Após dois anos de investigações, a Comissão Nacional da Verdade afirmou nesta terça-feira (22) que, segundo sua apuração, o regime militar (1964-1985) não teve participação na morte do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, ocorrida em 1976. Havia suspeitas de que JK tivesse sido vítima de um atentado preparado pela ditadura militar.
O colegiado que investiga eventuais violações dos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1985 confirmou a versão oficial para a morte do ex-chefe do Executivo.
A primeira das seis conclusões a que chegou a comissão aponta que o veículo Chevrolet Opala, placa NW-9326 RJ, que conduzia Juscelino e seu motorista Geraldo Ribeiro pela Via Dutra, rodovia que liga São Paulo a Rio de Janeiro, colidiu frontalmente com uma carreta Scania Vabis, placa ZR-0398-SC, após ter sido atingido por um ônibus. O acidente, ressaltou o grupo, provocou a morte do ex-presidente e de seu motorista.
“Não há nos documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e Geraldo Ribeiro [motorista de JK] tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso”, diz o relatório divulgado pela comissão.
“O conjunto de vestígios materiais indica que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e Geraldo Ribeiro morreram em virtude de um acidente de trânsito”, concluiu o documento.
Os integrantes da Comissão da Verdade investigavam a morte de Juscelino desde 2012, quando a Seção de Minas Gerais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu para o colegiado apurar as suspeitas de que Juscelino havia sido assassinado. Indícios apontavam que a morte poderia não ter sido um homicídio.
Exumado 20 anos após o acidente, o corpo do motorista de JK apresentava uma perfuração no crânio similar a de um tiro de arma de fogo. Segundo a comissão, a cabeça de Geraldo Ribeiro não foi atingida por um projétil disparado por arma de fogo. O fragmento metálico que se encontrava em seu crânio era, conforme o grupo, um cravo metálico utilizado para fixar revestimento de caixões.
Para chegar à conclusão anunciada nesta terça-feira (22), a comissão se reuniu com o perito criminal Sergio Leite, que confeccionou o laudo do local do acidente.
O grupo também conversou com o médico legista Márcio Cardoso, que realizou o exame da ossada de Geraldo Ribeiro, o motorista que dirigia o Opala onde estava JK. Na versão oficial, o veículo que conduzia o ex-presidente foi atingido na Via Dutra por um ônibus e, na sequência, colidiu contra uma carreta, provocando a morte de JK e de seu motorista.
Comissão da Verdade de SP
Em dezembro de 2013, a Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo concluiu que a morte de Juscelino havia sido provocada por um atentando planejado pelos militares. O motorista do ônibus que bateu contra o Opala, Josias de Oliveira, chegou a afirmar ao colegiado municipal que ofereceram a ele uma mala de dinheiro para que assumisse a culpa pelo acidente.
À época, a comissão paulistana disse que existiam 90 indícios, evidências, testemunhos, circunstâncias, contradições e questionamentos para concluir que a morte de Juscelino teria sido um assassinato.
Durante o regime militar, Kubitschek se aliou ao presidente deposto João Goulart e ao ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda. Os três morreram em um espaço de menos de um ano, entre 1976 e 1977.
Juscelino Kubitschek era médico e radiotelegrafista nascido em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. (G1)