Uma fazenda à beira de um rio com curso estável durante todo o ano, sem inundações nem períodos de seca. Esse é o sonho de todo produtor rural e foi a promessa feita pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) aos proprietários atingidos pela construção da Usina de Irapé, no Vale do Jequitinhonha. Porém, segundo eles, o cenário, oito anos depois, é outro. As cheias e as estiagens já não seguem o clima da região e estariam ocorrendo irregularmente, definidas pela necessidade de abrir ou fechar as comportas da usina para produção de energia.
Dono de uma fazenda na zona rural de Araçuaí, Aluísio Duarte, 76, diz que se sentiu enganado e contabiliza prejuízos desde a construção da usina. “Disseram a nós que teríamos pelo menos 2 m de água, de uma margem a outra, o ano todo. Porém, tem dia que o leito não tem 10 cm, e, em menos de 24 horas, sofremos com uma inundação”, conta. Ele revela que já perdeu três barcos levados em enchentes e tem também outros problemas. “Não posso utilizar as bombas de irrigação, e a colheita do milho fica prejudicada”, lamenta.
O problema é sentido por outros produtores da região. Aderbal Murta, 66, diz que a situação está pior que antes da usina. “A gente cresce sabendo direitinho quando é tempo de seca e quando é tempo de cheia, e se prepara para isso. Agora, está completamente desregulado”, desabafa.
Informações sobre a Usina
A Usina Hidrelétrica de Irapé, ou Usina Presidente Juscelino Kubitschek, é uma usina localizada nos municípios de Grão Mogol e Berilo, no estado de Minas Gerais, no Brasil.
Ela foi construída no Rio Jequitinhonha com uma potência nominal instalada de 360 megawatts. Possui a barragem mais alta do Brasil e uma das mais altas do mundo, com 208 metros.
A usina, que foi inaugurada em 2006 e pertence à Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG).
A usina é vista como a maior esperança de desenvolvimento econômico e social da região do Vale do Jequitinhonha, considerada uma das regiões mais pobres do Brasil.
Entre inúmeras empresas que participaram em colaboração ao Consórcio Construtor Irapé, destacam-se as empresas Voith Siemens, Bardella, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Hochtief, Holcim e Transmun.
(O Tempo)