Universitária mais velha do Brasil receberá o diploma aos 97 anos

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Acostumado a registrar diariamente a movimentação de inúmeros estudantes de Direito por seus corredores e salas de audiência, o fórum de Ipatinga recebeu no último dia 16 de julho a visita de uma formanda notável: a nonagenária Chames Salles Rolim. Com um olhar sereno e ao mesmo tempo determinado, Dona Chames – como é carinhosamente chamada pelos amigos – tem 97 anos e está prestes a alcançar o diploma de bacharel pela Faculdade de Direito de Ipatinga (Fadipa). A entrega do diploma será no dia 7 de agosto, no auditório Fiemg, no Centro de Desenvolvimento de Pessoal da Usiminas (CDP).

Como um dos últimos requisitos a serem cumpridos para a conclusão do curso de Direito, a universitária compareceu ao fórum nos últimos dias para acompanhar a realização de audiências e produzir relatórios. Ela revelou que foi a primeira vez que esteve no prédio. “Não conhecia nada aqui e nem sabia como funcionava na prática, mas estou assimilando o máximo que posso”, comentou.

Das audiências da 1ª Vara de Família, a formanda destacou a satisfação provocada pelas conciliações. “Participei de audiências de divórcio e de alimentos com o juiz Carlos Roberto de Faria e achei espetacular ver os casais chegando a um acordo”, disse.

Já sobre as audiências criminais, a universitária ressalta a capacidade que têm de entender mais a essência humana. “Nessas audiências, passamos a conhecer melhor o ser humano. Vemos além das aparências”, avaliou.

Perguntada sobre quais são seus planos para depois da conquista do bacharelado, Chames revela que seu objetivo está além da carreira profissional – deseja auxiliar a sociedade compartilhando o conhecimento adquirido.

“Sei que a minha idade não me dá muito prazo. Por isso, o que eu quero é ser útil a quem me procurar, compartilhar o conhecimento. E se eu não souber responder algo, orientar a pessoa a buscar quem saiba”, frisa.

Filha de libaneses e irmã do ex-prefeito de Ipatinga Jamill Selim de Salles, a estudante acredita que a instrução é o primeiro passo para a transformação social. “O ser humano deve aprender a distinguir entre o bem e o mal e, para isso, precisa ter acesso a uma fonte esclarecedora. Se eu puder ajudar nisso, ficarei muito feliz”, ressaltou.

Perseverança

Chames Salles Rolim nasceu em Santa Maria de Itabira e mudou-se para Santana do Paraíso aos três anos. Trabalhou a maior parte da vida na farmácia do marido José Maria Rolim, com quem foi casada por 63 anos e teve dez filhos. Atualmente, mora em Ipatinga com um filho.

Fazer um curso superior sempre foi um sonho da nonagenária, mas ela só decidiu entrar para a faculdade após a morte do marido, que era bastante ciumento e não aprovava a ideia.

Apaixonada pelo universo de conhecimentos que o Direito lhe abriu, a estudante afirma que se fosse mais nova, se matricularia no curso outra vez. “No Direito, há sempre muito a aprender. Esses cinco anos foram maravilhosos e eu só tenho a agradecer à Fadipa”.

A formanda, que é absolutamente lúcida e ativa, pratica hidroginástica todas as manhãs, tem o hábito de escrever poesias e diz preferir as madrugadas para estudar, por conta do silêncio.

Sobre as pessoas que colocam na idade a justificativa para não mais aprender, ela comenta com uma palavra “-Paresse!” (que, em francês, significa ‘preguiça’)”. Em seguida, complementa: “A gente sempre pode aprender, mesmo que seja a conviver melhor com as pessoas”.

A graduação de dona Chames está sendo festejada por familiares, amigos e até por desconhecidos, de diferentes estados brasileiros e também do exterior. Diariamente, a formanda recebe inúmeras mensagens de parabéns. “Fico muito feliz e espero contar com a presença de todos na minha colação de grau”, convida.

Além do conhecimento jurídico, a universitária afirma que levará da graduação as lembranças de cada professor, o carinho recebido e a saudade dos amigos. “Isso ficará pra sempre”, finaliza.

Exemplo

A presença da estudante nas instalações do fórum de Ipatinga chamou a atenção dos servidores públicos. O juiz da 1ª Vara Criminal, Luiz Flávio Ferreira, comentou ter ficado surpreso com a participação de dona Chames nas audiências. “A presença dela traz motivação para todos nós. É um grande exemplo”.

Impressionado pelo interesse e curiosidade da formanda pelos fatos das audiências, o promotor de Justiça Samuel Saraiva Cavalcante elogiou a determinação da universitária. “É um grande privilégio conhecer um exemplo como a dona Chames. Não tenho dúvidas nenhuma de que ela muito ensinou e ensina a todos que conviveram com ela durante a faculdade”.

O defensor público Alexandre Heliodoro dos Santos, por sua vez, também destacou o estímulo trazido pela visita da nonagenária ao fórum. “É tocante poder presenciar essa lição viva de perseverança e determinação. Que possamos nos espelhar na dona Chames para atingirmos nossos objetivos”, exclamou.

(TJMG)

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