Pacientes realizam movimento pela liberdade de ginecologista preso em Turmalina

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Mulheres chegaram a realizar abaixo-assinado em apoio ao médico, que está preso desde sexta-feira (17) acusado de ter cometido “atos libidinosos” durante consultas

Foi com surpresa que boa parte da população turmalinense recebeu a notícia da prisão, ocorrida na última sexta-feira, dia 17 outubro, de um médico ginecologista que atuava no Hospital São Vicente e em um Posto de Saúde da Família (PSF) da cidade. O profissional foi acusado por quatro pacientes de Turmalina e uma de Capelinha de praticar “atos libidinosos” durante o atendimento. Na contramão das denúncias, um grupo formado por dezenas de mulheres defende o médico, alegando que sua conduta nada tem a ver com o que foi relatado nas denúncias, e pede que ele pelo menos responda o processo em liberdade.

Na tarde desta terça-feira, 21, pelo menos 30 mulheres, com idades que variam entre 15 e 60 anos, dispuseram-se a relatar o convívio com o médico, que é apontado por elas como “um profissional dedicado e respeitoso”. Algumas aproximaram-se da reportagem chorando e, na maior parte das vezes, com bebês de colo nascidas sob a assistência do profissional.

Pacientes e ex-pacientes do ginecologista preso foram à porta do Fórum de Turmalina pedir a liberdade do médico – Foto: Jornal Acontece Regional/Portal da cidade de Capelinha

A dona de casa Maria José de Jesus, de 27 anos, fez pré-natal e o parto com o profissional. Ela contou que, ao descobrir que sua gravidez era de risco, sentiu receio quanto ao futuro da criança, mas foi tranquilizada ao saber que seria atendida pelo profissional, que tem boa fama na cidade tanto por sua atuação médica quanto pela convivência pacífica com os moradores. “Devo a ele a vida da minha filha Isabella, de sete meses. Assim que soube que a criança ia nascer, ele deixou o que estava fazendo e foi direto me atender. Inclusive meu marido gosta muito dele e confia plenamente em sua atuação”, salientou.

Já a doméstica Augusta Queiróz, de 55 anos, diz ter ficado “horrorizada” ao saber da prisão do médico. Ela e a filha, de 23 anos, são pacientes dele desde o primeiro semestre do ano passado, quando o profissional começou a atuar em Turmalina. “Ele é tão bom que, quando foi demitido do hospital da cidade, fizemos um abaixo-assinado, com mais de 3.000 assinaturas, pedindo sua recontratação. E também já estivemos no fórum solicitando que ele seja solto”, declarou.

As pacientes ouvidas pela reportagem alegam ainda que, nos últimos anos, aconteceram vários casos de médicos ginecologistas que encontraram dificuldades para atuar em Turmalina. “Acredito que isso seja uma perseguição, pois, depois que esse médico veio para nossa cidade, ele resolveu muitos casos, ajudou casais a engravidar, fez diversos partos de risco e ainda deixou de cobrar vários procedimentos da população mais carente. Estou indignada pelo que estão fazendo com ele. Tem algo esquisito nessa história”, comentou a dona de casa Lívia Oliveira, de 39 anos.

Com o filho no colo, ela contou que, antes de ser atendida pelo médico alvo das acusações, recebeu de outro profissional o diagnóstico de câncer no útero, situação que a impediria de ser mãe. “Foi ele que me tranquilizou. Constatou que não havia câncer, e fez um tratamento de fertilização comigo. Sou grata, pois eu era depressiva, tomava 18 remédios por dia, já fui até internada em um sanatório e tentei me suicidar. Depois que o conheci, não tomo mais remédios e até meu marido foi ao posto de saúde para agradecê-lo”, salientou Lílian.

A estudante Geane Cordeiro de Jesus, de 15 anos, fez o pré-natal com o ginecologista. Ela chegou à Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Pau D’Óleo, onde o médico atuava, carregando nos braços sua filha Iany, de cinco meses, nascida sob a assistência do médico. “Estou espantada. Ele é tão amigo da gente, tão atencioso, nunca faltou ao respeito. Até exagera nos cuidados para não nos deixar constrangidas”, comentou a estudante.

