A vacina experimental contra a dengue que está atualmente na fase mais avançada de desenvolvimento garantiu, em testes, uma proteção de 56,5% contra a infecção, mas não protegeu igualmente contra todos os sorotipos. Enquanto o grau de proteção contra os sorotipos 3 e 4 foi de 75%, e contra o sorotipo 1 foi de 50%, a proteção contra o sorotipo 2 foi de apenas 35%.
Os resultados de um estudo que testou o produto em 10.275 crianças asiáticas serão publicados na revista científica “The Lancet”, na edição desta sexta-feira (11). O estudo também mostrou que a vacina conseguiu prevenir 88,5% dos casos de dengue hemorrágica, que são os mais graves.
Para o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), o baixo índice de proteção contra o sorotipo 2 pode significar que o número de ocorrências de infecções por esse sorotipo ao longo do estudo não tenha sido suficiente para avaliar com precisão o grau de proteção. Para ele, os resultados são significativos, pois a imunização seria capaz de reduzir em mais de 50% o número de casos sintomáticos.
Das 10.275 crianças de 2 a 14 anos que participaram do estudo, 6.851 receberam a vacina contra dengue e 3.424 receberam placebo. Em um período de um ano após a imunização, houve 250 casos de dengue confirmados, 117 no grupo vacinado e 133 no grupo que recebeu placebo. Os dados mostram que a vacina ofereceu uma proteção geral de 56,5% levando em conta os quatro sorotipos.
“Com certeza, mais estudos são necessários, principalmente para tirar a dúvida sobre a baixa eficácia quanto ao sorotipo 2”, diz Barbosa. Ele observa que, apesar disso, em regiões em que a situação da dengue é emergencial, onde a rede hospitalar não é capaz de atender com eficácia os casos da infecção, como ocorre no sudeste asiático, a adoção da vacina pode ser estudada.
A empresa Sanofi Pasteur, que desenvolve a vacina, já tinha divulgado dados preliminares do estudo em março. Esta foi a primeira vez que uma vacina contra dengue chegou à fase 3 de estudo clínico, que envolve testes em um grande número de voluntários.
A partir da divulgação desses resultados, as agências regulatórias dos países asiáticos já podem considerar a análise da vacina para a inclusão em seus sistemas de saúde. De acordo com a médica Sheila Homsani, gerente do departamento médico da Sanofi Pasteur, a empresa vai começar a se reunir com as agências regulatórias para que elas determinem as exigências para o registro da vacina.
Vacina no Brasil
Já no Brasil, uma possível avaliação do produto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que ele passe a ser comercializado no Brasil ainda deve esperar os resultados de um outro estudo feito na América Latina. Neste estudo, a mesma vacina foi testada em mais de 20 mil pessoas. Do Brasil, participaram 3550 voluntários. De acordo com Sheila, os resultados serão divulgados no segundo semestre e, dependendo dos dados obtidos, a Sanofi poderá submeter o registro da vacina à Anvisa. (G1)