Pesquisadores registraram mamíferos de médio e grande porte através de câmeras automáticas na Serra do Espinhaço
O estudo foi realizado no Parque Estadual do Rio Preto e no Parque Nacional das Sempre-Vivas, Unidades de Conservação inseridas na porção sul da Serra do Espinhaço, que é uma Reserva da Biosfera da Unesco e considerada área prioritária para conservação da biodiversidade.
O biólogo Fernando Pinho, responsável pela pesquisa revela que o objetivo do projeto é entender como os mamíferos silvestres se relacionam com os fatores ambientais nos locais onde vivem: “a partir disso, criamos subsídios para a tomada de decisões mais efetivas em relação ao manejo e conservação dessas espécies em seus habitats naturais”.
No total, os pesquisadores registraram 23 espécies de mamíferos silvestres, dentre elas, diversas espécies ameaçadas de extinção como a onça-parda, tamanduá-bandeira, anta, lobo-guará e o tatu-canastra. O estudo sugere ainda que áreas menos elevadas da Serra do Espinhaço, são ambientes cruciais para os mamíferos de maior porte, uma vez que foi constatada uma diminuição no número de espécies registradas em áreas acima de 1100m de altitude. Segundo Guilherme Ferreira, um dos autores do estudo, este resultado tem implicações interessantes para a conservação da biodiversidade na região: “É fato que os campos rupestres, ambiente das áreas mais elevadas da Serra do Espinhaço, possuem enorme diversidade, são inegavelmente importantes e devem ser priorizados em qualquer iniciativa de proteção. Entretanto, para os mamíferos de médio e grande porte, aparentemente são as áreas de cerrados e matas das regiões mais baixas que sustentam maior número espécies. Isto exemplifica claramente a complexidade que é a conservação da biodiversidade, e como diferentes ambientes são importantes para diferentes grupos de espécies.”
Os resultados do trabalho, que foram publicados na edição atual da revista científica Zoologia, demostram ainda importância das Unidades de Conservação de Proteção Integral, como os Parque Nacionais e Estaduais, para a manutenção da biodiversidade. Quando comparada com a extensão do bioma Cerrado, que ocupa cerca de 25% do território nacional, a área avaliada no estudo é bastante reduzida. Mesmo assim quase 60% dos mamíferos silvestres de médio e grande porte do Cerrado foram registradas nestes dois parques.
A situação atual, no entanto, está longe de ser favorável à conservação de espécies de mamíferos silvestres. A Serra do Espinhaço, mesmo com sua reconhecida importância para a conservação da biodiversidade, tem menos de 3% de sua extensão protegida por Unidades de Conservação. Segundo Fernando Pinho, para mamíferos de médio e grande porte a condição é ainda mais desfavorável: “estas espécies necessitam de grandes áreas conservadas para manutenção de populações que possam se manter ao longo de várias gerações. No entanto, apenas uma porção ínfima dessas Unidades de Conservação da Serra do Espinhaço possuem extensões suficientes para comportar essas populações. A efetivação das Unidades de Conservação já existentes, a criação de novas áreas protegidas em locais estratégicos e a garantia da conectividade entre estas áreas através de corredores ecológicos são estratégias essenciais para que a nossa biodiversidade seja preservada”.
Notas:
O estudo foi realizado pelo Instituto Biotrópicos, núcleo da rede de pesquisa ComCerrado, e contou com apoio do CNPq e FAPEMIG, além de ter sido tema de dissertação de mestrado do Programa de Ecologia de Biomas Tropicais da Universidade Federal de Ouro Preto.
Uma compilação dos vídeos das espécies registradas pode ser encontrada no canal do Instituto Biotrópicos (youtube.com/biotropicos).
O artigo científico da Revista Zoologia pode ser acessado em: http://zoologia.pensoft.net/articles.php?id=11921
Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) – Foto: Fernando Pinho/Instituto Biotrópicos
Onça-parda (Puma concolor) – Foto: Fernando Pinho/Instituto Biotrópicos
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(Por Fernando Pinho/Instituto Biotrópicos)