Eles acusam a prefeitura pelo descaso e cobrança exorbitante pelos espaços para venda de produtos e não oferecer infraestrutura como banheiros e segurança.
Todos os anos, na segunda quinzena do mês de agosto, a história se repete. Milhares de turistas, fiéis e camelôs se deslocam até Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, para participarem da secular e tradicional festa de Nossa Senhora da Lapa, padroeira do município.
Milhares de pessoas circulam pelo centro da cidade nos dias da festa – Foto: Gazeta de Araçuaí
Todos os anos, o ritual se repete. Subir e descer a Avenida Castelo Branco, participar das novenas, terços e procissão, e ao final, passear e fazer compras pelo maior shopping popular a céu aberto da região: as barracas dos camelôs. “Sem eles (os camelôs), a festa não existe”, reconhecem os moradores da cidade.
Todos os anos, as críticas se repetem. Faltam banheiros, um restaurante com preços populares, um espaço para romeiros e camelôs de outras localidades serem acolhidos, o alto preço cobrado pela prefeitura pelo metro quadrado para mascates venderem suas mercadorias, a falta de segurança e a indiferença da administração municipal diante das reclamações.
Todos os anos, os políticos dizem as mesmas coisas: na próxima festa vamos melhorar. No entanto, tudo continua como antes.
“Nada mudou. Os problemas são os mesmos.”, reconhece o camelô Esmeraldo Silva Oliveira, 35 anos, que há 10 anos participa da festa. Ele saiu de Cândido Sales, na Bahia, para expor suas mercadorias – a maioria brinquedos infantis -, durante o evento.
“Há oito anos que venho aqui. Foi a pior organização de todos os anos. Os altos preços cobrados pela prefeitura pelos pontos estão afastando os camelôs”, reconhece William Dias dos Santos, 28 anos, também da cidade de Cândido Sales.
“Somos tratados como cachorros. A prefeitura só quer lucrar. Não temos segurança, não temos tratamento digno, e os preços altos dos pontos acabam retirando nosso lucro”, afirmam os primos Arlan Palmeiras, 26 anos e Marco Almeida, 35. Eles viajaram 400 km, de Vitória da Conquista até Virgem da Lapa para vender suas mercadorias. “Não vamos voltar no ano que vem. Não compensa”, afirmaram.
“A prefeitura quer pagar as bandas e as contas da festa com o nosso suor. Isso não é justo”, desabafou o camelô Nildo Gil, de Itaobim, a 112 km de Virgem da Lapa. Ele pagou R$ 2 mil para expor seus artigos por 3 dias. O preço do metro quadrado este ano variou de R$ 80 a R$ 200 reais
Banheiros do mercado municipal, disponibilizados pela prefeitura – Foto: Gazeta de Araçuaí
Falta infraestrutura
As reclamações são compartilhadas pelos turistas e romeiros. “Tinha gente urinando pelas calçadas e fazendo suas necessidades fisiológicas em qualquer lugar”, informou um grupo de senhoras.
Os pequenos banheiros do mercado municipal não são suficientes. “São apenas quatro. Ficam imundos. Não ficam funcionários para manter a limpeza. É uma verdadeira esculhambação e falta de respeito. A prefeitura deveria construir um espaço adequado com banheiros químicos e chuveiros, para evitar estes problemas. Poderiam até cobrar pelos serviços”, reconhece a maioria dos visitantes entrevistados.
A festa dura uma semana. À noite, a programação fica por conta dos shows das bandas que se apresentam na “Baixinha”, ponto histórico de encontro da cidade. Os shows ocorreram entre os dias 13 e 16 de agosto.
Pelo menos 15 mil pessoas circulam pela cidade nestes dias, mais que a totalidade dos habitantes do município que é de 14 mil, conforme o IBGE. A estimativa é que cerca de mil camelôs permanecem na cidade durante os dias da festa. Não há um plano de infraestrutura para lidar com esta situação que modifica a dinâmica e o sistema do cotidiano da cidade. As promessas de melhorias se repetem, de administração para administração.
O gabinete do prefeito Harley Lopes (PT) não se manifestou até o momento sobre as reclamações e soluções adotadas, para evitar os transtornos, e nem quanto foi arrecadado durante a festa e o que foi gasto.
A Câmara de Vereadores promete pedir a prestação de contas. “A prefeitura tem obrigação de prestar contas aos contribuintes e ao povo de Virgem da Lapa, como é gasto o dinheiro arrecadado nesta festa. É tudo uma caixa preta. Isto tem de mudar”, desabafou um comerciante da cidade que pediu para não ser identificado.
Sem lugar adequado para acampar, fiéis armam barracas em frente à igreja – Foto: Gazeta de Araçuaí
História da Festa
Segundo relatos históricos, a peregrinação de romeiros a Virgem da Lapa começou ainda no princípio do século XVIII. Por volta de 1728, um garimpeiro teria encontrado a imagem da santa às margens do córrego São Domingos.
Mas, também existe uma lenda segundo a qual a imagem foi encontrada por um menino, que saiu para juntar burros, a mando de seu pai, um tropeiro. Depois, a criança teria perseguido um coelho, indo parar dentro de uma gruta iluminada, com altar natural.
Devido movimentação dos fiéis, apareceu o núcleo urbano, com o primeiro nome de São Domingos do Araçuaí, que era distrito de Araçuaí. Em 27 de dezembro de 1949, o município conquistou a sua emancipação político-administrativa.
Festa atrai milhares de romeiros todos os anos – Foto: Gazeta de Araçuaí
(Fonte: Gazeta de Araçuaí)