O mistério em torno do desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines aumentou ainda mais em meio a revelações de que o avião voou por horas depois do último contato com a torre de controle.
As buscas agora se concentram em vastas áreas no norte e no sul da Malásia, após sinais detectados por satélite indicarem que a aeronave estaria em algum ponto de dois corredores, um que se estenderia do norte até a Ásia Central ou outro, do sul em direção ao Oceano Índico.
A revelação no sábado passado, feita pelo primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, sugere que o Boeing 777 foi intencionalmente desviado da rota por alguém dentro do avião uma hora depois da decolagem.
Com esses dados mais recentes, a BBC preparou algumas respostas a dúvidas sobre as últimas horas do misterioso voo.
Quanto o último contato foi feito?
O voo MH370 partiu do aeroporto internacional de Kuala Lumpur à 0h41 hora local de sábado (15h41 de Brasília na sexta-feira), e deveria aterrissar em Pequim, na China, às 6h30 hora local (19h30 de Brasília). A Malaysia Airlines diz ter perdido o contato com a aeronave uma hora depois da decolagem. Nenhum alerta de emergência ou mensagem foram enviadas.
O ACARS (sigla em inglês para Aircraft Communications Addressing and Reporting System), um sistema que permite a troca de mensagens curtas e simples por meio de radar e satélite entre o avião e autoridades em solo, foi desligado pouco tempo depois das 1h07 quando a aeronave cruzou a costa leste da Malásia.
Às 1h19, o copiloto disse: ‘Tudo certo, boa noite’. O transponder do avião, um aparelho eletrônico que emite uma resposta com dados como identificação, velocidade, altitude e posição da aeronave sempre que recebe um sinal de rádio-frequência, foi desligado após a última comunicação com o controle de tráfego aéreo da Malásia na fronteira do espaço aéreo com o Vietnã sobre o Mar do Sul da China.
Às 1h37, a próxima transmissão ACARS deveria acontecer, mas não foi enviada.
O que aconteceu depois?
Pela rota original, o avião deveria ter seguido a noroeste, pelo Camboja e Vietnã. Por essa razão, a busca inicial se concentrou no Mar da Sul da China, ao sul da península vietnamita de Ca Mau.
embros da tripulação eram todos malaios, liderados pelo piloto Zaharie Ahmed Shah, de 53 anos, e o copiloto, Fariq Adbul Hamid. A polícia revistou a casa de Shah e Hamid. Um simulador de voo foi apreendido da casa do piloto. Mas registros de um radar militar, revelados mais tarde, sugeriram que o avião mudou seu percurso e seguiu para o oeste.
As buscas, envolvendo dezenas de navios e aviões, foram, então, direcionadas para a costa oeste da Malásia. A última comunicação do voo MH370 com um satélite, revelada uma semana após o desaparecimento do avião, sugeriu que o avião teria seguido por dois corredores aéreos, um se estendendo da Tailândia e o Cazaquistão, e outro do sul da Indonésia ao Oceano Índico.
A hora da última comunicação confirmada com o satélite foi às 8h11 hora local (21h11 de Brasília), o que sugere que o Boeing teria continuado voando por quase sete horas depois do último contato com a torre de controle.
Investigadores agora estão tentando calcular a distância que o avião teria voado depois do término das comunicações.
Quem estava a bordo?
Acredita-se agora que as últimas palavras do avião teriam sido ditas pelo copiloto Hamid, ‘Tudo certo, boa noite’, mas ainda não está claro se o ACARS foi deliberadamente desligado. Havia a bordo 227 passageiros, incluindo 153 chineses e 38 malaios. Sete deles eram crianças. Outros passageiros vinham do Irã, Estados Unidos, Canadá, Indonésia, Austrália, Índia, França, Nova Zelândia, Ucrânia, Rússia, Taiwan e Holanda.
Entre os chineses, havia uma delegação de 19 artistas proeminentes que haviam participado de uma exibição em Kuala Lumpur.
Por causa do número de cidadãos a bordo, o governo chinês permanece bastante envolvido nas buscas e já expressou frustração com a lentidão das investigações. A Malaysia Airlines afirmou que quatro passageiros fizeram ‘check in’, mas não apareceram no aeroporto.
O avião pode ter sido alvo de um ataque terrorista?
A mudança na rota da aeronave foi consistente com ‘uma ação deliberada dentro do avião’, afirmaram autoridades da Malásia. Mas ainda não se sabe se a alteração no percurso foi realizada pela tripulação ou por sequestradores a bordo. Nenhum grupo terrorista assumiu até agora a autoria do sequestro.
Investigações iniciais se concentraram em dois passageiros que viajaram com passaportes roubados. Os dois homens eram iranianos: Pouria Pouria Nour Mohammad Mehrdad, de 19 anos, e Delavar Seyed Mohammadreza, de 29. O destino final de ambos era a Europa, após conexão em Pequim. Não foi descoberto nenhuma associação entre eles e grupos terroristas.
Outras hipóteses para o desaparecimento
Algumas hipóteses iniciais sugeriram que o avião pudesse ter sofrido uma despressurização no ar, mas autoridades da Malásia dizem que agora as investigações estão focadas nas ações da tripulação. O piloto Zaharie Ahmed Shah, que possuía mais de 18 mil horas de voo, fazia parte dos quadros da companhia desde 1981.
As condições meteorológicas do voo também eram boas. Além disso, a Malaysia Airlines tem um bom histórico de segurança e o avião, um Boeing 777-200ER, é considerado um dos mais seguros do mundo por causa de sua tecnologia moderna.
Um avião pode ter desaparecido sem deixar vestígios?
O desaparecimento de um avião moderno por tanto tempo, sem deixar vestígios, é um episódio com poucos precedentes na história da aviação civil.
Em 2009, a queda do Airbus A-330 da Air France no meio do Oceano Atlântico permaneceu inexplicada por quase dois anos até a caixa-preta do avião ser encontrada, a quase 4 mil metros debaixo do mar. Três investigadores franceses envolvidos no acidente da Air France foram chamados para colaborar nas buscas pelo avião da Malaysia Airline.
O que aconteceu nas últimas horas do voo MH370 talvez só seja conhecido quando as caixas-pretas forem achadas.
Os aparelhos emitem sinais ultrassônicos que podem ser detectados debaixo d’água. Sob boas condições, as frequências podem ser captadas a quilômetros de distância.
(G1)