Há pelo menos quatro meses, os pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) sofrem com a falta de medicamentos na Policlínica de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG).
A lista dos remédios de atenção básica fornecida pela prefeitura tem cerca de 150 itens. Pelo menos 25 medicamentos estão em falta, principalmente aqueles usados para tratamento de hipertensão e diabetes.
A auxiliar de serviços gerais, Maria de Fátima Alexandrino Pinheiro, 49 anos, vem procurando a Políclinica desde o início do mês. Ela não pode ficar sem os remédios para pressão alta e diabetes, que são de uso contínuo.
Das últimas vezes em que precisou, foi até à farmácia da prefeitura, mas não conseguiu a quantidade prescrita na receita. “Nesses dois meses faltaram alguns remédios, mas eles disseram que vão repor”, comentou.
Ela tem uma lista com 10 medicamentos de uso contínuo. “Não tenho como comprar em farmácia particular”, lamenta Maria de Fátima que além dos medicamentos fornecidos pelo governo, se vê obrigada a adquirir medicação contra a depressão, que não é distribuída pela rede pública.
“Meu marido sofreu derrame (AVC) e depende de mim para tudo. Ele não tem aposentadoria. Em minha casa são 7 pessoas. Somente eu e um outro filho trabalha”, diz ela.
Nem sempre, é possível recorrer a uma farmácia particular para resolver o problema. “Quando a gente pode comprar, compra. Mas nunca sobra dinheiro”, afirma Maria de Fátima que há um ano espera por um ultrasom para fazer uma cirurgia de hérnia.
Médicos e especialistas advertem que a utilização irregular ou a não medicação compromete o tratamento. A consequência é o agravamento do quadro e aparecimento de complicações.
A situação é crítica. Algumas prateleiras da farmácia municipal estão praticamente vazias. Faltam remédios para colesterol, circulação e alguns anti-inflamatórios. “Eu não encontrei o omeprazol que minha filha toma”, lamentava uma dona de casa. Até AAS está faltando”, disse ela.
A comerciante Marivone Maria de Jesus faz uso contínuo do Selozok para controlar a pressão arterial. “Há 2 meses estou comprando porque não encontro na Policlinica”, reclama. Ela conta que a caixa do medicamento sai por cerca de R$ 42 reais. “Tomo dois por dia. No final do mês, pesa no orçamento”, afirma.
“O sistema de saúde em Araçuaí está péssimo. Vou denunciar este descaso na delegacia e no Ministério Público”, disse revoltada uma aposentada de 69 anos. “Estão tratando pessoas pior que cachorro”, lamentava a mulher em um dos corredores da Policlínica.
Mudança no sistema
Para amenizar o problema, a prefeitura transferiu a retirada dos remédios de hipertensão e diabetes para as farmácias conveniadas ao programa ‘Farmácia Popular’, do governo federal. Mas somente os medicamentos para diabetes, hipertensão e asma, saem de graça para os usuários.
O acesso aos remédios é assegurado mediante a apresentação de documentos pessoais e receita médica cuja validade é de 4 meses.
Mais movimento
As farmácias particulares já perceberam um aumento na movimentação por causa dos pacientes que não encontram medicamentos na rede publica municipal. Em uma delas, a alta chegou a 50%, mas a responsável garantiu que isso não vai prejudicar o estoque.
“A gente sempre está preparado. Começou a acabar os medicamentos, a gente já compra. De um dia para o outro a gente já consegue comprar a medicação”, garantiu a farmacêutica responsável.
Culpados
A secretária municipal de Saúde, Zuzu Loredo Rocha, culpou a falta de medicação básica, à Secretaria de Estado da Saúde (SES), que segundo ela, desde janeiro não faz a entrega dos medicamentos.
Em nota, a assessoria de imprensa da SES afirmou que a distribuição dos medicamentos para o município foi liberada pela Superintendência de Assistência Farmacêutica (SAF) da Secretaria Estadual de Saúde no dia 4 de abril.
Ainda de acordo com a nota, a previsão é que no mês de abril o operador logístico faça a entrega dos medicamentos, com data limite em 4 de maio. “Informamos ainda que a SES enviou comunicado sobre o cronograma de entrega para o município”, diz a nota.
Segundo a secretária municipal de Saúde de Araçuaí, Zuzu Loredo Rocha, a expectativa é que a situação seja normalizada dentro de no máximo 10 dias. “A falta de medicamentos está geral, em todos os municípios da região”, disse ela.
“Não tenho outra saída. Eu vou ter que esperar”, queixou a auxiliar de serviços gerais Maria de Fátima Alexandrino Pinheiro. (Gazeta de Araçuaí)