Uma organização criminosa que mantinha um serviço de tele-entregas de drogas foi alvo da operação Codinome, realizada pelo Grupo de Ação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público em parceria com as polícias Militar e Civil, nesta quarta-feira (19/10/2016), em sete municípios do Norte de Minas Gerais. Em um dos casos, o “tele-pó” foi chamado por um servidor público que pediu uma entrega na Prefeitura de Montes Claros.
No total, 29 pessoas foram presas na ação, sendo 13 em Montes Claros e 14 em Capitão Enéas, além de dois outros envolvidos que já cumprem execução penal e foram notificados. A operação foi realizada em Montes Claros, Manga, São Francisco, Francisco Sá, Capitão Enéas, Monte Azul e São Romão. Durante o cumprimento de 41 mandados de busca e apreensão, foram encontradas armas, celulares, drogas e munições. O nome da operação vem da iniciativa dos investigados em usar apelidos para tentar dificultar investigações.
“Foi feito o desmantelamento de um tipo de serviço ligado à traficância, que era novidade para usuários de classe média alta. As pessoas não precisam se deslocar até a boca de fumo para adquirir a droga, que era entregue diretamente para elas”, explica o coordenador do Gaeco, promotor Flávio Márcio Lopes Pinheiro.
As investigações demonstram que em um único dia, o grupo criminoso chegava a movimentar R$ 10 mil com a venda de drogas. Uma lanchonete e um posto de combustíveis também funcionavam como pontos de distribuição. Os entorpecentes ainda eram entregues em festas, bares e boates, com a utilização de carros.
“O tele-pó foi uma modernização do fornecimento das drogas e, inclusive, com grau de requinte, onde pessoas de classe média e alta têm utilizado com mais frequência; até o valor das porções se tornam mais caras em virtude da comodidade de receber em casa”, esclarece o major Paulo Veloso, da Polícia Militar, que coordenou a equipe de 148 policiais que participaram da operação.
Operação foi realizada em conjunto pelo Gaeco e Polícia Militar (Foto: PM/Divulgação)
Sobre as investigações
O coordenador do Gaeco explica que a investigação está sendo realizada há 11 meses e começou na comarca de Francisco Sá (MG), depois que o promotor verificou que o tráfico de drogas no município ocorria de forma intensa. Após os levantamentos foi descoberto que a rede de comercialização das substâncias não era local, mas regional.
“Sobre os usuários, já conseguimos detectar que eram de classe média, até mesmo porque a natureza da droga, que é a cocaína, é um pouco mais cara. Sobre os fornecedores, há um caso especifico de empresário, que tem empresa de fachada, que se utilizava do serviço de tráfico de drogas para irrigar o comércio”, destaca o promotor.
Escritórios do crime
Em relação aos investigados que cumpriam pena, Flávio Márcio Pinheiro avalia que o Estado precisa tomar medidas urgentes para evitar a entrada de celulares nas unidades prisionais.
“Infelizmente, esse é um ponto recorrente não só em Montes Claros, mas em todo o Brasil. E demostra a fragilidade do nosso sistema prisional e que não há investimentos do Estado para se impedir que celulares ingressem nas unidades prisionais e que sejam utilizados. Temos a conivência de agentes penitenciários, que são muito bem remunerados para facilitar a entrega de celulares e que transformam esses presídios em verdadeiros escritórios do crime”, enfatiza o promotor.
Ele também destaca que, como Montes Claros está no segundo maior entroncamento rodoviário do país, a fiscalização precisava ser intensificada, já que as drogas que seguem do Sul para o Norte do país passam pelo Norte de MG.
“Sabemos das dificuldades que a Polícia Rodoviária Federal possui. É praticamente impossível, com o quadro atual de policiais, fazer fiscalização efetiva sem o trabalho de inteligência, por isso o Gaeco está atuando nessa área para tentar minimizar a entrada de drogas”, afirma.
Pulverização do tráfico de drogas
O major Paulo Veloso explica que o tráfico na região é feito por várias organizações criminosas, que sabendo da possibilidade de serem alvo de investigações distribuíam rapidamente as drogas; daí a dificuldade em se apreender grandes quantidades das substâncias.
“Temos duas principais portas de entrada [de drogas] que abastecem o Norte de Minas, que são o Nordeste e o Paraguai. Em virtude dessa capilaridade da rede do tráfico, as substâncias são rapidamente espalhadas, o mercado gira muito rápido. Até como estratégia, muitas vezes os traficantes costumam nem armazenar os entorpecentes”, fala. Antes da distribuição, os entorpecentes eram armazenados em vários locais.
Paulo Veloso ainda explica que o tráfico de drogas está diretamente relacionado a outros crimes, como roubos e homicídios. O policial cita como exemplo o caso dos celulares que são usados como moeda de troca por drogas pelos usuários e são alvo de 90% dos roubos.
“Temos nessa estrutura do tráfico desde os empresários até os usuários. Essa estrutura fomenta outros tipos de crime. Quando acontece de nos dedicarmos a esse tipo de delito, estamos fazendo um bem para a sociedade, ao retirar, ou pelo menos minimizar, os efeitos do tráfico”, finaliza.
Crimes
Os investigados poderão responder por associação para o tráfico, tráfico de drogas, posse de arma de fogo, corrupção de menores e associação criminosa.
(Fonte: G1 Grande Minas / Reportagem: Michelly Oda)