ESQUECIDOS: Vítimas da enchente em Araçuaí denunciam abandono da administração pública

0

Entregues à própria sorte e dependendo da ajuda de vizinhos, parentes e amigos.

Esta é a realidade de dezenas de famílias que foram atingidas pela enchente, na região da Baixada, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.

Muitas perderam tudo que tinham, como a dona de casa, Maria Leite Costa, 38 anos, residente na Rua das Sete Casas, na Praça da Cadeia. “Até o momento, ninguém apareceu por aqui com produtos de limpeza, cesta básica, remédios ou qualquer outra ajuda para os atingidos. Estou me virando sozinha”, disse ela que precisou alugar uma casa de dois cômodos, por R$ 150, para não ficar desabrigada, juntamente com os filhos, depois que as águas inundaram sua casa. “Perdi colchões, roupas, utensílios, alimentos. Vou buscar meus direitos. Não tenho como ficar nesta situação”, afirmou Maria Leite.


Uma idosa ficou atolada na lama e teve de ser auxiliada por moradores para chegar até sua casa

SEM ALIMENTOS

Sua vizinha, a faxineira Rosa Gomes de Sousa, 40 anos, mostrava as panelas vazias. “Moro sozinha e estou desempregada. Tenho apenas um pouco de arroz, um litro de óleo e nada mais. Estou desesperada. Meu aluguel venceu, não sei como pagar.”, lamentava Rosa com os olhos cheios de lágrimas. “Não consegui nem um carro para apanhar minhas coisas. Até o momento não vi nenhuma autoridade aqui no bairro para orientar o que deve ser feito. Precisamos de cestas básicas, remédios, roupas de cama”, diz Rosa Gomes.

HUMILHAÇÃO E DESCASO

Ela contou que foi até a Câmara dos vereadores em busca de ajuda, para ela e vizinhos. “Um vereador me deu R$ 5 e outro, R$ 2 reais. Fiquei envergonhada. Aceitei, mas me senti humilhada”, disse ela, defendendo a abertura de frentes de trabalho para ajudar os atingidos pela enchente. “Não queremos esmolas, mas respeito e assistência a que temos direito”, desabafou.

ILHADOS E ESQUECIDOS

Depois de ficarem ilhados pela água, agora moradores da Praça dos Inconfidentes, próxima à ponte sobre o rio Araçuaí estão ilhados pela lama. Uma idosa de 82 anos ficou atolada quando tentava retornar para casa, na tarde desta quinta-feira (26). Ela foi auxiliada por uma moradora.

Quem mora nas proximidades estão se sujeitando a atravessar a praça com lama até os joelhos, para chegar até suas casas. Os moradores reclamam da dificuldade de acesso, inclusive para a entrega de alimentos. “Nenhum carro passa por aqui para entregar nossas compras de supermercados”, reclamam. “Deveriam retirar pelo menos a lama”, afirmam.

TEMENDO PELO PIOR

Agora, o medo maior dos moradores é com a proliferação de doenças. Toda a região está infestada por moscas, pernilongos, cobras, escorpiões e mosquitos da dengue.

Há muitas crianças e idosos com marcas de feridas provocadas por picadas de insetos.

O mau cheiro, lixo e entulho tomam conta da região.

Há muitas árvores caídas e a maioria dos quintais permanecem alagados. “Estamos temendo pelo pior. Onde estão as autoridades? Esqueceram da gente. Para a prefeitura, só existem os que estão abrigados em escolas. E os que não foram para abrigos públicos, não contam? Por aqui não apareceu nem prefeito, nem vice-prefeita, nem vereador, nem membro da Defesa Civil, nem assistente social.”, reclama a dona de casa, Mônica Cardoso dos Santos, 21 anos, mãe de duas crianças de 4 e 7 anos. “Meus filhos adoeceram. Sentem vômitos e dores de cabeça. Os PSFs e a policlínica estão fechados há dois dias. Isto é um absurdo. O pior vem agora, depois que o sol se abriu. Cadê os médicos pagos com nosso dinheiro e que deveriam estar orientando a população? Sumiu todo mundo. Ninguém aparece para saber como estamos e na hora em que mais precisamos”, disse revoltada a dona de casa.

“O que mais nos revolta é porque pagamos impostos e não recebemos nada em troca. Estamos esquecidos.”, resumiu o funcionário publico Miguel Cardoso Júnior.

DESAPARECIDOS

Há 4 dias a reportagem tenta localizar sem sucesso, o presidente da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Araçuaí. Ele nunca é encontrado no local de trabalho (Secretaria Municipal de Agricultura) e o celular permanece fora de área.

Nenhum telefone atende na prefeitura, que está fechada desde a antevéspera do Natal.

Todos os celulares das autoridades municipais estavam fora de área na tarde desta quinta-feira (26). A chefia de gabinete da prefeitura, não respondeu às mensagens enviadas por e-mail, há 3 dias; com pedido para comentar sobre a situação das enchentes.

Por ordem da assistente social, Salete Alves Santos, da Secretaria Municipal de Assistência Social, nenhuma informação deve ser repassada à imprensa. Um péssimo exemplo de cidadania e de incompetência profissional.

O prefeito decretou situação de emergência no município, mas não concedeu nenhuma entrevista à imprensa para falar sobre o assunto.

A coordenaria Estadual de Defesa Civil, através da assessoria de Comunicação, informou que ainda não recebeu nenhum relatório da prefeitura de Araçuaí sobre os dados da situação local.

Fonte: Gazeta de Araçuaí, por Sérgio Vasconcelos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui