Há 40 anos, o motorista José Maria Silva Ferreira, na época com 26 anos, conheceu a estudante Emerenciana das Dores Pinheiro, 10 anos mais nova, na cidade de Minas Novas, Vale do Jequitinhonha. Foi paixão à primeira vista e a união dos dois foi abençoada apenas na igreja católica da cidade.
O tempo passou e nasceram quatro filhos e quatro netos. Mas a união nunca havia sido oficializada na Justiça, ora por comodidade, falta de tempo ou falta de condições financeiras do casal, que tinha outras prioridades, dentre elas, educar e sustentar os filhos.
Na sexta-feira (21/10), com o apoio do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da Comarca de Minas Novas (Alto Jequitinhonha), ligado ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), finalmente eles se casaram, juntamente com outros 165 casais, em um dos maiores mutirões de casamentos comunitários realizados em Minas Gerais.
O evento parou a cidade de Minas Novas, sede da Comarca, além de mobilizar centenas de pessoas nas cidades de Berilo, Francisco Badaró e Jenipapo de Minas, que também integram a comarca. No próximo dia 28, outros 26 casamentos serão realizados na cidade de Chapada do Norte, igualmente ligada à Comarca de Minas Novas.
Cejusc
“A experiência de testemunhar o casamento comunitário realizado no Cejusc de Minas Novas foi muito gratificante. O evento trouxe cidadania para quase duas centenas de casais e revelou o espírito de solidariedade do juiz Otávio Scaloppe Nevony e das comunidades que integram aquela circunscrição judiciária”, disse a 3ª vice-presidente do TJMG, desembargadora Ana Paula Nannetti Caixeta. A 3ª Vice-Presidência é a responsável pelas ações de conciliação do TJMG realizadas pelos Cejuscs.
O diretor do foro de Minas Novas, juiz Otávio Scaloppe, sonhava em promover o grande mutirão para regularizar as uniões civis dos casais. “Estamos no Vale do Jequitinhonha e sabíamos da carência de muitos casais que já viviam juntos, mas não tinham condições de arcar com as despesas de um casamento civil”, disse o magistrado.
Com a chegada do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) à Comarca de Minas Novas, o panorama começou a mudar. “O Cejusc não possibilita apenas acordos que evitam novas ações na Justiça, mas também tem a importante missão de estabilizar as relações sociais entre as pessoas, e foi ferramenta fundamental para a nossa iniciativa”, frisou.
Em agosto, com a ajuda do gerente de Distribuição e Contadoria da Comarca de Minas Novas, Bernardo Vieira, e das estagiárias do Cejusc, Márcia Pereira da Silva e Elisa Ferreira, o juiz Otávio Scaloppe procurou as prefeituras que fazem parte da comarca e a Associação Comercial de Minas Novas. O objetivo era ter apoio para a realização não apenas das uniões civis, mas também de uma confraternização para aproximadamente 2,5 mil pessoas.
Alcance
O apoio chegou e o próximo passo foi divulgar o evento por meios de redes sociais e em uma rádio de Minas Novas. Para a surpresa do juiz, mais de 200 casais procuraram a comarca para se inscrever no mutirão.
“A divulgação foi tão boa que recebemos um pedido de casamento de um casal que mora no estado do Rio de Janeiro”, disse o magistrado, que fez questão de ir além da legalização civil.
“Não queríamos que o casamento se resumisse apenas em uma cerimônia oficial. Nosso objetivo era promover uma grande comemoração, com decoração, barracas de alimentação, bebidas e artesanato local, buffet, serviços de fotografia e até com a presença de uma banda local para animar ainda mais”, disse o juiz.
Cerimônia
Os casamentos foram oficializados no final da tarde com a presença de aproximadamente mil pessoas entre noivos e convidados. Para o show, os organizadores estimaram a presença de 2,5 mil pessoas.
Foram convocados para a cerimônia o frei da cidade de Minas Novas, Jeferson Felipe Cruz, e o pastor evangélico Helvécio Antônio dos Santos, que abençoaram os 166 casais. O palco do evento foi o Parque de Exposições de Minas Novas, único local da cidade capaz de abrigar tantos convidados.
“O casamento civil auxilia na programação e planejamento familiar, sobretudo nas questões previdenciárias, em eventuais pedidos de pensão por morte, e em questões patrimoniais. Mas nosso principal objetivo era regularizar a situação dos casais por uma questão humanitária, pois muitas pessoas tem o casamento como um ideal de vida”, acrescentou o juiz Otávio Scalope.
Como a maioria dos casais é financeiramente vulnerável, todos os detalhes foram providenciados, desde o transporte entre as cidades e a sede da comarca, até as roupas de muitos noivos e noivas que não tinham condições financeiras para comprar vestimentas adequadas para a ocasião.
Nostalgia
Emerenciana das Dores Pinheiro se lembra com nostalgia de quando conheceu o seu agora marido, o motorista José Maria Ferreira da Silva. “Eu era muito nova e quando o vi pela primeira vez foi paixão à primeira vista. Ele realizou um trabalho para minha família e logo em seguida começamos a namorar. Foi o único homem com quem estive por toda a minha vida”, lembrou Emerenciana, atualmente com 56 anos. Da união, nasceram quatro filhos, Ana Maria, com 32 anos, Pedro, com 26, Elton com 25 e o caçula Gustavo, com 24 anos. A filha Ana Maria deu quatro netos ao casal.
Mesmo com todas as dificuldades, Emerenciana fala da oficialização do casamento com muito bom humor. “Uma amiga me informou sobre a iniciativa da Justiça e me inscrevi para o casamento na última hora, porque, na verdade, estava com muito medo de casar”, disse Emerenciana, em meio a risadas. Nos últimos dias, a casa de Emerenciana e José Maria ficou lotada com os parentes que chegaram de várias outras cidades de Minas e de São Paulo.
Sonho realizado
Outro casal que oficializou o matrimônio na sexta-feira 921oi Joaquim dos Reis Borges de Oliveira e Maria Gleiciane Gomes da Silva Costa, que estão juntos desde 2009. Ele, operador de motosserra, e ela, dona de casa, têm dois filhos, Mateus com 12 anos e Neimar, com sete anos.
“Para nós, foi uma grande oportunidade, pois não tínhamos condições financeiras para um casamento. A iniciativa permitiu a realização de um sonho que era ter um documento que oficializasse a nossa união”, frisou Joaquim.
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