POLÊMICA: Quase 60% dos brasileiros acreditam que as mulheres são culpadas por estupros

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Segundo o estudo realizado por meio do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado nesta quinta-feira (27), 58% dos brasileiros acreditam que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”. Com ideia semelhante, 65,1% concordam total ou parcialmente que as mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, o fato de a maioria dos brasileiros, inclusive mulheres, pensarem assim em 2014 é espantoso. “Essa inversão de jogo, no qual a vítima é culpada pelo assédio ou estupro, acontecia muito na década de 1970, quando o delegado falava com a mulher que a culpa era dela por usar uma saia tão curta. Isso tem que ser mudado, é assustador que as pessoas ainda pensem assim”, disse.

A pesquisa mostra, ainda, que quase 64% dos brasileiros concordam com a ideia de que “os homens devem ser a cabeça do lar”. Apesar disso, o número de mulheres que chefiam a família e são responsáveis por toda a renda mensal vem crescendo a cada ano. Enquanto as mulheres nesta posição, em 1995, representavam 22,9%, em 2012, esse número passou para 38,1%. Já a renda familiar oriunda das mulheres passou de 37,9% em 1995 para 46% em 2012. O estudo aponta que, mesmo assim, a estrutura familiar no Brasil ainda é patriarcal.

De acordo com a pesquisa, 63% do entrevistados concordaram que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”. Outros 89% afirmaram que “roupa suja deve ser lavada em casa”, e 82% que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. As regiões onde os entrevistados menos concordam com a ideia de culpar o comportamento feminino pela violência sexual foram a Sul e a Sudeste. Por outro lado, foi constatado que essa ideia é 1,5 vez maior na comunidade evangélica e 1,4 vez maior entre os católicos.

Além disso, a maioria dos brasileiros acredita que “toda mulher sonha em se casar”. Quase 60% deles concorda totalmente com essa afirmativa, e 27,8% concorda parcialmente. Essa ideia, segundo o estudo, bate novamente no senso comum de que a mulher só pode encontrar a realização completa quando em uma relação estável com um homem ou, ainda, que depende de um companheiro que a sustente.

Já sobre a materialização da mulher, 54,9% dos entrevistados levam a sério o jargão de que “existe mulher para casar e mulher para levar para a cama”.

Ainda segundo Pereira, esse tipo de pensamento machista pode prejudicar os direitos básicos dos cidadãos. “A grande evolução do feminismo foi tornar a mulher um sujeito de direitos e a reconhecer também como um sujeito de desejos, igual ao homem. Quando você subjuga a mulher, como ocorreu na história da dominação entre homem e mulher, você está retirando dela o lugar de sujeito e criando uma inferiorização”, disse.

No entanto, em meio a tantos dados que traduzem o machismo dos brasileiros, alguns se mostraram positivos, como o fato de 54% dos brasileiros discordarem que a mulher casada tem a obrigação de satisfazer o marido na cama, mesmo sem vontade. Apesar de relativamente baixo, o número ainda representa a opinião de mais da metade dos entrevistados.

Além disso, 73% dos entrevistados discordaram da afirmação de que “a questão da violência contra a mulher recebe mais importância do que merece”.

Aval para a homofobia

O modelo de estrutura patriarcal e machista, ainda segundo o estudo, pressupõe a supremacia masculina e se concentra em um modelo androcêntrico e heteronormativo, colocando o homem como referência em todos os espaços sociais. Neste modelo, a rejeição à homossexualidade é esperada. Mais da metade, cerca de 52% dos entrevistados, concorda que “o casamento de homem com homem ou de mulher com mulher deve ser proibido”.

Além disso, 59,2% dos entrevistados se sentem incomodados ao ver pessoas do mesmo sexo se beijando, e 46,2% discorda total ou parcialmente de que pessoas do mesmo sexo podem viver um amor tão bonito quando o de um casal heterossexual. Neste caso, os dados foram diretamente influenciados pela idade e religião dos entrevistados. De acordo com a pesquisa, os católicos se mostraram intolerantes em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, e os evangélicos se sobressaíram como o grupo mais intolerante à homossexualidade. Já os jovens formam o grupo mais tolerante, enquanto os idosos são os mais intolerantes.

De acordo com o presidente do Ibdfam Rodrigo Pereira, os dados mostram a necessidade de uma mudança no âmbito do direito para proteger as novas estruturas familiares que vêm sendo formadas. “Aqui que entra a importância do direito de família para trazer essas inovações ao traduzir uma nova realidade. Na medida em que o judiciário e o legislativo vem absorvendo essas novas estruturas familiares, como os casais homoafetivos, isso vai se instalando na sociedade. É um processo histórico lento mas, sendo otimista, ao olhar para trás, notamos que muita coisa já melhorou. O que não significa que ainda temos muito o que evoluir”. (O Tempo)

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