Durante entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (1º de setembro), na delegacia da Polícia Federal (PF) de Governador Valadares, o procurador do Ministério Público, Evandro Ventura, explicou como funcionava o esquema criminoso envolvendo o presidente do Esporte Clube Democrata, preso na 8ª fase da operação Mar de Lama, a empresa Pavotec, responsável pela coleta de lixo da cidade, e o município. Além dos dois mandados de prisões também foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão e um de afastamento de função pública contra o secretário de fazenda.
Segundo as investigações, a Pavotec tinha um crédito de R$ 16 milhões com a prefeitura referente aos serviços prestados no município. Devido à dificuldade de receber essa dívida, a empresa transferiu parte deste crédito para o presidente do Democrata, que, de acordo com Evandro Ventura, tinha facilidades dentro da prefeitura para receber a quantia.
A Justiça quebrou o sigilo bancário do clube, do presidente e do vice, que são pai e filho. Até a data da quebra de sigilo o repasse teria sido de R$ 1.905.318,90. O dinheiro ia, por meio de transações características de lavagem de dinheiro, diretamente para as contas dos dois dirigentes do Esporte Clube Democrata.
A polícia interceptou áudios que comprovariam que o presidente do Democrata era cliente do então procurador-geral do município. Segundo os promotores de justiça, o presidente do time aceitou a transferência do crédito porque confiava na influência do advogado dentro do município.
“A Pavotec precisava de dinheiro e a prefeitura não estava pagando. Então acreditamos que o presidente do Democrata comprou a dívida da Pavotec junto à prefeitura, no valor de quase R$ 2 milhões. Nesta compra o presidente do clube lucrou uma quantia que ainda não sabemos de quanto foi”, afirma o procurador.
Evandro explica que a relação entre o ex-procurador do município e o presidente do Democrata facilitou o recebimento deste dinheiro. “Quem fazia a autorização do pagamento de créditos dentro da prefeitura era o ex-procurador-geral, que também era advogado pessoal do presidente do time. O Democrata agiu como agiota nesta história” explicou.
Oitava fase da operação Mar de Lama foi realizada nesta quinta-feira (Foto: Patrícia Belo/G1)
Irregularidades
Segundo o delegado da PF, Andrei Nícolas de Assunção, ocorreram diversas irregularidades nesta transferência de dívida. A polícia descobriu que entre o clube e a empresa não havia dívida ou relação comercial, o que configura uma falsidade ideológica.
“Primeiro porque o ex-procurador, trabalhando dentro da prefeitura, não poderia advogar para ninguém. O presidente do Democrata usou da influência dele, quando sabia que o ex-procurador ia liberar o dinheiro, uma vez que dependia somente da assinatura dele”, contou.
Assunção também relata que o município de Valadares ajuizou ações contra o Democrata, já que o clube possui dívidas com a prefeitura. “Como a prefeitura poderia realizar pagamentos para a direção do time, sendo que eles tem pendências com o governo municipal? É ilógico essa situação”, pontuou o delegado.
Prisões e afastamentos
Na manhã desta quinta foram presos, por meio de mandados de prisões, o ex-procurador e o presidente do Democrata. Eles foram encaminhados para o presídio de Governador Valadares, onde devem ficar até a próxima segunda-feira (5), caso o pedido de prisão não seja prolongando.
O secretário de fazenda que foi afastando nesta fase da operação, segundo a PF, está sendo investigado porque a liberação do pagamento do crédito, além de passar pelo aval do ex-procurador, também passou pela aprovação do secretário de fazenda. “Ele deu parecer favorável para os pagamentos. Neste primeiro momento ele está sendo investigado”, concluiu.
O vice-presidente do Democrata também foi preso em flagrante durante a 8ª fase da operação, por posse ilegal de arma. Durante o cumprimento dos mandados de buscas e apreensões, a PF apreendeu uma arma de fogo e munição na casa dele. Ele pagou fiança e foi liberado.
O que dizem os envolvidos
A defesa do presidente do Democrata informou por telefone que vai procurar ter acesso a inteiro teor do processo para tomar conhecimento de todos os fatos. Segundo a defesa, o presidente do clube nega que tenha praticado qualquer ato ilícito.
“Ele já prestou esclarecimento à PF e disse que não tem nada a esconder. Ele vai continuar contribuindo com as investigações, com a justiça”, disse o advogado Allan Toledo.
A empresa Pavotec disse que não vai se posicionar sobre o fato. A defesa do ex-procurador do município informou por meio de nota que não há motivos para a manutenção da prisão e vai adotar medidas jurídicas para revogá-la.
A Prefeitura de Governador Valadares afirmou que tem colaborado com as ações e confia na averiguação da verdade dos fatos feita pelos órgãos de investigação e Justiça.
(Fonte: G1 dos Vales)