Acusado de abuso sexual, médium João de Deus é preso em Goiás

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O médium João de Deus, de 76 anos, deve passar a noite deste domingo (16/12/2018) em uma cela individual e isolado dos demais detentos, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, denominado Núcleo de Custódia. Ele vai cumprir prisão preventiva, que não tem prazo para terminar.

A negociação para que o João de Deus tivesse tratamento diferenciado foi feita pelos advogados de defesa do médium, que argumentaram com a idade e o estado de saúde dele João de Deus e com o fato de ter passado por um câncer de estômago.

Paralelamente, os advogados Alberto Toron e Ronivan Peixoto Morais Júnior preparam para amanhã um pedido de habeas corpus na tentativa de que ele possa cumprir prisão em casa.

João de Deus é acusado e suspeito de ter abusado sexualmente de mais de 300 mulheres que o procuraram para cirurgias espirituais. As denúncias vieram de todo o país e também do exterior, após o programa Conversa com Bial, da TV Globo, ter entrevistado mulheres que se disseram molestadas pelo médium.

Vida pessoal

O médium João Teixeira de Faria é casado e tem nove filhos – a mais nova é uma menina de 3 anos.

Ele não cobra pelas consultas e operações espirituais realizadas na Casa Dom Inácio de Loyola, no município goiano de Abadiânia. No local, são vendidos livros, cristais bentos, garrafas com água “energizada” e remédios manipulados que prescreve pela farmácia chamada JTF (iniciais de seu nome).

João de Deus tem propriedades rurais, além de alguns imóveis em Abadiânia, e é sócio em um garimpo.

Ele era procurado pelas autoridades policiais desde sexta-feira (14), quando foi decretada sua prisão preventiva.

O médium João de Deus, que é acusado de abuso sexual – Marcelo Camargo/Agência Brasil

Interrogatório do médium João de Deus

João de Deus, que também é conhecido como João de Abadiânia, é interrogado na noite de hoje com base em 15 depoimentos coletados de mulheres que denunciaram diversos crimes sexuais. De acordo com o delegado-geral de Goiás, André Fernandes, será um interrogatório longo. Pela prática, cada caso será questionado separadamente, o que deve levar horas.

“Essa ação da Polícia Civil demonstra a seriedade. Em momento algum nós nos furtamos”, disse André Fernandes. “É o momento de a Polícia Civil confeccionar suas provas. Temos uma polícia séria e um Poder Judiciário sério. As vítimas que queiram procurar [a polícia], podem procurar.”

André Fernandes admitiu que o médium pode ser beneficiado em decorrência da idade elevada e do estado de saúde. Segundo o delegado, são benefícios assegurados na lei. Porém, ressaltou Fernandes, há semelhanças entre os depoimentos envolvendo vários suspeitas de crimes.

“Contra costumes diversos, mediante fraudes, várias tipologias pela equipe e que, ao final, teremos uma posição mais clara”, afirmou o delegado.

Após coletar 15 depoimentos, André Fernandes disse que há fortes indícios de culpa por parte do médium. “O que chama mais atenção é a singularidade de comportamento. Nesses depoimentos há um ato comum, um modus operandi [modo de agir] comum. A gente percebe uma igualdade de comportamento.”

Para o delegado, “é difícil” ocorrer uma acareação entre as mulheres e o médium, embora a possibilidade exista. Ele disse que voluntários e funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola, denunciados por cumplicidade, serão ouvidos.

Pela experiência, Fernandes afirmou que, após a prisão de João de Deus, a tendência é de mais denúncias surgirem. O delegado lembrou que, antes das acusações que vieram à tona no programa Conversa com Bial, há três denúncias em investigação.

Questionado sobre as denúncias, André Fernandes foi objetivo ao definir o conteúdo. “[Temos] vários depoimentos, o que reforça o comportamento de abuso.”

Defesa pedirá prisão domiciliar

A defesa de João de Deus apresentará nesta segunda-feira (17) pedido de habeas corpus para que ele cumpra em casa a prisão preventiva. A informação foi dada, há pouco, em entrevista coletiva, pelo advogado Alberto Toron, defensor do médium. O advogado quer que sejam considerados a idade e o estado de saúde de João de Deus.

Toron disse que, ao se entregar à polícia, João de Deus não passou mal, apenas tomou um medicamento para baixar a pressão. O advogado reiterou que o médium tem saúde debilitada, é idoso e já passou por um câncer.

