O incêndio criminoso cometido pelo vigia de uma creche em Janaúba, na quinta-feira (5/10/2017), despertou a atenção para a precariedade financeira enfrentada pelos hospitais da cidade. Representantes do Hospital Regional e da Fundajan afirmam estar com repasses atrasados pelo Governo Estadual e isso pode levar as unidades a fecharem as portas.
Em 2015, médicos do Hospital Regional fizeram uma paralisação reivindicando melhores condições de trabalho. Na ocasião, eles denunciaram a falta de estrutura e afirmaram que os salários estavam atrasados.
No dia da tragédia, a Fundajan não tinha medicamentos estocados na farmácia da UTI, segundo a farmacêutica Cristina Soares. “A situação está complicada. Quando chegou a mensagem de incêndio em uma creche, todos os funcionários se mobilizaram e começaram a pedir doações, pois poderia ser pior”, afirma.
A unidade vive em emergência financeira já há alguns anos, segundo a servidora. “Inclusive, no sábado (7), seria realizado um show beneficente para arrecadar fundos para o hospital. A partir de agora vamos precisar ainda mais da ajuda financeira”.
A falta de dinheiro afeta, além de medicamentos e materiais de uso diário, o salário dos servidores, que são quitados sempre em atraso. O diretor clínico da unidade, Hebert Amaral Santos, é um dos exemplos encontrados na Fundajan. Ele trabalha no local há cerca de 10 anos e afirma que está com oito salários atrasados. “Pagam um mês e ficam um tempo sem pagar novamente. Sou responsável pela UTI e continuo porque não posso paralisar. Em todo o tempo que trabalho aqui, os 10 leitos ficam sempre ocupados”.
No Hospital Regional não é diferente. Os médicos da unidade estão com dois meses de salário atrasados. “Isso já foi pior. Estiveram com quatro meses e dois foram quitados com uma verba que saiu no valor de R$ 1,2 milhão. Se este dinheiro não tivesse saído, o hospital estaria fechado no dia da tragédia na creche”, explica a diretora Lílian Gonçalves.
Na tarde desta segunda-feira (9), o Hospital Regional prestava atendimento a cerca de 80 pacientes, mas ainda possui alguns materiais em estoques. “Agora, se daqui a 60 dias terei estoque ou se terei dinheiro para repor, não sei dizer. Estamos com vários recursos retidos pelo governo e esperamos que possa liberar. A alegação do governo é que sempre está sem dinheiro. Toda semana estamos com o pires na mão, pedindo ajuda às secretarias dos municípios vizinhos”, lamenta a diretora.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) diz que “as instituições Fundação de Assistência Social (Fundajan) e Fundação Hospitalar de Janaúba (Hospital Regional) são contempladas pelos programas Pro-Hosp Incentivo. Ainda com relação ao Hospital Regional de Janaúba, a instituição também é contemplada pelo programa Rede Resposta. Não há atrasos referentes aos repasses aos hospitais”.
Fundajan não tinha materiais em UTI no dia do ataque (Foto: Cristina Soares/Reprodução G1)
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(Fonte: G1 Grande Minas / Repórter: Valdivan Veloso)