Pesquisa sueca encontrou concentrações mais altas de uma substância cancerígena no sangue de cabeleireiros
Tingir e fazer permanente em cabelo não é uma atividade que parece oferecer muito perigo à saúde, mas um estudo publicado recentemente no periódico Occupational and Environmental Medicine acaba de colocar em xeque essa sensação de segurança. A pesquisa desenvolvida na Universidade de Lund, na Suécia, encontrou concentrações mais altas de uma substância cancerígena no sangue de cabeleireiros. Segundo especialistas, os indícios são um motivo a mais para que as tinturas e outros produtos químicos usados em salões de beleza sejam investigados com mais atenção pelos cientistas.
Segundo especialistas, indícios são motivo a mais para que as tinturas e outros produtos químicos usados em salões de beleza sejam investigados com mais atenção (Foto: Reuters / Bogdan Cristel)
Gabriella Johansson, principal autora do estudo, procurou, no sangue de cabeleireiros, indícios de aminas aromáticas carcinogênicas, compostos presentes nos produtos utilizados para tingir e fazer permanentes nas mechas e que já foram banidos da União Europeia. Pelo menos uma das substâncias do grupo, a ortotoluidina, está comprovadamente envolvida na expressão de câncer de bexiga, de mama e na leucemia.
Johansson mediu os níveis de ortotoluidina e outras sete aminas aromáticas no sangue de 295 cabeleireiras, 32 usuários regulares de tintura e 60 pessoas que não foram submetidas a tratamentos capilares durante 12 meses consecutivos. A equipe sueca procurou moléculas de hemoglobina ligadas às de toluidinas, estruturas que funcionam como indicativo da exposição às substâncias. Constatou que os cabeleireiros estão realmente mais expostos não apenas à ortotoluidina, mas também à meta-toluidina, outra substância relacionada ao surgimento de cânceres. “Em geral, a exposição foi baixa. Mas queremos alertar que esse contato deveria ser inexistente. Recomendamos que os cabeleireiros usem luvas e que sempre as troquem”, recomenda Johansson.
Mais cuidados
O oncologista Cristiano Guedes Duque, da Oncoclínica do Rio de Janeiro, diz que o estudo mostra que outros produtos, além do formol, merecem atenção dos institutos de saúde e pesquisa. “Os salões de beleza são repletos de substâncias voláteis que são absorvidas pelas mucosas e podem resultar em cânceres que se manifestam anos depois”, diz o também médico do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Pesquisadores dizem que a maioria dos cabeleireiros não sabe dos riscos apontados no estudo (Foto: sxc.hu)
Rodrigo Medeiros, especialista da unidade de Brasília do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, acredita que a maioria dos cabeleireiros não sabe dos riscos constatados na pesquisa de Johansson. “Em longo prazo, essas substâncias resultam em uma série de doenças, como o câncer de bexiga, que é muito agressivo. O tratamento é sofrido e mutilante, e as chances de cura são muito baixas se o diagnóstico demorar a ser feito”, pontua.
O oncologista clínico Vladmir Cordeiro de Lima, do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, pondera que o artigo é interessante para levantar hipóteses, mas não demonstra uma associação direta. Portanto, não há motivo para criar pânico entre os cabeleireiros e os clientes. “O estudo não permite dizer que essas pessoas terão mais câncer. Seria preciso observá-las durante muito tempo para confirmar isso. Existe a suspeita, mas, para ciência, o que vale é a certeza.”
(Correio Braziliense)