“Abelha fazendo mel… Vale o tempo que não voou”. A citação é da música “Amor de Índio”, imortalizada pelos mineiros Beto Guedes e Ronaldo Bastos, do Clube da Esquina. E vale mesmo. A apicultura eleva a renda de pequenos produtores no Norte de Minas, onde virou uma alternativa para a convivência com a seca, pois a produção é alcançada no período da estiagem. Mas as abelhas não dão lucros somente com a produção de mel e geram renda também quando estão voando. Numa ação inovadora no estado, os apicultores da região alugam as colmeias para produtores, que recorrem às abelhas para a polinização das lavouras e para aumentar a produtividade em plantações de abóbora, melancia e outras culturas.
No ofício de polinizar as plantas, as abelhas têm melhorado a renda de apicultores de Bocaiuva. A parceria – inédita na região – foi firmada pelo apicultor Divânio Alencar Santos (do município) com um produtor Samuel Reis de Oliveira, que recorre às abelhas para melhorar a polinizaçao e aumentar a produtividade nos seus plantios irrigados de melancia e abóbora, numa área de 200 hectares (100 de cada uma das culturas), na Fazenda São Tomé, no município de Pirapora.
No ano passado, junto com outro apicultor, Divânio alugou 30 colmeias para Samuel. Satisfeito com o resultado do uso das abelhas para a polinização, o agricultor alugou 120 neste ano, sendo novamente atendido por Divânio e outros dois apicultores de Bocaiuva. O preço do aluguel é de R$ 90 por cada colmeia durante 45 dias, período de florada das lavouras.
Samuel disse que conheceu o método da polinização com o uso das colmeias junto a produtores da Bahia. “Sem a presença das abelhas, as plantas não têm uma polinização adequada. Recorremos a instalação das colmeias para dar suporte à polinização. Com isso, conseguimos uma produtividade muito maior”, afirma o agricultor, salientando que colheu 40 toneladas por hectare no cultivo de melancia e 20 toneladas por hectare no plantio de abóbora. Ele ressalta que o uso dos enxames para acelerar a produtividade nas lavouras deve ser feito com cuidado. “É recomendável que as colmeias fiquem afastadas em torno de 30 metros a 50 metros dos plantios, em áreas com pouca movimentação de máquinas e de pessoas para se evitar riscos de ataques pelas abelhas”, afirma.
O agricultor Divânio Alencar Santos que tem cerca de 130 colmeias, disse que tem uma produção de três toneladas por ano. Ele iniciou na atividade em 2012 e, desde então, buscou aumentar os conhecimentos sobre o ramo. Fez cursos de capacitação e viagens a congressos em Gramado (RS) e Fortaleza, com apoio do Sebrae. “Sem dúvida, a apicultura é um ótimo negócio hoje na nossa região”, afirma Divânio, que também recorre ás abelhas para melhorar a polinização do plantio de laranja no sítio da família.
Ele divide o tempo entre o trabalho em um hotel de Bocaiuva e os afazeres no sítio da família, a 14 quilômetros da área urbana do município. “Mas, se tiver que optar, ficarei somente com a apicultura, que é uma coisa promissora”, diz Divânio. O pensamento é o mesmo de outros muitos agricultores da região.
Renda doce “Podemos dizer que a produção de mel, hoje, é a melhor alternativa de renda para os pequenos produtores do Norte de Minas”, afirma Luciano Fernandes, presidente da Cooperativa dos Apicultores de Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemap). A entidade reúne 167 apicultores associados em 18 municípios, que, juntos, deverão produzir 250 toneladas de mel neste ano, com a meta de alcançar 500 toneladas em 2017. “Mas, acreditamos que a produção de toda região – considerando os produtores não filiados à cooperativa – chega a 800 toneladas por ano”, assegura Fernandes.
Ele ressalta que a apicultura tem grande importância para os agricultores norte-mineiros pelo fato de a maior produção das abelhas ocorrer entre maio e setembro, no pico da seca. Neste período, acontecem as “floradas” de espécies nativas do cerrado que servem como a matéria-prima das abelhas. “As floradas e o aumento da produção de mel acontecem depois das chuvas, quando o produtor já não tem mais nada para colher ou plantar e também enfrenta dificuldades para alimentar o gado”, afirma o presidente da Cooperativa dos Apicultores.
Abelhas são responsáveis pela polinização das flores (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)
Lucro com preservação
Uma das espécies do cerrado que favorecem a criação de abelhas no Norte do estado é a aroeira, cuja florada acontece entre os meses de junho e julho. A planta garante a produção de um mel de qualidade, com propriedades medicinais, que estão sendo testadas em pesquisas pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). A partir dos estudos, o “mel de aroeira” teve valor agregado no mercado. Na região também é produzido o mel de outras plantas do cerrado, como “cipó uva”, também conhecido como “timbó” e o assa-peixe, e da florada do eucalipto.
O presidente da Cooperativa dos Apicultores de Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemap), Luciano Fernandes, ressalta que apicultura também contribui para preservação ambiental. “Os produtores de mel são preservacionista, porque eles precisam manter as árvores. Desta forma, não desmatam e também protegem as nascentes. E sabemos que sem as nascentes não se consegue manter os rios, nem abastecer as áreas urbanas nem produzir alimentos”, lembra o apicultor.
Fernandes destaca que a categoria investe na melhoria da gestão do negócio e em ações para aumentar a comercialização, facilitar o acesso ao mercado e reduzir custos. Para isso, buscaram o suporte do Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa (Sebrae Minas), que oferece cursos de capacitação e organiza viagens técnicas para conhecerem a atividade em outras regiões. Também contam com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Emater-MG, Codedevaf e da Fundação Banco do Brasil.
A criação de abelhas ganha força em Bocaiuva com a organização dos produtores, que investem no associativismo e na busca de capacitação e apoio técnico. O negócio é incrementado no município por meio da Associação dos Apicultores de Bocaiuva (Apiboc) conta com 60 produtores. Juntos, eles tem cerca de 6 mil colmeias e produzem cerca de 180 toneladas de mel por ano.
Exportação Luciano Fernandes, que é tesoureiro da Apiboc, informa que os apicultores de Bocaiuva vendem o mel embalado em tambores (no “atacado”), enviados para São Paulo e Santa Catarina. De lá, o produto é exportado para os Estados Unidos e para a Europa. Está sendo construído um entreposto no município para a entrega do produto pelos produtores. Na semana, eles tiveram treinamento com o consultor Robson Raah, especialista na área.
Por outro lado, com a intenção de aumentar a comercialização – e os lucros, os apicultores também se prepararam para as vendas no varejo. Para isso, estão trabalhando no registro de uma marca própria para o mel da região. A embalagem para a venda direta ao consumidor terá rótulo em nome da Coopemap. “A expectativa é de que, com a criação da marca própria, venha a ser agregado valor ao produto, aumentando as vendas, afirma o analista técnico do Sebrae Walmathe Ferreira, que auxilia os apicultores de Bocaiuva.
(Fonte: Estado de Minas / Reportagem: Luiz Ribeiro)