Trabalho pode ter motivado a morte de jornalista em Padre Paraíso

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Esposa do jornalista Evany José Metzker, de 67 anos, acredita que o trabalho investigativo pode ter motivado a sua morte. Ele mantinha o blog “Coruja do Vale”, onde denunciava irregularidades de prefeituras da região e ocorrências policiais.

“Eu já vivi demais, o que eu viver daqui pra frente é lucro”. É assim que o jornalista Evany José Metzker, de 67 anos, costumava responder a mulher, quando ela pedia para que tomasse cuidado com o trabalho. Metzker foi encontrado decapitado na zona rural de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, nessa segunda-feira (18).

Segundo a professora Ilma Chaves Silva Borges, de 51 anos, mulher de Metzker nos últimos 11 anos, ele será lembrado sempre com um homem destemido e ousado, o que ela acredita, inclusive, que pode ter motivado a sua morte. “Já tinha alguns dias que ele estava centralizando o trabalho ali naquela região. Ele estava hospedado em Padre Paraíso, e fazia reportagens sobre as cidades vizinhas. Ele mexia com investigações pesadas, fazia levantamentos sobre polícia, criminalidade, política, roubo de cargas, prostituição. Eu não sei exatamente qual era a matéria que ele estava fazendo quando foi assassinado porque ele não costumava comentar comigo sobre esses casos, mas acredito que o crime tenha sido motivado pelo trabalho dele”, contou a mulher do jornalista.

O jornalista era o responsável pelo blog “Coruja do Vale”, cujas principais matérias publicadas eram sobre polícia e política, e estava em Padre Paraíso há pelo menos dois meses para fazer uma reportagem. O corpo dele foi enterrado em Medina, cidade em que morava com a família, no início da madrugada desta terça-feira (19).

Investigação

De acordo com a Polícia Civil, a investigação sobre a morte do jornalista está sob a responsabilidade da delegada Fabrícia Nunes, que trabalha com duas hipóteses para o caso: de crime passional ou crime político.

A delegada e sua equipe de investigadores estão na cidade onde o corpo foi encontrado, colhendo informações sobre Metzker que possam ajudar no esclarecimento do crime. Em nota, a Polícia Civil informou que a delegada aguarda também os laudos de necropsia e da perícia “para definir outras diligências na apuração da dinâmica e motivações da morte”.

José Metzker, de 67 anos, foi sepultado em Medina – Foto: Reprodução / Facebook

Quase uma semana sem notícias

Ilma se lembra que a quarta-feira (13) foi o último dia em que teve notícias do marido. “Durante a semana ele ficava lá em Padre Paraíso, como estava acontecendo há cerca de dois meses, mas nos fins de semana ele sempre ia pra casa, ficar com a gente. Era muito raro ele não passar o fim de semana com a família. Estávamos conversando pelo WhatsApp neste dia, ele estava na pousada, e depois falou comigo que ia dar uma saidinha e voltava logo pra gente continuar conversando. Foi 19h03 a última mensagem que ele me mandou. Eu acredito que foi neste dia que ele foi assassinado”, diz.

Segundo Ilma, havia outro jornalista com ele na pousada, que também tem um blog jornalístico sobre a região do Jequitinhonha, mas ela não conseguiu contato com ele. No dia seguinte, ela mandou outra mensagem para o marido desejando “bom dia” e não obteve resposta.

“Comecei a me preocupar, porque ele sempre respondia as mensagens, sempre falava comigo. Nós estávamos sempre conversando, mesmo que a distância. Liguei para a pousada depois de esperar o dia inteiro por uma ligação dele, e a menina que atendeu disse que ele havia viajado. Mas ele nunca fez nada sem avisar. No outro dia liguei de novo pra pousada e outra pessoa atendeu dizendo que ele havia viajado para Brasília, dizendo que voltaria na segunda-feira, que seria ontem (18). Mas como? Ele iria passar o fim de semana com a gente, ele nunca fazia nada sem avisar. Comecei a ficar ainda mais preocupada”, lembra.

E foi na segunda-feira que ela recebeu a ligação informando sobre o encontro do corpo do jornalista, decapitado. “A gente sempre se apega a uma esperança né, ele poderia estar preparando uma surpresa, algo assim. Mas infelizmente não era isso. Olha, homem igual a ele não tinha. Ele era o pai das minhas filhas mesmo sem ser de sangue, ele assumiu como se fossem dele. Ele era presente, companheiro, amigo, era tudo pra gente. E ele era muito ousado em tudo o que fazia, ele não tinha medo, ele ia atrás das coisas, ele publicava e mostrava as provas. Eu sempre falava com ele pra parar de mexer com isso, que essa profissão é muito perigosa, mas não adiantava. Era o que ele gostava de fazer e ele era bom nisso. Ele era destemido”, recorda Ilma.

Sindicato quer apuração rigorosa do crime

Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais manifestou repulsa pelo assassinato de Evany José Metzker e exigiu apuração rigorosa para o caso, além da punição para os culpados.

“O Sindicato foi procurado por diversos jornalistas, que relataram o clima de violência existente na região, em decorrência do tráfico de drogas e de prostituição infantil. O próprio Evany foi avisado de que corria risco de ser morto. Por isso, o Sindicato não aceita que a hipótese de o assassinato estar relacionado ao exercício da profissão de jornalista seja descartada, antes de uma rigorosa e isenta investigação”, diz o comunicado.

De acordo com o sindicato, caso se confirme que a morte do jornalista está relacionada à profissão, Minas Gerais passará a liderar “a hedionda lista de crimes praticados contra profissionais de imprensa” em todo o país.

A nota da entidade lembrou também a morte dos jornalistas Rodrigo Neto e Walgney Carvalho, no Vale do Aço, em março de 2013, e cobrou “igual rigor” nas investigações do assassinato de Evany José Metzker.

Informações do IML



(Fonte: Jornal O Tempo)

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