China lança módulo central de estação espacial permanente

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A China enviou nesta quinta-feira (29/4/2021) ao espaço o módulo central de sua primeira estação espacial permanente, dando início a uma série de missões de lançamento que visam concluir a construção até o final do próximo ano.

O foguete Longa Marcha-5B Y2, que transportava o módulo Tianhe, decolou do Campo de Lançamento de Naves Espaciais de Wenchang, na costa da província insular de Hainan, no sul do país, às 11h23 (Horário de Beijing).

O módulo Tianhe atuará como o centro de gerenciamento e controle da estação espacial Tiangong (Palácio Celestial), com uma unidade que pode acoplar até três espaçonaves por vez para estadias curtas, ou duas para estadias longas, revelou Bai Linhou, subchefe projetista da estação espacial da Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST, em inglês), da China Aerospace Science and Technology Corporation.

O Tianhe tem comprimento total de 16,6 metros, diâmetro máximo de 4,2 metros e massa de decolagem de 22,5 toneladas. É a maior espaçonave desenvolvida pela China.

A estação espacial será em forma de T com o módulo central no meio e uma cápsula de laboratório em cada lado. Cada módulo terá mais de 20 toneladas. Quando a estação atracar com espaçonaves tripuladas e de carga, seu peso pode chegar a quase 100 toneladas.

A estação operará na órbita baixa da Terra a uma altitude de 340 km a 450 km. Tem uma vida útil projetada de 10 anos, mas os especialistas acreditam que pode durar mais de 15 anos com manutenção e reparos adequados.

“Aprenderemos como montar, operar e manter grandes espaçonaves em órbita e pretendemos transformar o Tiangong em um laboratório espacial estatal que apoie a longa permanência de astronautas e experimentos científicos, tecnológicos e de aplicação em larga escala”, disse Bai.

“A estação também deve contribuir para o desenvolvimento pacífico e a utilização dos recursos espaciais por meio da cooperação internacional, bem como para enriquecer as tecnologias e a experiência para futuras explorações da China em espaços mais profundos”, apontou Bai.

Sistema de suporte de vida

Como base da estação, o Tianhe ajudará os engenheiros aeroespaciais da China a realizarem a verificação de tecnologias-chave, incluindo asas solares flexíveis, montagem e manutenção em órbita e, acima de tudo, um novo sistema de suporte de vida.

A China também enviará este ano a nave de carga Tianzhou-2 e a nave tripulada Shenzhou-12 para atracar com o módulo central. Três astronautas estarão a bordo da Shenzhou-12 e ficarão em órbita por três meses, anunciou Hao Chun, diretor da Agência Espacial Tripulada da China (CMSA, na sigla em inglês).

“Vamos transportar primeiro materiais de apoio, peças de reposição necessárias e equipamentos e depois nossa tripulação”, destacou Hao.

A nave de carga Tianzhou-3 e a nave tripulada Shenzhou-13 também serão lançadas no final deste ano para atracar com Tianhe. Outros três astronautas começarão sua estadia de seis meses em órbita.

A mais longa estadia no espaço até agora pelos astronautas chineses é de 33 dias. “Nas missões anteriores, enviamos água e oxigênio para o espaço junto com astronautas. Mas para uma estadia de três a seis meses, água e oxigênio lotariam a nave de carga, deixando nenhum espaço para outros bens e materiais necessários. Então instalamos o módulo central com um novo sistema de suporte de vida para reciclar urina, condensado de respiração exalado (EBC) e dióxido de carbono”, explicou Bai.

Com o sistema, a urina pode ser processada em água destilada, um pouco dela pode ser usada para descarga de banheiros e o resto, juntamente com a água EBC coletada, pode ser purificado ainda mais para geração de oxigênio eletrolítico e experimentos, apontou Cui Guangzhi, designer do sistema de tratamento de urina, um subsistema do sistema de suporte de vida, do Segundo Instituto da China Aerospace Science and Industry Corporation Limited (CASIC).

“A reciclagem de água pode diminuir a carga da nave de transporte e reduzir consideravelmente o custo operacional da estação espacial”, explicou Cui.

Bai Linhou ressaltou que o sistema de suporte de vida foi desafiador. “Nunca foi usado nas missões espaciais anteriores da China. O ambiente de gravidade diferente no espaço torna difícil aperfeiçoar a tecnologia na Terra”.

“A tecnologia de suporte de vida é uma obrigação para os astronautas ficarem na Lua ou explorarem um espaço mais profundo. Desenvolveremos a tecnologia passo a passo, primeiro reciclando água e oxigênio na Tiangong e, em seguida, plantando vegetais e culturas no espaço para realizar gradualmente a autossuficiência alimentar”, acrescentou Bai.

