Setor leiteiro de Minas Gerais enfrenta novos desafios criados pela pandemia

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Minas Gerais é o principal produtor de leite do Brasil. Com 9 bilhões de litros por ano, o estado responde por 26% do volume nacional. No Dia Mundial do Leite, comemorado em 1 de junho, a importância estratégica do setor, considerado um dos mais tradicionais do meio rural, é evidenciada. Criada pela FAO, órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a data é também uma oportunidade de valorização do produto e todos os seus derivados, especialmente os queijos artesanais que projetam o nome de Minas mundo afora.

A secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ana Maria Valentini, ressalta a importância da cadeia produtiva para o estado. “O leite é um alimento rico em nutrientes e acessível à população. Além disso, o setor é importante fonte de emprego e renda, contribuindo com 12,5% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), estimado em R$ 73 bilhões para 2020”, destaca. As exportações mineiras de produtos lácteos, no ano passado, totalizaram US$ 16,5 milhões. 

Neste ano, o Dia Mundial do Leite ocorre durante a pandemia de covid-19. Na avaliação do diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Feliciano Nogueira de Oliveira, um grande desafio, nesse contexto, é a manutenção da atividade leiteira. “Houve uma redução generalizada do mercado varejista, devido ao fechamento de bares, restaurantes e lanchonetes que são grandes compradores de produtos lácteos”, explica.

Uma pesquisa aplicada pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) em cerca de 400 estabelecimentos de produtos lácteos mostra que mais da metade apresenta algum nível de comprometimento após a pandemia, devido ao fechamento do mercado varejista. “Mas não recebemos informações sobre descarte de leite no estado. O estabelecimento com dificuldade de vender fez o repasse do leite para indústrias maiores que produzem outros tipos de derivados como o leite em pó ou o leite UHT, que têm validade maior”, explica o diretor técnico do IMA, Bruno Rocha de Melo. 

Assistência Técnica

Para acompanhar os produtores no enfrentamento à pandemia, a Emater-MG manteve os canais tradicionais de comunicação com os produtores e investiu em novas plataformas. Além do e-mail e do contato via WhatsApp, a empresa disponibilizou um número de celular exclusivo para tirar dúvidas e ampliou o uso das redes sociais com transmissões ao vivo. “Nossa preocupação é de passar dicas técnicas de como enfrentar esse período, além de informações sobre o mercado e sobre gestão da atividade. O objetivo é reduzir os custos de produção e orientar o produtor para que ele se mantenha na atividade”, detalha Feliciano Nogueira.  

É com uma gestão adequada de seu negócio que o produtor Aureo Cássio de Carvalho, do município de Santa Rita de Caldas, no Sul do estado, vem conseguindo manter as atividades, com produção de 18,5 mil litros de leite e faturamento em torno de R$ 30 mil mensais. “Com orientação dos técnicos da Emater-MG, planejei a compra de insumos que consigo armazenar, como ração, grãos e polpa cítrica, no pico da safra, quando o preço está melhor. Tenho um gado mais rústico, que responde bem ao pastejo e, na época das águas, os animais são levados para os piquetes. Agora, na seca, usamos silagem e concentrado na alimentação do rebanho, adquiridos na hora certa, com o preço favorável”, explica. 

Vendas online

Já Guilherme Ferreira é da quinta geração de uma família produtora do tradicional queijo Canastra, no município de São Roque de Minas, e viu seu negócio sofrer os impactos da pandemia. A produção de aproximadamente 50 peças por dia caiu para cerca de 30 unidades, devido ao isolamento social. “Os restaurantes paulistanos e a alta gastronomia sempre foram o nosso mercado. Com o fechamento desses locais, investimos no e-commerce, que está salvando a nossa vida”, conta. 

Defesa Agropecuária

Desde o início da pandemia, o IMA tem atuado para manter a situação sanitária sob controle no estado. Um plano de contingência foi elaborado pelo órgão, estabelecendo abordagem diferenciada nas fiscalizações e inspeções. “Estamos mantendo de forma efetiva as atividades essenciais de defesa agropecuária para que a população mineira tenha pleno abastecimento e com garantia de qualidade dos produtos agropecuários consumidos”, afirma o diretor técnico do IMA, Bruno Rocha.

Avanços na pesquisa

Há 85 anos, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais/Instituto de Laticínios Cândido Tostes (Epamig/ILCT), localizada em Juiz de Fora, desenvolve pesquisas aplicadas para produtos lácteos, melhoria de processos e inovações para a indústria de laticínios. O órgão foi responsável por introduzir no mercado nacional tecnologias europeias para fabricação de queijos e manteiga.

Segundo o coordenador do Programa Estadual de Pesquisas em Leite e Derivados da Epamig/ILCT, Júnio César de Paula, as empresas estão buscando o desenvolvimento de tecnologias, produtos e processos para atender uma população cada vez mais exigente e preocupada com a qualidade de vida. “Nossas pesquisas envolvem o desenvolvimento de produtos lácteos probióticos e de bebidas funcionais, como o Refrigerante do Bem, que tem propriedade antioxidante e efeito positivo na saúde ocular”, exemplifica.

Outros produtos desenvolvidos são o Kefirgerante, bebida láctea carbonatada à base de kefir; queijo adicionado com o corante luteína; o requeijão bioativo; além do desenvolvimento de produtos lácteos com alto teor de proteínas. Atualmente, a Epamig/ ILCT integra ensino, pesquisa e indústria, o que faz do instituto uma referência para mais de 60 países.

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