Emprego temporário de fim de ano é oportunidade de contrato definitivo

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As vagas temporárias para o fim do ano, principalmente no comércio, podem representar para muitos uma possibilidade de contratação definitiva ou uma renda extra para os gastos de dezembro e janeiro.

Em Brasília, pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) indicou que 31,8% dos empresários farão contratações temporárias. As vagas criadas serão aproximadamente 3,9 mil até o Natal. No ano passado, 16,3% contrataram e 3,8 mil postos temporários foram abertos. O levantamento ouviu 425 lojistas de shopping e de rua, de 15 setores diferentes, entre 7 e 9 de agosto.

O presidente da entidade, Adelmir Santana, ressalta que a expectativa de contratações ainda está distante dos patamares verificados em anos pré-crise econômica. “Quando a economia estava bem, lá em 2014, esse número era de 7 mil a 9 mil pessoas. Ainda não está estabelecida a confiança plena. Mas já é um sinal de recuperação quando eles [lojistas] dizem que vão contratar pessoas”.

Segundo Santana, com a crise, os empresários também estão retardando as contratações. A ideia é, primeiro, ter certeza de que haverá alta no movimento. “No passado [as contratações] eram na segunda quinzena de agosto. Este ano, a perspectiva é só a partir da segunda quinzena de novembro”, explicou.

Entre os segmentos pesquisados pela Fecomércio-DF, o de lojas de calçados e acessórios foi o que apresentou maior intenção de contratação temporária (36%), seguido por livraria e papelaria (20,3%); lojas de brinquedos (19%); floricultura e cestas (15,7%); chocolataria (15,5%); vestuário (11,2%); artigos para presente (11,1%); perfumaria e cosméticos (10,7%); eletroeletrônicos (8%) e relojoarias e joalherias (6,5%).

O empresário Júlio Cesar Alonso, que dirige 11 lojas de uma franquia de chocolatarias, informa que este ano contratará entre 30 e 35 pessoas para atuarem como temporários no seu negócio. Segundo ele, desde a Páscoa o setor vem registrando melhora no movimento.

“A gente vem recuperando faturamento e movimento. No shopping tem tido fluxo. As pessoas estão voltando a frequentar shoppings, a investir em lazer e a consumir supérfluos”, diagnosticou. Segundo ele, o processo de seleção de temporários começará na quinzena de outubro.

O lojista avisa que os temporários podem tornar-se efetivos caso mostrem bom desempenho.“Sempre vai ter a oportunidade de contratação, seja para substituir eventuais funcionários que não estão atendendo às necessidades ou mesmo com a criação de novas vagas”, diz.

O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Câmara Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) estimaram a abertura de 51 mil vagas extras no final deste ano a partir de pesquisa feita com 1.168 empresários dos setores de serviços e de comércio varejista, localizados nas capitais e interior do país.

Já a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê que mais de 73 mil pessoas serão contratadas pelo comércio brasileiro para as festas de fim de ano, com alta de 10% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram geradas 66,7 mil vagas temporárias de emprego.

Expectativas na crise do Rio de Janeiro

Moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a pedagoga da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) Patrícia Araújo Tavares, de 34 anos, está em busca de trabalho temporário para uma renda extra para os gastos do fim de ano. Assim como outros funcionários públicos estaduais com salários atrasados desde o ano passado e sem receber o décimo terceiro, ela está procurando alternativas para complementar a renda.

“Como o pagamento está irregular, estou procurando emprego em lojas de roupas, lanchonetes e pizzarias para trabalhar no fim de semana ou à noite, para reforçar a renda de final do ano. Vários colegas [da Faetec] estão vendendo doces, salgados, bolos”, conta.

O atraso no pagamento do funcionalismo fluminense aliado ao desemprego e ao crescimento da violência no estado são fatores apontados pelo presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL-Rio), Aldo Gonçalves, para a redução do número de vagas temporárias neste fim de ano.