O advogado Ronivan Peixoto Morais Júnior, que também defende o médium, negou que ele tenha escolhido se entregar em uma estrada de terra na região de Abadiânia, em Goiás, por questão de estrategia. Em entrevista coletiva, Ronivan Júnior disse que o local foi escolhido para “preservar” o médium. De acordo com informações da polícia, houve uma longa negociação para ele se entregar.

Inocência

Ronivan Júnior, que esteve todo o tempo ao lado de João de Deus, voltou a defender a inocência do cliente e disse que a defesa quer discutir a legalidade da prisão. O advogado informou que entrará amanhã com pedido de habeas corpus para garantir o direito de ir e vir do médium.

O advogado Alberto Toron defendeu o cumprimento de prisão domiciliar, considerando a idade e o estado de saúde do médium: “Respeita a Justiça e o Poder Judiciário.” Como Ronivan Júnior, ele negou que seu cliente seja culpado. “Tenho estranheza que fatos acontecidos há 30 anos sejam conhecidos agora”, afirmou.

Dinheiro

Questionado sobre a movimentação de cerca de R$ 35 milhões nas contas de João de Deus, o advogado considerou “normal”. De acordo com Toron, o médium não sacou o dinheiro, apenas retirou de aplicação. “O dinheiro não foi sacado, [ele] apenas baixou as aplicações”, afirmou. Com isso, “caiu por terra” a suspeita de fuga.

Além disso, acrescentou o advogado, João de Deus se manteve nas “cercanias” de Abadiânia e não deixou o estado de Goiás.

O advogado Ronivan Júnior disse que João de Deus poderia fazer movimentações financeiras, pois seus bens não estavam bloqueados. Para ele, a suspeita de ocultação de bens, como foi divulgado, pode ser um pré-julgamento do Ministério Público.

“Qual o problema de alguém movimentar sua conta? Existe um bloqueio de bens dele?”, reagiu o advogado. “É um pré-julgamento que o Ministério Público está fazendo.Não sei qual foi o tipo de denúncia foi fomentada, mas certamente para tentar justificar o bloqueio de bens dele.”

Filha

Ronivan Júnior disse que teve acesso a vídeos e depoimentos de Dalva Teixeira, filha de João de Deus, que acusou o pai de abuso sexual e estupro. Segundo o advogado, a mulher chegou a pedir desculpas para o pai e negar as acusações. Ele disse que a mulher foi levada por pressão familiar a fazer as denúncias.

Tanto Ronivan Júnior quanto Toron levantaram dúvidas sobre a credibilidade das mais de 330 denúncias de abuso sexual feitas contra João de Deus. Ronivan ressaltou que os atendimentos eram feitos em um espaço transparente, enquanto Toron disse estranhar que uma vítima retornasse ao local onde foi agredida.

Prisão em estrada rural

O médium João Teixeira de Faria, internacionalmente conhecido como João de Deus, entregou-se às autoridades policiais de Goiás, neste domingo (16/12/2018), por volta das 16h30, em área rural nas proximidades de Abadiânia, na região central do Estado. Um dos responsáveis pela rendição, o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, disse que João de Deus não apresentou resistência e que a prisão é preventiva, ou seja, sem prazo para terminar.

João de Deus, que estava acompanhado pelos advogados de defesa, apresentou-se ao delegado titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), Valdemir Pereira da Silva, e o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes. A rendição teve um longo período de negociação, disse Fernandes.

João de Deus é acusado e suspeito de ter abusado sexualmente de mais de 300 mulheres que o procuraram para cirurgias espirituais. As denúncias vieram de todo o país e também do exterior, após o programa Conversa com Bial, da TV Globo, que entrevistou mulheres que se disseram molestadas pelo médium.

Força-tarefa continua

O Ministério Público de Goiás (MPGO) divulgou nota informando que a força-tarefa formada para atuar no caso do médium João de Deus continuará com seus trabalhos.

“A força-tarefa que atua no caso de Abadiânia confirma o cumprimento, por parte da Polícia Civil, do mandado de prisão do médium João de Deus ocorrido no final da tarde deste domingo (16). Os promotores e promotoras intormam que os trabalhos da força-tarefa seguem normalmente nos próximos dias, no intuito de continuar realizando as oitivas das vítimas e produzir as denúncias a serem oferecidas”, diz a nota.

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(Fonte: Agência Brasil)

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