Aos 145 anos, Araçuaí faz homenagem ao Vale do Jequitinhonha em desfile de aniversário

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O desfile em comemoração ao aniversário dos 145 anos de emancipação de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, reuniu pelo menos três mil pessoas na manhã desta quarta-feira (21/09/2016), no Centro da cidade, segundo estimativa feita pelos organizadores. O ato cívico ocorreu das 8h30 às 11h00, no trecho entre a Rua Dom Serafim até a Praça do Fórum, onde foram encerradas as festividades.

O tema escolhido para este ano foi a história do Vale do Jequitinhonha e de seus municípios, desenvolvido pelos alunos das escolas estaduais, municipais, particulares e entidades que atuam em Araçuaí. Alunos do Instituto Federal Norte de Minas Gerais (IFNMG), única escola federal do município, também estiveram presentes.

“Foi lindo, maravilhoso. Gostei de tudo. Dos índios aos bandeirantes, dos canoeiros, garimpeiros, lavadeiras, artesãos, a história de Chica da Silva, e todo o enredo do desfile. Todos os anos, saio de Belo Horizonte, nesta época, para assistir ao desfile. Falam que o Vale é da pobreza, mas isso aqui é de uma riqueza que poucos conhecem”, destacou Angélica Onnis Chiesa, 72 anos, filha do construtor e imigrante italiano, Francisco Onnis, responsável pela construção de importantes prédios históricos do Vale do Jequitinhonha, a exemplo do Colégio Nazareth e igreja Matriz em Araçuaí.

Fanfarras das cidades de Araçuaí, Francisco Badaró, Jequitinhonha, Virgem da Lapa e Itinga deram o tom da marcha. O desfile foi aberto por um grupo de adolescentes, representando as araras, que simbolizam Araçuaí. Toda a arte, cultura, turismo, desenvolvimento econômico, religiosidade, tradição e magia do Vale do Jequitinhonha foram expostos pelos estudantes.

A dona de casa Rosilene da Silva Carvalho, de 30 anos, levou o sobrinho de 5 meses para apreciar o desfile. “Lindo!”, disse ela.

“Foi o desfile mais bonito em comemoração ao aniversário de Araçuaí, que já assisti. Fiquei emocionado com as músicas antigas dos anos 40, 50, tocadas pelas bandas, que lembram o tempo do meu pai”, destacou o médico e professor de cirurgia da UFMG, Jansen Tanure, filho do lugar.

Araçuaí completou 145 anos de emancipação (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Araçuaí, terra de contrastes

Pelas ruas de Araçuaí, cidade do Médio Jequitinhonha, com os mais baixos indicadores sociais de Minas Gerais, os contrastes são facilmente identificados. Do solo do município são retiradas pedras preciosas, como feldspato, lítio, mica, nióbio, tântalo, quartzo, entre outros.

Com pouco mais de 37 mil habitantes e convivendo com a mineração desde o século 18, o município enfrenta desafios, como a falta de capacitação para a mão de obra local, falta de saneamento básico e enfrentamento ao crescimento da violência, desemprego, prostituição e tráfico de drogas.

A escalada da criminalidade tem deixado os moradores assustados. Somente nos primeiros quatro meses de 2015, 56 crimes violentos foram cometidos o que representa 57% do que foi registrado em todo ano de 2014, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais.

Mesmo com uma atividade econômica ativa, Araçuaí depende de convênios e repasses dos governos federal e estadual. O mau estado de conservação de ruas, estradas, esgotos a céu aberto e falta de políticas públicas voltadas para a infância e juventude também joga contra o desenvolvimento da cidade.

O crescimento desordenado aumentou a demanda por serviços públicos. Bairros foram criados sem rede de esgoto e pavimentação de ruas.

Na Educação, a cidade abriga a sede da Superintendência Regional de Ensino, que atende a 21 municípios da região. A prefeitura possui três escolas urbanas e 18 escolas rurais, seis escolas da rede estadual de ensino médio e cinco de educação básica, além do campus do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Universidade Aberta do Brasil (UAB) e aguarda a implantação de um campus da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

A prática esportiva e o lazer em Araçuaí ocorrem em um campo de futebol, dois ginásios poliesportivos (um particular e outro público), quatro quadras poliesportivas, uma pista de caminhada e duas academias de saúde instaladas em praça pública.

