Apesar de ter recebido metade do valor de convênio para reconstruir 14 pontes, Prefeitura de Paulistas abandonou as obras. Várias placas foram retiradas e em alguns locais não há como passar
Pontes que existiam antes do início das obras de reconstrução estão intransitáveis, pois muitas foram destruídas ou tiveram o curso desviado para a construção das novas – Foto: JC/Divulgação
Investigada pelo Ministério Público Federal por suspeita de fraude na licitação para a reconstrução de 14 pontes que teriam sido destruídas pela chuva, a Prefeitura de Paulistas, no Vale do Rio Doce, abandonou as obras. Nenhuma ponte foi concluída, apesar de o Ministério da Integração Nacional ter liberado para a cidade, em janeiro do ano passado, R$ 2,1 milhões – metade do valor total do convênio firmado com a pasta, orçado exatamente em R$ 4.285.248,60. Na conta-corrente aberta pela prefeitura para receber esse dinheiro restaram apenas R$ 47 e nenhum benefício para a população. Pelo contrário. As pontes de madeira que existiam antes do início das obras de reconstrução estão intransitáveis, pois muitas foram destruídas ou tiveram seu curso desviado para a construção das novas. O mato toma conta das estruturas de concreto abandonadas. Equipamentos usados pelos operários foram deixados no meio da estrada e algumas placas com os dados das obras foram retiradas.
Uma das pontes que começou a ser construída pegou uma faixa de terra na entrada da propriedade de dona Seráfica dos Anjos Pimenta, de 56 anos. Segundo sua filha, a publicitária Deyse dos Anjos Pimenta, a construtora responsável abandonou o maquinário no local, desviou o curso da ponte que já existia e agora, quando chove, os carros não conseguem passar. A ponte que começou a ser construída seria batizada com o nome de seu pai, José de Lori. “A placa da obra da ponte diz que ela custou R$ 315 mil e alguns centavos, mas tem apenas dois pilares bem elevados”, afirma. A família, segundo ela, estuda medidas judiciais contra a prefeitura por causa da obra. O lavrador Geraldo Colin, de 53, também não se conforma com o abandono das obras. Ele mora a 50 metros dos pilares da ponte, que seria batizada com o nome de Rico Bruno. Logo após a ponte tem um campo de futebol.
Segundo ele, a ponte antiga era difícil de transitar quando chovia muito, mas “todo mundo passava”. “Agora ninguém passa mais”. O traçado antigo foi alterado e parte da madeira arrancada. Os carros com pessoas doentes param antes da ponte danificada e os doentes são carregados no colo ou em macas. Perto fica um campo de futebol. Nos dias de campeonato, de acordo com ele, os ônibus das equipes param antes e os jogadores seguem a pé, pois não dá para seguir adiante. Ao lado, a estrutura da nova ponte, segundo ele, está coberta de mato. “Era ruim, mas dava para passar. Agora, depois dessa porcariada que fizeram, piorou mais ainda. É um absurdo. Nunca vi isso na minha vida. Não tenho nem o que dizer nem com quem reclamar, o prefeito não mora na cidade”, reclama o lavrado, referindo-se a Leandro Barroso (PSDB).
A presidente da Câmara Municipal de Paulistas, Carla Oliveira da Costa (DEM), disse que o Legislativo já solicitou informações para a prefeitura sobre o motivo da paralisação das obras, mas não obteve ainda resposta oficial. “Mas o que os funcionários da prefeitura comentam é que teria havido uma fiscalização que determinou a suspensão das obras, mas não sabemos ao certo se isso é verdade”, comenta. O prefeito Leandro Barroso não foi localizado pela reportagem para falar sobre a interrupção das obras.
ADIMPLENTE
O prazo final do convênio termina em 15 de junho, segundo informações do Portal da Transparência, que também classifica a prefeitura como “adimplente”. Desde agosto do ano passado tramita na Procuradoria da República em Governador Valadares um inquérito para investigar as denúncias de fraude e montagem no processo licitatório para as obras da ponte. O procedimento, no entanto, corre em sigilo e nenhuma informação pode ser repassada pelo Ministério Público Federal.
Reportagem do Estado de Minas revelou que a licitação foi forjada. Na montagem da concorrência, os carimbos e o papel timbrado dos participantes do processo licitatório e os nomes dos representantes das empresas foram trocados e confundidos. Além disso documentos de construtoras supostamente concorrentes e localizadas em cidades distantes umas das outras apresentaram os mesmos erros de digitação e ortografia.
Entre os participantes dessa concorrência estão alguns dos denunciados pela Operação João-de-barro, que desbaratou um esquema envolvendo emendas parlamentares para realização de pequenas obras em prefeituras de diversas cidades do Brasil, principalmente Minas Gerais. Reportagem revelou também que uma das pontes constantes no convênio assinado pela prefeitura, a Ponte dos Valérios, já tinha sido reconstruída pela prefeitura vizinha de Materlândia, mas mesmo assim constava do projeto.
(Fonte: Estado de Minas)