O repórter Sérgio Vasconcelos, do Jornal Gazeta de Araçuaí, foi vítima de agressão na noite desta sexta-feira, 4 de julho, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Vasconcelos fazia a cobertura de um evento da 31ª edição do Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha (Festivale), quando foi espancado gratuitamente após pedir que um cidadão que teria derramado cerveja sobre ele se desculpasse pelo ato.
Em uma carta divulgada na página do seu veículo de comunicação, o jornalista relata o fato e deixa um desabafo para seus leitores.
(Repórter foi agredido durante cobertura do Festivale)
Leia na integra:
Na noite de ontem, sexta-feira, quando cobria as festividades Festivale, fui covardemente agredido por um elemento identificado como Ronan Ramos, natural de Muriaé, que está residindo atualmente em Araçuaí.
As agressões gratuitas partiram após um individuo que desconheço, ter esbarrado e derramado cerveja em mim. Ao pedir que ele se desculpasse pelo fato, esse elemento, Ronan Ramos, já qualificado pela polícia, acabou por tomar suas dores, e no momento em que me encontrava no balcão do restaurante Tradição, na Praça do Fórum, onde acontecia o evento, este passou a agredir-me com socos e pontapés.
Pasmem. Este individuo, que se diz formado em Letras, está em Araçuaí para, segundo ele, formar cidadãos, fazer traduções de trabalhos, entre outras áreas ligadas à Educação.
A ação praticada por ele nos remete aos tempos do arbítrio e da intolerância e em nada condiz com a missão que tal pessoa se propôs a praticar nesta cidade que é o ato de educar.
O que se viu, foi uma violência e selvageria, praticado por pessoas alheias à cidade de Araçuaí.
E o que é pior, pessoas que se dizem defensoras das liberdades democráticas e dos direitos humanos, incentivaram e apoiaram a agressão.
Ainda ensanguentado, tentei de forma pacífica, mostrar àquelas pessoas que aquilo não condizia com o discurso da paz e do amor, pregado pelos participantes do Festivale.
Ao longo dos meus 25 anos de jornalismo e de militância estudantil, sofri perseguições, prisões e enfrentamentos à ditatura militar, que muitos que ali estavam jamais enfrentaram.
E se ali estavam , livres para manifestar seus pensamentos, se deve a luta de tantos e tantos jovens, que como eu , enfrentaram o arbítrio, a opressão, a tortura, o exílio e a violência dos anos de chumbo.
Tenho dedicado ao longo de minha vida à defesa dos direitos humanos e da manutenção do estado democrático de direito, seja como cidadão, seja como jornalista
Fui repórter dos jornais Estado de Minas, Hoje em Dia, produtor da jornalismo da TV Leste e há 16 anos mantenho o Jornal Gazeta, tantas vezes ameaçado de fechamento pelas forças do arbítrio.
Minha geração sempre demonstrou que não se verga e não se quebra. Durante a agressão, sofrida na noite desta sexta-feira, mantive a serenidade e a firmeza, mas diante do arbítrio, sequer deixaram que eu explicasse aos presentes o que ali se passava e o porque da agressão por mim sofrida.
Não me importa que naquele momento tenham roubado a minha liberdade de expressão, a minha dignidade e a minha honra.
Continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance, as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo da minha terra, principalmente os humildes e oprimidos, que não se faziam presentes àquela festa, paga exatamente por eles e por todos nós araçuaienses. (Sérgio Vasconcelos)