O ABASTECIMENTO DOS RESERVATÓRIOS DE ÁGUA NA ESTIAGEM

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Há algumas semanas atrás uma notícia muito interessante foi vinculada nos jornais e na TV: Mesmo sem chuvas durante dias, o nível do reservatório Cantareira subiu. Apesar do baixo valor, de 18,2% para 18,4% de sua capacidade em 24 horas, este resultado aponta para a importância das áreas de recarga das bacias hidrográficas e suas sub bacias: o solo. Não podemos analisar um reservatório de abastecimento de água apenas pelo volume da represa, mas também pela capacidade de armazenamento de água do seu solo. Este armazenamento depende de diversos fatores como o regime das chuvas da região, o tipo de solo e a sua vegetação.

Os regimes hidrológicos no Brasil são muito claros com distinção entre o período seco e o período chuvoso. No período chuvoso a água das chuvas é muito superior as nossas necessidades enquanto no período seco a quantidade de água que cai do céu é muito reduzida, não atendendo as nossas necessidades. Neste caso precisamos de reservatórios cada vez maiores considerando o aumento da população e do consumo de água por pessoa. Para mantermos os reservatórios com níveis satisfatórios para o abastecimento temos que pensar na sua carga também no período seco, e aí que entram os nossos solos e as nossas matas e florestas.

As vegetações arbustivas e arbóreas permitem a infiltração de água no solo, armazenando-a em seus aquíferos freáticos e artesianos. Estas águas são liberadas por afloramentos em cavernas, por exemplo, no caso dos lençóis artesianos e nas nascentes no caso dos lençóis freáticos. Estas nascentes liberam continuamente a água armazenada no período chuvoso ao longo de todo o ano, inclusive no período seco, reduzindo os efeitos da estiagem sobre os reservatórios, evitando o comprometimento do abastecimento.

As perdas das florestas e das matas em regiões estratégicas como nas encostas e topos de morros comprometem a recarga do solo e o seu armazenamento provocando enchentes, aumentando o volume de água das bacias que se direcionam ao mar, causando a seca das nascentes no momento onde mais se precisa delas: no período de estiagem.

No caso da represa da Cantareira em São Paulo, não se espera mais aumentos do nível nos próximos dias secos, pois sabe-se que as áreas de recarga dos solos estão muito comprometidas devido ao intenso grau de desmatamento da região e ao elevado processo de urbanização que envolve a impermeabilização dos solos. Basta lembrar que a cidade de São Paulo é a terceira mais populosa do planeta.

O planejamento urbano das cidades e a elaboração dos planos diretores devem levar em consideração não apenas os processos de urbanização mas também o meio ambiente urbano periférico que contribui para evitar problemas graves como o desabastecimento de água e o racionamento. Até mesmo as cidades que apresentam seu crescimento desordenado são capazes de propor e elaborar mudanças visando a sua sustentabilidade bastando para isto vontade política pois técnicos competentes para propor as mudanças nós temos.

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?

– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

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