Segundo estimativa do Centro de Estudos do CDL-Rio, o comércio lojista deve contratar 10 mil funcionários temporários para o período das festas de final de ano e para o verão, segundo a sondagem com 500 empresas dos setores de confecção e moda infantil, calçados, joias e bijuterias, óticas, eletroeletrônicos, papelarias, móveis e brinquedos.

As contratações previstas representam uma retração de 16% no número de empregados temporários admitidos no mesmo período do ano passado, que totalizou 12 mil. Para o presidente do CDL-Rio, o país ainda não saiu da crise econômica, apesar da tendência de melhora. “Além disso, o Rio de Janeiro está vivendo um momento muito ruim, com o crescimento da violência, com o desemprego e com o funcionalismo público estadual sem receber em dia”, disse.

Desempregado há três meses, o eletricista Luís Cláudio Alves da Cunha, de 45 anos, procurou um dos postos do Sistema Nacional de Emprego (Sine), no centro do Rio, no início de outubro, para recolocação profissional. Ele disse que, apesar de procurar uma vaga definitiva, vai aceitar contrato temporário na expectativa de ser efetivado.

Cunha acrescentou que também está buscando trabalho em outras áreas, como vendedor ou motorista. “Eu me sinto triste. A gente não espera [ser demitido]. Eu, pelo menos, fui indenizado”.

Expectativa de crescimento favorece criação de empregos temporários no Natal

O comércio varejista de todo o país deve aumentar neste ano entre 4% e 5,5% e, consequentemente, isso levará a uma expansão dos postos de trabalho temporário de final de ano, segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop). A entidade espera obter no Natal um crescimento de 2% e faturamento de R$ 34,3 bilhões, 4,3% superior a 2016, após uma sequência de estabilidade e resultados negativos.

A previsão é de que ocorra um aumento de 5,5% nas contratações de pessoal em comparação a 2016 e uma elevação de 7% no salário médio (R$ 1,2 mil). Só no período de novembro a dezembro, deverão ser gerados em torno de 115 mil empregos temporários – dessas vagas, de 60 a 70 mil se concentram no comércio e 10 mil no segmento de serviços. “E uma boa parte dessas vagas em shopping centers”, ressalta nota da Associação.

Dos 115 mil empregos, estima-se que entre 25 e 27% conseguirão permanecer no trabalho, percentual bem superior ao ano passado, quando apenas 15% dos temporários passaram a fazer parte do quadro efetivo.

Novas regras favorecem contratação

O presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, observou que as contratações pela Lei 13.429/2017, do trabalho temporário, aumentam a expectativa de admissões. “Antes, não poderíamos contratar temporários por horas determinadas, como em horários de pico. Agora, teremos uma situação bem melhor”, afirmou.

O economista Marcelo Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo, concorda que a mudança na legislação estimula o empresário a contratar mais. “Além daquela modalidade do contrato de temporários, tem outras modalidades de contrato que podem ser utilizadas também para reforçar o quadro de funcionários no final do ano, como o contrato intermitente que pode ser por algumas horas por dia, ou alguns dias por semana”, observou.

Ele vê a possibilidade de um avanço também dos casos de efetivação diante das previsões de aumento no faturamento. “Estamos longe de voltar aos melhores anos de 2010, 2014, mas o primeiro passo para crescer é parar de cair e já chegamos neste ponto”.

Os comerciantes também esperam vender mais por conta da circulação de dinheiro disponibilizado pelo governo federal via PIS/Pasep, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em busca de emprego

Na outra ponta desse otimismo empresarial está a candidata a uma vaga, Taila Nascimento, de 28 anos e ensino médio completo. Está à procura de emprego desde junho, quando foi demitida de uma empresa de logística onde trabalhava como auxiliar de escritório. Para ela, uma vaga temporária é um paliativo. “Eu procuro de tudo e prefiro algo fixo, mas vale qualquer coisa para pelo menos terminar o ano com algum dinheiro no bolso”, afirma.