Inovação tecnológica

Após as cinco missões de lançamento deste ano, a China planeja seis missões, incluindo o lançamento dos módulos de laboratório Wentian e Mengtian, duas naves espaciais de carga e duas naves espaciais tripuladas em 2022 para concluir a construção da estação espacial.

“Temos que garantir que cada lançamento seja confiável e que a operação da espaçonave em órbita seja segura e sólida. Cada missão é um teste para nossa capacidade de organização, gestão, tecnologia e suporte”, disse Zhou Jianping, designer-chefe do programa espacial tripulado da China.

A estação oferecerá aos astronautas mais de 100 metros cúbicos de espaço para viver e trabalhar, mais de seis vezes o do laboratório espacial Tiangong-2. O módulo central Tianhe fornecerá aos astronautas seis zonas: para trabalho, sono, saneamento, refeição, cuidados de saúde e exercícios.

Se o Tiangong-1 e o Tiangong-2 são como apartamentos de um só quarto, a estação espacial é equivalente a um apartamento com três quartos, uma sala de estar, uma sala de jantar e uma sala de armazenamento.

Pesquisadores e engenheiros também tornaram o trabalho e a vida no espaço mais confortáveis e convenientes por meio de tecnologias de informação e inteligência artificial avançadas.

Os astronautas podem controlar a iluminação da cabine e equipamentos de cozinha através do app do aparelho e interfonar uns aos outros ou se comunicar com a Terra sem fio. A grande largura de banda também pode suportar a transmissão de enormes quantidades de dados de experimentos para a Terra.

A velocidade de rede mais rápida entre o espaço e a casa também permitirá que os engenheiros carreguem programas de software modificados para a estação espacial.

Os braços mecânicos instalados na estação espacial ajudarão os astronautas em seus trabalhos de montagem, operação e manutenção.

A estação também será mais eficiente em termos de energia, já que a eficiência de conversão fotoelétrica de seu sistema fotovoltaico passa dos 30%, e se utiliza propulsão elétrica em vez de propulsão química convencional, explicou Zhou.

Estratégia de três etapas

Em 1992, a China iniciou o programa espacial tripulado com uma estratégia de três etapas. O primeiro passo foi enviar astronautas para o espaço e trazê-los de volta com segurança. Os lançamentos da Shenzhou-5 em 2003 e Shenzhou-6 em 2005 cumpriram a missão.

O segundo passo foi testar as principais tecnologias necessárias para uma estação espacial permanente, incluindo atividade extra veicular, acoplamento orbital e reabastecimento de propelente em órbita.

Esta fase incluiu o lançamento do Tiangong-1, uma plataforma transicional para testar a tecnologia de acoplamento, e do laboratório espacial Tiangong-2.

A China lançou 11 naves tripuladas, uma nave espacial de carga, Tiangong-1 e Tiangong-2, enviando 11 astronautas para o espaço e completando os dois primeiros passos do programa espacial tripulado.

O terceiro passo é montar e operar uma estação espacial permanentemente tripulada, que marcará uma nova marca na tecnologia espacial da China.

Bai Linhou disse que a estação poderá suportar no máximo seis astronautas ao mesmo tempo. Lançamentos regulares de naves tripuladas e de carga garantirão uma presença tripulada de longo prazo para realizar pesquisas e serviços em órbita.

Engenheiros de voo e especialistas em carga estão entre a reserva de astronautas pela primeira vez, para atender às necessidades de manutenção e pesquisa avançada da estação espacial.

Uma instalação tão grande fornecerá muitas oportunidades para pesquisas científicas e experimentos tecnológicos, disse Zhou. “Certamente enriquecerá nossa compreensão do universo e promoverá o desenvolvimento em ciência, tecnologia e aplicações.”

Espera-se que a reprodução de sementes, a pesquisa farmacêutica e o desenvolvimento de materiais críticos na estação espacial produzam benefícios econômicos. A tecnologia de suporte à vida e a tecnologia energética também provavelmente beneficiarão o desenvolvimento econômico e social.

Hao Chun prevê que a estação espacial se tornará uma excelente plataforma para a educação científica popular, como cursos online desde o espaço e demonstração de projetos de ciência espacial projetados por estudantes.

Em junho de 2013, a astronauta Wang Yaping deu a primeira aula de ciências televisionada do país desde o espaço para uma audiência de mais de 60 milhões de escolares e professores em toda a China. A aula durou 40 minutos sobre os princípios básicos da física e despertou sonhos espaciais de milhões de estudantes chineses.

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