade de Corinto, na Região Central, o tratorista Júlio Sérgio Pereira, de 38 anos, deveria ser atendido em Sete Lagoas, sua região de referência. Mas em 24 de julho veio para Belo Horizonte fazer uma cirurgia ortopédica, por falta de recursos e vaga. Ele e a mulher, a faxineira Maria Geralda Oliveira, que o acompanha nos procedimentos de saúde em BH, estavam no micro-ônibus que capotou no dia 13 na BR-040. “Infelizmente a gente não tem recurso na cidade da gente e tem que pegar essas estradas perigosas para tratar”, lamenta Júlio.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, ações de atenção à saúde estão sendo reformuladas para ampliar a oferta da assistência por meio do fortalecimento das redes de atenção. Entre elas, a conclusão de obras de hospitais regionais e a ampliação da assistência especializada em centros de atenção multiprofissional. A meta é reduzir a necessidade de deslocamento do paciente para esse atendimento especializado. “Entretanto, com inúmeros municípios de pequeno porte, será sempre necessário que pacientes se desloquem para assistência de alta complexidade”, reconhece a pasta em nota. De acordo com a secretaria, o serviço de transporte em saúde conta com motoristas e agentes de viagens capacitados.
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