Ela conta que já trabalhou em vaga temporária no comércio, há dois anos. “Foi parecido, eu estava desempregada e apareceu uma oportunidade numa loja”, lembra. Apesar de saber que o emprego tinha prazo, Taila alimentava esperança de ser contratada. “Mas não deu certo, fui dispensada no começo de janeiro.” Atualmente, ela espera resposta de duas empresas em que fez entrevista.

Serviços natalinos

O comércio e serviços relacionados às festas natalinas demonstram otimismo em relação ao fim do ano. Um dos segmentos que tradicionalmente reforça o quadro de pessoal nessa época do ano é de produção de panetones. Uma tradicional doceria de São Paulo abriu 220 vagas para temporários, 42 a mais do que no ano passado. A empresa prevê crescimento de 28% na produção e nas vendas, bem acima de 2016 (5%), com a meta de fabricar e vender 800 mil panetones.

A companhia investiu mais de R$ 2 milhões em maquinário para atender a demanda de clientes nas 25 lojas espalhadas pela capital paulista e também as encomendas para exportação e para outras companhias – neste último setor, há uma projeção de alta de 42%.

“A previsão do mercado é de que este seja o melhor Natal dos últimos quatro anos e a gente também aposta nisso. O desemprego atingiu um pico e agora começa a diminuir um pouco e a economia começa a reaquecer “, avaliou o diretor de Marketing da doceria, Alexandre Martins. Na empresa que dirige, o contingente de efetivos cresceu 6% e “deve continuar aumentando”.

Um dos recém contratados pela doceria é Cristiano Brito de Souza, 21 anos, que tem a expectativa de ser efetivado. Com segundo grau completo, ele contou que nunca tinha desempenhado a tarefa para qual se candidatou, a de forneiro, mas que está otimista.“Eu trabalhava como metalúrgico e queria mudar de ramo. A minha expectativa é dar o melhor de mim e ser efetivado”.

O setor de organização de festas também ajuda a reduzir a fila de desempregados, com um crescimento das contratações eventuais nos meses de setembro a dezembro, devido especialmente aos eventos de fim de ano de empresas. Uma pesquisa da encomendada pela Abrafesta (Associação Brasileira de Eventos) ao Instituto Locomotiva mostra que o mercado de festas e cerimônias deve crescer neste ano, depois de uma estabilidade nos dois últimos anos, quando os gastos dos brasileiros com eventos sociais – que incluem também casamentos e festas de debutantes – alcançaram em torno de R$ 17 bilhões.

Apesar da projeção de crescimento na oferta de serviços temporários, uma empresa nacional de prestação de serviços para decorações natalinas manteve neste ano o mesmo número de contratados dos dois últimos anos. Segundo o gerente de Marketing da companhia, Felipe Esotico, foram selecionados 300 empregados para colaborar na execução de 130 projetos, mais concentrados em redes de shopping centers e lojas de departamento.

“Para ampliar o quadro de trabalhadores extras acima do ano passado, precisaríamos investir mais em tecnologia. Pela base prevista de clientes esperados, achamos que havia capacidade de atendimento com a estrutura já existente”, afirmou Esotico.

Comércio no estado de São Paulo

No setor de comércio, serviços e turismo, a expectativa de crescimento no estado de São Paulo é de 30%, passando de 19 mil empregados temporários no ano passado para 25 mil este ano. Segundo o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Jaime Vasconcellos, a chance de efetivar varia de 5 a 10%, o que é “pequeno, mas indica um processo de retomada da economia”.

Ele reconhece que está longe do observado nos anos de 2008 a 2010, quando foram criados 50 mil postos, ou de 2012 e 2014 quando foram abertas entre 30 mil e 35 mil vagas. “Pelo menos há um crescimento”, avalia. A Federação prevê um aumento das vendas de 5% no estado e de 7% na capital, o que deve levar a mais empregos temporários.

Em média, as vendas de final de ano são entre 25 e 30% maiores do que nos demais meses do ano, segundo o economista. A estimativa é de que o setor de vestuário, tecidos e calçados seja responsável por 50% das contratações e os supermercados, por 25%.

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(Fonte: Agência Brasil)

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