Você já parou para calcular quanto gasta na feira ou no mercado com frutas e hortaliças? Para algumas famílias estes custos impactam muito pouco no orçamento, mas para muitas este impacto é mais pesado, consumindo boa parte do rendimento familiar. Parte destas famílias de baixa renda vive nas áreas periféricas das cidades com quintais que servem para crescer mato ou para depósito de entulhos. Nestas regiões muitos terrenos e lotes vazios servem apenas como depósito de lixo atraindo ratos, baratas e todos os tipos de animais peçonhentos. Muitas famílias trabalham duro durante dias para ganhar dinheiro e poder comprar gêneros alimentícios de primeira necessidade como arroz, feijão, macarrão, farinha, mas incluem nesta lista também produtos hortigranjeiros e frutas que poderiam ser produzidos no quintal de casa com um gasto de energia e tempo muito inferior em relação à energia e tempo gastos para ganhar o dinheiro e adquirir estes produtos. Não é difícil produzir no fundo do quintal e em grande quantidade o tomate, couve, alface, jiló, berinjela, abóbora, abobrinha, chuchu, mandioca, cenoura, beterraba e frutas como manga, laranja, limão, mamão, abacate, uva, melancia dentre outras. Todos os alimentos saudáveis, sem uso de agrotóxicos pesados, utilizando no controle das pragas apenas produtos alternativos e naturais, produzidos em casa.
Mas, parece muita coisa para um fundo de quintal e é verdade. Muitas vezes as pessoas não dispõem de muito tempo para cuidar de hortas muito diversificadas e elaboradas com várias culturas sendo conduzidas ao mesmo tempo, cada uma com um tipo diferente de cuidado, capina, adubação, colheita, irrigação, controle de pragas e doenças, e outras variáveis que aparecem quando se produz alimentos. É neste momento que entra em campo a união dos vizinhos e suas parcerias. No inicio, o processo de organização das pessoas e das famílias é o processo mais difícil e que deve ser conduzido por pessoas que não desanimam com facilidade, pois poucas famílias irão aderir à parceria. A ideia é que cada família em seu quintal ou terreno conduza algumas poucas culturas. Enquanto uma família produz couve e alface a outra produz tomate e jiló, a outra abobora e berinjela e assim distribuindo as tarefas de produção para cada uma de acordo com o tamanho do terreno, a mão de obra disponível, o tipo de solo que cada um tem em casa e outras variáveis que facilite a vida de todos e torne o sistema muito produtivo. A partir da colheita das culturas os produtos seriam compartilhados entre as famílias participantes do projeto. Geralmente este tipo de projeto tem inicio com poucas famílias, mas tende a crescer quando outras famílias identificam o projeto como promissor. Neste modelo de produção urbana compartilhada torna-se essencial a participação das secretarias de agricultura na gestão destas células de produção.
Não devemos apenas dar o peixe, mas também ensinar a pescar. Para isto os gestores municipais devem ter vontade política para implementação e estruturar as secretarias de agricultura para que tenham condições de gerenciar os projetos. Em muitos municípios do Brasil a fome não é um problema de falta de recursos, mas um problema causado pela falta de planejamento e gestão.
Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?
– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;
– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br