O senso comum e as histórias infantis apontam as galinhas como o alimento preferido das raposas. Nas cenas de gibis e desenhos de TV, o mamífero é retratado como um animal silvestre, bastante esperto e que vive próximo a granjas e galinheiros. No entanto, pesquisa apoiada pela Fapemig derruba o mito.
O estudo, desenvolvido no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), analisou os alimentos consumidos pelas raposas e apontou que elas não são os vilões do galinheiro. A pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), contou, ainda, com pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Segundo Katia Gomes Facure, coordenadora do estudo, algumas pessoas preferem culpar esses animais silvestres pelo desaparecimento das aves sem nenhum fundamento científico. “Na minha opinião, essa percepção existe porque as pessoas precisam encontrar um culpado pelo desaparecimento dos animais de criação e, na maioria das vezes, preferem acreditar que são as raposas ou outros canídeos silvestres”, conta.
Rotina
A fim de conhecer os hábitos destes mamíferos, os pesquisadores realizaram estudos em uma área de fazendas de gado no sul de Goiás. No período, acompanharam a rotina de três espécies de “cães” silvestres: a raposa-do-campo, o cachorro-do-mato e o lobo-guará. Os pesquisadores analisaram o excremento de cada grupo para detectar o tipo de alimento consumido pelos animais.
Por incrível que pareça, o principal alimento consumido pelas raposas não é nenhuma ave, mas, na verdade, insetos. De acordo com o estudo, os pratos prediletos das raposas-do-campo são os cupins, besouros escaravelhos, gafanhotos e grilos.
Os animais também se alimentam de frutos como goiaba e caçam pequenos vertebrados como os roedores. Além disso, na pesquisa, não foi encontrada nenhuma evidência do consumo de galinhas, apesar da oferta generosa em galinheiros localizados em fazendas da região estudada.
Foto: Frederico Gemesio Lemos / Reprodução Agência Minas
Cardápio variado
O estudo contou com a coleta de dados em uma mesma área durante o período de sete anos (de 2009 a 2015). Com isso, alcançou um número considerável de amostras de indivíduos, o que possibilitou caracterizar a dieta de cada grupo de maneira adequada.
De acordo com o resultado, a dieta da raposa é diversificada, incluindo alimentos de origem vegetal e animal. Com isso, este mamífero consegue obter nutrientes necessários para sobreviver e reproduzir. “Os animais coletados durante a pesquisa não apresentaram nenhum tipo de problema relacionado à má-nutrição. Pelo contrário, estavam bem de saúde, muitos com filhotes e alguns já em idade avançada”, disse Katia Gomes.
Para a pesquisadora, o estudo é importante pois torna possível conhecer melhor os hábitos alimentares das raposas-do-campo, cachorros-do-mato e dos lobos-guarás em uma área de fazendas, ou seja, ambientes constantemente modificados pelo homem. “Ao estudarmos as três espécies ao mesmo tempo e no mesmo local, também conseguimos avaliar a sobreposição existente entre elas na utilização dos recursos alimentares, fator fundamental para a compreensão de como homem e animais convivem e de que forma a relação pode ser benéfica para a conservação das espécies e a proteção da natureza”, finaliza.
Foto: Frederico Gemesio Lemos / Reprodução Agência Minas
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