A cena mais comum depois do nascimento de uma criança é quando se começa a perguntar: “É menino ou menina?”. Mas, ao ouvir essa indagação, o casal Taynan Carneiro, 18, e Yudi Luiz Santos, 25, simplesmente responde: “É um bebê”.
Desde que Ariel veio ao mundo – no dia 4 de julho –, o casal, que mora em Camaragibe, em Pernambuco, decidiu que o recém-nascido vai escolher seu próprio gênero, quando quiser. Para reforçar esse posicionamento, os pais decidiram dar um nome que não é exclusivo de um sexo.
Apesar da felicidade em conviver com a maternidade e convicta da educação que pretende dar a Ariel, Taynan está perplexa com os comentários de ódio que internautas fizeram depois que a história viralizou nas redes sociais nas redes, desde essa terça-feira (22). Os xingamentos, porém, não interferem na forma como o bebê será criado.
“Estou estressada por conta dos comentários. Estou em choque. A sociedade tem que aprender a abrir a mente, é uma coisa de construção. Deixa a criança viver, ser feliz. Ele não precisa de um gênero para ser uma criança. Ariel acordou chorando desesperadamente com esse monte de energia ruim para ele, e eu, sem entender o choro”, afirmou a mãe, firme diante de toda a situação.
Muitos amigos estão deixando mensagens de apoio nas redes sociais para ela. “Vou até repetir o que vocês já sabem. O que importa é o amor dos que nos cercam”, disse um. “Seu bebê é lindo, que tenha muita luz e cresça saudável”, disse outro.
O pai da criança também registrou em seu perfil o apoio à criação de Ariel. “Sai da frente com seu ódio, nós vamos passar com nosso amor”, afirmou Yudi em uma rede social.
Yudi e Taynan com Ariel (Foto: Reprodução/Facebook)
Gravidez
O relacionamento de Taynan e Yudi, que é um homem transexual, começou em 2015, mas foi interrompido em 2016. No mesmo ano, Taynan conheceu o pai biológico de Ariel, André dos Santos, e acabou engravidando. Meses depois, o relacionamento terminou. Taynan reatou o namoro com Yudi, que acompanhou toda a gravidez.
Família
André dos Santos é o pai biológico de Ariel. Yudi dos Santos é o pai afetivo. Ele o ajudou a nascer de parto normal, fazendo massagens e segurando a mão da companheira.
MINI ENTREVISTA
Taynan Carneiro – Mãe de Ariel
Como o bebê Ariel foi registrado após o nascimento? Tivemos que colocar o sexo masculino na certidão porque a Justiça brasileira não permite que o espaço fique em branco ou que seja preenchido por outra classificação.
Como pretendem fazer quanto a isso? Esperamos que o país mude as leis e permita a opção de deixar em branco o espaço para gênero. Se isso não acontecer até o Ariel crescer, e caso ele não se identifique com o gênero masculino que precisamos registrá-lo, ele vai passar pelo mesmo processo do Yudi, que entrou na Justiça para trocar os documentos.
Ariel foi registrado com o nome do pai biológico e do pai afetivo? Infelizmente, não foi possível. Vamos esperar que o processo do Yudi seja aprovado e, logo depois, vamos entrar com uma ação para acrescentar o nome dele na certidão, ficando dois pais e uma mãe no documento.
Canadá já tem bebê sem gênero
No dia em que Ariel nasceu – 4 de julho deste ano –, um fato inédito e similar aconteceu no Canadá. Um bebê, com 9 meses hoje, recebeu um cartão de saúde sem um identificador de gênero. É o primeiro caso divulgado, no mundo, de um recém-nascido agênero.
Kori Doty – transgênero não binário que não se identifica com pronomes nem no masculino nem no feminino – afirmou que quer dar oportunidade ao filho de descobrir seu próprio gênero. O cartão de saúde da criança terá um “U” no espaço reservado para “sexo”, letra que simbolizará “indeterminado” ou “não atribuído”.
Doty deu à luz Searyl Atli em novembro no Estado de Colúmbia Britânica. Doty, que se refere à criança com o pronome “they” (que pode ser traduzido como “eles” ou “elas” em português), em vez de “ele” ou “ela”, argumentando que não é necessariamente pelo gênero determinado ao nascer que uma pessoa se identificará ao longo da vida.
Atualmente, o progenitor quer tirar a categoria sexo de todos o documentos oficiais de Searyl. Há uma ação na Justiça canadense para que a letra “U”, inicialmente colocada na certidão de nascimento, seja apagada para que o espaço fique em branco.
VER PRIMEIRO
Receba as notícias do Aconteceu no Vale em primeira mão. Clique em curtir no endereço www.facebook.com/aconteceunovale ou no box abaixo:
(Fonte: O Tempo / Repórter: Thuany Motta)