AS NASCENTES E O RIO SÃO FRANCISCO – Alexandre Sylvio Vieira da Costa

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E a nascente do rio São Francisco secou! Mais importante que o seu desaparecimento temporário, é o simbolismo deste evento. Seca, queimadas, tudo contribuiu para o seu esgotamento. Com o retorno das chuvas o marco do nascimento de um dos rios mais importantes do Brasil retornará, mas não devemos esquecer a mensagem que ele nos envia: sequei! Uma seca temporária, mas sequei! Um aviso antecipado, pois daqui para frente, se nada for feito, poderá ser bem pior. Não apenas para o Rio e seus afluentes, mas para todos que dependem direta e indiretamente deste gigantesco manancial hídrico. Ele atravessa regiões extremamente quentes, áridas e secas levando água para saciar a sede das pessoas e animais, para agricultura, para navegação, ou seja, para todos. Sem as suas águas, mesmo que temporariamente, a vida na região poderá ser tornar insuportável e impraticável para animais e seres humanos. O abastecimento urbano, as indústrias, a lavoura e a pecuária, tudo ficará comprometido.

Leito do Velho Chico tomado pelo assoreamento no Norte de Minas – Foto: Frederico Martins/Divulgação

A representação simbólica da seca da nascente do rio São Francisco deve ser tratada de forma séria e responsável por todos: pelas autoridades, empresários, e as comunidades. O que devemos e podemos fazer em conjunto para evitar que uma tragédia ambiental se instale na sua bacia?

O rio São Francisco nasce aqui em Minas Gerais, na serra da Canastra a uma altitude de 1.600 metros e desloca-se 2.700 km em direção ao Nordeste do Brasil. O rio atravessa parte do semiárido do Nordeste, tendo uma grande importância regional dos pontos de vista ecológico, econômico e social. Atualmente, grandes hidrelétricas, irrigação, navegação, suprimento de água, pesca e aquicultura constituem os principais usos deste rio e de suas barragens. A bacia hidrográfica do São Francisco tem aproximadamente 640.000 km22, e estende-se por regiões com climas úmidos, semiárido, e árido. Os principais reservatórios do rio são Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó. Estes reservatórios produzem energia hidrelétrica que abastecem diversas regiões do Nordeste transformando regiões antes pobres e sem perspectivas em polos regionais de desenvolvimento.

O montante de água deste rio é fabuloso, variando de 2.100 a 2.800 m3 de água por segundo, atingindo 3.000 m3 de água por segundo próximo à foz, ou seja, três milhões de litros de água por segundo! Estes fluxos são naturais, ocorrendo atualmente regularizações através dos reservatórios, para otimização do uso nas cheias e secas.

O rio São Francisco tem uma enorme importância regional, e pode ser considerado como um dos principais fatores de desenvolvimento não apenas do Nordeste brasileiro, mas também de diversas regiões de Minas Gerais. Através de inúmeros planos de desenvolvimento, um conjunto de ideias de grande porte foi sendo construído gerando um plano integrado de desenvolvimento, envolvendo as agências do governo federal, governos estaduais e iniciativa privada. Mas, será que estas ideias estão saindo do papel? Será que recursos estão sendo investidos corretamente na gestão e recuperação da bacia? Será que as empresas localizadas na bacia estão cumprindo o seu papel ambiental? Nas próximas chuvas o rio voltará ao seu ritmo caudaloso, mas ele já enviou o seu recado, restando a nós a interpretação e a ação.

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?



– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

2 COMENTÁRIOS

  1. Todos os rios e riachos da Região Leste que margeiam o Rio Doce são seus afluentes e precisam urgentemente de ajudo. Tenho minhas dúvidas se estão de fato preocupados com a falta desse líquido, ao longo do ano não vejo nada acontecer para reverter esse quadro, as autoridades das cidades ribeirinhas não entende nada de preservação, destrói tudo no seu entorno, pensam que isso é coisa de Deus e que não dependem deles. Os órgãos competentes nunca se faz presente, deixa a mercê da incompetência dos proprietários dos rios como se estes pudessem ter dono. Será que os fiscais conhecem esses rios e como eles estão sendo tratados? Enquanto estiver morrendo de sede e forme só gado tudo bem, mas quando começas nos atingir na certa farão alguma coisa para preservar as nossas águas.

  2. Quando o gado passa sede , as pessoas já estão atingidas. Agora o que eu vejo é que nesses últimos 30 anos as coisas foram vulgarizadas , os responsáveis são irresponsáveis e tudo esta aí pra quem enxergar o que está a sua frente; basta olhar.

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