A história de vida de dona Maria Geralda Silva, nascida no Turvo, em Itabira, é um exemplo de superação. Hoje com 80 anos, ela sofreu um acidente aos dez anos e perdeu as mãos e parte dos braços, quando ajudava as tias a moer cana na zona rural de Bom Jesus do Amparo. Como ainda era criança, muitos pensavam que nunca mais conseguiria trabalhar. Mas ela não desistiu.
(Foto: Sérgio Santiago)
Na época o pai havia desaparecido e a mãe trabalhava na roça para cuidar das filhas – ela era a mais velha e também ajudava. Mesmo sem as mãos e parte dos braços, Maria Geralda aprendeu a ler, escrever, faxinar, costurar e bordar. Fez muitos vestidos, inclusive de noiva, e ensinou outras pessoas a arte da alfaiataria. Durante todo o tempo, contribuiu com o INSS e se aposentou como trabalhadora algumas décadas depois.
Conhecemos dona Maria no Centro Viva a Vida, durante consulta com o mastologista, Dr. Danilo Costa.
O caso
O acidente que quase custou a vida desta itabirana aconteceu durante uma tarde, na década de 1940, quando ela colocava cana entre as moendas do engenho tocado à força animal na casa de uma tia. Em um segundo de distração, Maria Geralda teve as duas mãos esmagadas pelo equipamento. Diante da situação, todos entraram em desespero, sem saber o que fazer.
O triste fato aconteceu em uma comunidade rural de Bom Jesus do Amparo, onde na época nem acesso tinha direito. Maria lembra que carro não era comum naqueles anos, então, sem condição de ir a um hospital, ela passou a noite ferida em casa. Os parentes buscaram socorro só no dia seguinte pela manhã. Ainda consciente, mas muito abatida, ela se lembra de ter sido carregada em maca até Bom Jesus do Amparo, de onde seguiu para Santa Bárbara.
Após a cirurgia, o médico responsável pelo atendimento, doutor Darcy Mota, continuou ajudando-a. “Digo que sempre encontrei anjos em meu caminho”, afirma. Como o lugarejo onde morava era muito afastado, ela se mudou com a mãe para a cidade onde, num asilo, foi cuidada por uma irmã francesa.
Superação
Maria Geralda afirma que pessoas próximas, parentes inclusive, sugeriram que sua mãe a levasse à Serra do Piedade para pedir esmolas. “Eles diziam que, devido à minha triste condição, ganharia muito dinheiro. Aquilo me deixava muito triste”, recorda. Na casa onde passou a morar, ninguém a forçava a fazer nada. Mesmo assim, ela sempre queria aprender alguma coisa. “Quanto eu conseguia fazer alguma coisinha, me sentia gente”.
Quando descobriram que ela estava escrevendo, foi uma festa. Sob os cuidados da irmã de caridade, aprendeu a falar francês e a fazer trabalhos de faxina considerados complicados para uma pessoa na sua situação. “Faxinava com muito cuidado para não quebrar nada. Pensava que, se eu fizesse tudo atrapalhado, seria uma tristeza. Então trabalhava sem fazer bagunça”, conta.
A contribuição ao INSS foi feita com o que recebia dos trabalhados como costureira. Maria Geralda conta que até fiscal foi escalado pela instituição para verificar se ela trabalhava mesmo. Apesar de todas as dificuldades, ela nunca se desesperou. Só não se casou porque as irmãs não eram de acordo, com medo de que pudesse sofrer com alguma exigência do marido. Mas pretendente ele teve – e mais de um.
Para quem acha que a vida não anda valendo a pena, Maria Geralda deixa um recado: “A gente nunca deve se desesperar, porque tudo tem saída. Minha alegria é poder fazer alguma coisa todos os dias. Nunca devemos nos desesperar porque Deus está na frente e com ele a gente chega lá”.
(Fonte: Portal DeFato)