A cidade conta com dois clubes, uma barragem (do Calhauzinho) e é cortada pelo Rio Araçuaí, além dos córregos do Calhauzinho e Gravatá que proporcionam lazer por meio do turismo rural e cultural.

Com uma área de 2.326 km² e cerca de 70 comunidades rurais, aos 145 anos, Araçuaí apresenta problemas que se estendem há anos. A falta de um plano diretor favorece desigualdades e desordenamento urbano e um crescimento sem lei.

História do Vale

O Vale do Jequitinhonha é uma das doze mesorregiões do estado brasileiro de Minas Gerais. É formada pela união de 51 municípios agrupados em cinco microrregiões.

Está situado no nordeste do estado. É uma região amplamente conhecida devido aos seus baixos indicadores sociais e também ao norte é conhecida por ter características do sertão nordestino. Por outro lado, é detentora de exuberante beleza natural e de riqueza cultural, com traços sobreviventes da cultura indígena e da cultura negra.

A região, que inicialmente pertenceu à Bahia (até o final do século XVIII), foi incorporada ao estado de Minas Gerais, após a descoberta de diamantes no tijuco (hoje região de Diamantina).

Virtualmente, é subdivida em três regiões: Baixo Jequitinhonha (área mais próxima à Bahia), Médio Jequitinhonha (parte média do Vale) e Alto Jequitinhonha (região mais próxima da Metropolitana de Belo Horizonte, apresentando os melhores indicadores humanos e econômicos do Vale).

Nos últimos anos, o Alto Jequitinhonha vem se desenhando por ser uma região com bons indicadores humanos e econômicos, sendo projetados, para os próximos anos, indicadores sociais melhores que a média de Minas Gerais e do Brasil.

Vale do Jequitinhonha em dados

Banhado pelo Rio Jequitinhonha, o Vale do Jequitinhonha ocupa uma área de 79.552 km², com uma população de aproximadamente 1 milhão de habitantes, sendo que mais de dois terços dela vive na zona rural.

É composto, hoje, por 51 municípios. Vários diagnósticos convergem em assinalar que as restrições hídricas e as secas periódicas são fatores cruciais para o baixo desempenho da agropecuária, que mesmo assim ainda responde por 30% do PIB regional.

Como realmente é

O que não se imagina é que, por outro lado, o Vale do Jequitinhonha é detentor de grande e exuberante potencial natural e vasta riqueza cultural, com traços sobreviventes da cultura indígena e da cultura negra.

Sob uma ótica mais justa, a área não apresenta o grau de extrema pobreza que normalmente é divulgado: segundo o Diagnóstico Ambiental da Bacia do Rio Jequitinhonha desenvolvido pelo IBGE, os solos da região são profundos, com boa textura e com condições de mecanização, a infraestrutura viária é regular, e apesar da carência de investimentos em saúde e saneamento, existem centros de saúde em todos os municípios.

O Vale do Jequitinhonha é uma região marcada pelo contraste. Por um lado, grande parte de sua população vive em extrema pobreza e seu meio ambiente vem sistematicamente sendo agredido pelas atividades mineradoras, de carvoaria e pelo uso indiscriminado do fogo pela agricultura familiar. Por outro lado, são notórias as riquezas do subsolo, promissor em recursos minerais, de seu patrimônio histórico-cultural, referência para Minas Gerais e para o Brasil, de seu artesanato diversificado e de seus atrativos turísticos.

Fotos do desfile

Filarmônicas de cidades vizinhas abrilhantaram o desfile (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Escolas mostraram a religiosidade do povo do Vale (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Presença indígena no Jequitinhonha não foi esquecida (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Fanfarras animaram o desfile (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Arara é o simbolo de Araçuaí (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Boi Janeiro e Bumba meu Boi, representaram Pedra Azul (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

O papel das lavadeiras também foi lembrado (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Alegoria de cobra sucuri representa a fundação de Francisco Badaró (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

As bonecas de Dona Izabel representaram Ponto dos Volantes (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Criatividade e bom gosto marcaram o desfile (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Diamantina levou a história de Chica da Silva e JK (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Escravidão marcou história de colonização do Vale (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

Itinga também ganhou homenagem (Reprodução/Gazeta de Araçuaí)

(Fonte: Gazeta de Araçuaí)

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