Promotores de Justiça e autoridades do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) divulgaram detalhes, em entrevista coletiva nessa terça-feira (19), de parte do depoimento do vereador José Geraldo de Andrade (Avante), preso na operação Dolos, que investiga a manipulação de salários de servidores da cidade.
De acordo com o promotor Francisco Ângelo, o vereador José de Andrade afirmou que a prática criminosa contra a administração pública era comum e que sempre ocorria na Câmara de Ipatinga.
“Ele confessa os fatos a ele atribuídos. Ele disse que isso são fatos antigos, crônicos, que sempre ocorreram e resolveu aderir a essa conduta. Ele entende o caráter criminoso dessa conduta, mas achou que isso era pertinente. Ele disse que não tinha benefício pessoal direto com a arrecadação de dinheiro, mas, por outro lado, ele admite que distribuía esses valores para patrocínios, doações, certamente com interesse político. Mostra que o que estamos colhendo do MP, é o que realmente ocorria em relação a ele e outros parlamentares”, diz.
Além de Andrade, estão presos o irmão dele, Célio Andrade, os vereadores Luiz Márcio Rocha (PTC), Wanderson Gandra (PSC), Rogério Bento (Ex-PSL), além de Ivan Menezes Teixeira, assessor do vereador Paulo Reis (PROS), que segue foragido; a assessoria do parlamentar protocolou um pedido de renúncia na Câmara, mas, conforme determina a lei, só após a publicação do pedido ele deixa de compor o Legislativo.
Assessores vítimas do esquema
Sobre o esquema criminoso, o coordenador do Gaeco, Bruno Schiavo, afirmou que a maior parte dos assessores envolvidos nas ações foram vítimas do esquema, mas alguns também realizavam o ato ilícito. Segundo as investigações, os assessores faziam transferências para contas laranjas, onde o dinheiro iria para o vereador.
“Nós entendemos que, na maior parte dos casos, os assessores são vítimas. Vítimas de um crime que chama concussão. Se eles não repassassem parte do dinheiro, eles não trabalhavam. Então, eles estão na qualidade de vítima em razão pela qual não teriam que devolver nada. Alguns assessores já investigados entraram também no esquema, participando e recolhendo dinheiro. Estes, também em alguns casos, foram denunciados porque participavam, mas a maior parte deles é considerada vítima”, explica.
Próximos passos
Ainda segundo Bruno Schiavo, já existem outras investigações em curso com relação a outros vereadores da cidade. “Nós dividimos por fases. Essa é mais uma delas e esperamos concluir outros vereadores que também estão sendo investigados. Alguns com fase bem adiantada e contamos com o apoio também da população e da imprensa para que nós possamos ter conhecimento de tudo que ocorreu de errado na Câmara Municipal de Ipatinga”, finaliza.
Entenda o caso
A operação Dolos é uma ação em conjunta do Ministério Público, Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), polícias Civil e Militar. Segundo as investigações, vereadores de Ipatinga contratavam assessores e exigiam deles parte do salário de volta. Além de Wanderson Gandra, estão presos na Penitenciária de Ipaba os vereadores Rogério Antônio Bento (sem partido) e Luiz Márcio Rocha (PTC), além de um chefe de gabinete; o vereador Paulo Reis (PROS) é considerado foragido da Justiça.
De acordo com o MP, o esquema para arrecadar a verba acontecia de mais de uma maneira. A primeira delas no recebimento e entrega de valores em espécie ao representante do Legislativo por parte do funcionário contratado. A segunda modalidade era a retenção do cartão bancário, com o repasse de pequeno valor ao funcionário e manipulação na folha de ponto; muitos destes funcionários, segundo o Gaeco, eram “fantasmas”. A terceira, o vereador determinava a realização de empréstimos bancários por parte de servidores com o saque e transferência para contas de interpostas pessoas que eram usadas como laranjas visando maquiar o real destino dos valores.
De acordo com o Ministério Público, além do enriquecimento ilícito, o dinheiro exigido dos assessores servia para fortalecimento dos vereadores em bairros, visando as eleições municipais. Ao todo, 12 pessoas foram denunciadas na operação, entre vereadores, assessores, contadores, corretores de imóveis e comerciantes.
Uma Comissão Processante (CP) foi instaurada na Câmara Municipal para avaliar a condição dos vereadores investigados na operação Dolos, se houve quebra de decoro por parte dos parlamentares e, por consequência, tratar da manutenção deles no quadro de vereadores da Câmara. A comissão terá 90 dias para apresentar um relatório e após a apresentação haverá votação no plenário para eventual cassação dos mandatos dos parlamentares.
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(Fonte: G1 Vales)