Relaxamento de prisão

A defesa do médico acusado de molestar pacientes em Turmalina e Capelinha impetrou na tarde desta terça-feira, 21, um pedido de revogação da prisão temporária do seu cliente. Um dos argumentos da defesa é que a prisão foi efetuada com o inquérito ainda em aberto, sem que o médico tenha sequer prestado depoimento.

Foi também entregue à Justiça um abaixo-assinado onde parte da população de Turmalina pede sua soltura. Em outra movimentação, dezenas de mulheres entregaram no fórum da cidade, ontem e hoje, declarações que atestam a boa conduta do médico. De acordo com advogados do acusado, a juíza que cuida do caso, Caroline Rodrigues, irá se pronunciar na tarde desta quarta-feira, dia 22.

O profissional completará, neste próximo sábado, 37 anos de idade. Ele é casado e pai de dois filhos. Segundo familiares, o médico formou-se em medicina no Estado do Rio de Janeiro e especializou-se em ginecologia e obstetrícia no Espírito Santo. Lá atuou por muitos anos, até decidir-se por mudar com sua família para Capelinha, buscando, segundo familiares, mais tranquilidade e qualidade de vida, pois estava assustado com a escalada de violência nas cidades grandes.

O médico trabalhou por um tempo em Capelinha e depois mudou-se para Turmalina, onde atuava no Hospital São Vicente e em um posto de saúde. Até sua prisão, o médico ocupava ainda o cargo de diretor clínico do Hospital São Vicente de Paulo. O provedor do hospital, Anderson Cordeiro, aguarda orientação do setor jurídico da entidade para comentar o assunto.

No grupo que pede a soltura do médico, algumas mulheres alegam que tiveram até insônia e perda de apetite por causa da notícia de sua prisão. Outras contestam a acusação de que o profissional proibia a entrada de acompanhantes e enfermeiras em seu consultório durante os exames ginecológicos, conforme relatou o delegado Felipe Pontual em relato distribuído à imprensa.

A técnica em saúde bucal Nilcilene Costa, de 34 anos, e a recepcionista Aline Rodrigues, 24, que trabalham na UBS do bairro Pau D’Óleo, afirmam ter estado presentes em muitas consultas ginecológicas, a pedido do médico. “Já acompanhei várias consultas dele. O doutor fazia questão da nossa presença e nunca negou nossa entrada na sala. Inclusive, sempre usou luvas para examinar as pacientes”, ressaltou Aline.

Acusadora diz que não quer mais falar do assunto

A reportagem conseguiu localizar e conversar com uma das quatro mulheres que acusam o médico de abuso durante as consultas ginecológicas. Ela, que pediu para ter o nome preservado, diz não querer mais falar sobre o assunto por que a população da cidade recebeu a denúncia com desconfiança. “Infelizmente esse caso não está sendo bem aceito aqui em Turmalina. Acho que as mulheres deveriam ser mais amigas. Já dei satisfações à minha família e amigos, e não tenho mais nada a declarar”, desconversou.

O médico foi preso na sexta-feira, 17, por determinação do delegado local, Felipe Pontual. O policial diz que baseou-se no depoimento de quatro supostas vítimas do médico, que teriam relatado “práticas libidinosas” por parte do profissional em seus atendimentos clínicos. O caso ganhou grande repercussão na tarde de segunda-feira, 20, quando caiu na rede de blogs e portais do estado de Minas Gerais.

A divulgação da suspeita, por si só, gerou comentários de todos os tipos na rede social, principalmente no Facebook. Houve desde quem imediatamente execrasse o médico, pedindo “sua cabeça”, até um grupo grande formado principalmente por pacientes do profissional, que souberam do caso e manifestaram também pelas redes sociais certa indignação com o que consideraram “condenação e prisão sumária” do médico.

(Fonte: Portal de Capelinha/Jornal Acontece Regional)

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