O ministro da Agricultura, Neri Geller, anunciou nesta quinta-feira (17) que o governo chinês concordou em retirar o embargo à carne bovina brasileira, vigente desde 2012. As vendas haviam sido suspensas em função da suspeita, naquele ano, de um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a doença da vaca louca, em um animal morto em 2010 em Sertanópolis (PR).
Mais tarde, foi constatado que o caso era atípico, menos perigoso que a variedade clássica da doença. Segundo Geller, o entendimento com a China foi oficializado durante a reunião do presidente da China, Xi Jinping, com a presidenta Dilma Rousseff e as exportações devem ser retomadas ainda este ano.
Geller destacou que o Brasil aguarda um comunicado oficial da defesa sanitária chinesa para retomar as vendas. Depois disso, dependerá da indústria brasileira se mobilizar para fechar negócios. O processo deve demorar cerca de um mês. Em um primeiro momento, oito frigoríficos terão autorização para exportar para o país asiático e mais nove pediram credenciamento.
Com a reabertura, as vendas externas para a China podem chegar a 18% do total de carne bovina exportado anualmente pelo Brasil. De acordo com Neri Geller, a expectativa é vender de US$ 800 milhões a US$ 1,2 bilhão para os chineses no próximo ano. As vendas brasileiras de carne bovina, cujo principal mercado atualmente é Hong Kong, somaram US$ 6,6 bilhões no ano passado. Apesar de pertencer à China, Hong Kong é uma região administrativa especial, e tem normas sanitárias próprias.
O Brasil começou a vender carne bovina para a China em 2009, quando foram comercializados US$ 2,5 milhões do produto. Em 2012, até ser interrompido pelo embargo em dezembro, o volume negociado atingiu US$ 37,7 milhões. Enquanto esteve fechado à carne brasileira, o mercado chinês se ampliou. No ano de 2012, o país importou do mundo todo US$ 255 milhões em carne bovina. Em 2013, o volume já havia saltado para US$ 1,269 bilhão.
Para Geller, além do aumento da demanda chinesa, a confiança no sistema sanitário do Brasil motivou a decisão da reabertura. “Entendemos que o Brasil saiu fortalecido do caso da EEB em Mato Grosso [detectado este ano, e que também foi classificado como atípico]. Mostramos que a defesa brasileira está funcionando e que a saúde pública tem prioridade”, disse.
O ministro disse que, tanto em 2012 quanto em 2014, não houve alteração da classificação de risco insignificante para a doença dada ao Brasil pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Os casos atípicos de vaca louca são menos perigosos, porque, diferente da variedade típica, não são causados por ingestão de ração contaminada. A EEB se desenvolve por razões genéticas quando o animal já está velho.
Atualmente, continuam com restrições à carne bovina brasileira os mercados da Arábia Saudita, que anunciou o embargo em 2012, e os do Peru e Irã, que suspenderam as compras somente de Mato Grosso após o caso de 2014. O Ministério da Agricultura informou que negocia a reabertura com os três países. Neri Geller disse ainda que, também nesta semana, a pasta recebeu sinalização da Rússia de que podem ser suspensas as restrições às exportações de carne suína de dois frigoríficos brasileiros, em Rio Verde (GO) e Uberlândia (MG).
Além do fim do embargo chinês à carne brasileira, a reunião com Xi Jinping teve assinatura de diversos acordos entre Brasil e China. O Ministério da Agricultura deu detalhes sobre os relacionados à sua área. Um deles prevê o comprometimento chinês em agilizar a normalização da importação de pet food brasileira, embargada desde 2013. Também houve alteração do protocolo para exportação de tabaco para a China, a fim de incluir Santa Catarina e Paraná. O Brasil comprometeu-se a dar atenção à habilitação de novos estabelecimentos para importação de pescados e tripas, bem como a rever seus requisitos para importação de miúdos de caprinos e ovinos, normalizando as exportações chinesas desses produtos para o Brasil. (Agência Brasil)