Lençóis hospitalares serviram de cenário, pedaços de tecidos usados em esterilizadores se transformaram em tapete, e um quarto de hospital virou capela, com direito a padre e vestido de noiva. Tudo isso aconteceu na Santa Casa de Montes Claros, nesta terça-feira (02/08), durante a realização do maior sonho de Gilberto Pequeno, um homem de 50 anos com câncer em estágio avançado: o casamento.
A noiva do Gilberto, agora esposa, é a servidora pública Ângela Maria de Jesus, que vive com ele há 19 anos. A história, apesar de passar por um capítulo difícil, é cheia de amor e, sobretudo, esperança. Ângela acredita na recuperação do marido e em um futuro melhor para os dois. “Este momento para nós dois representa muita felicidade. Eu tenho certeza de que ele vai melhorar e continuar aqui do meu lado, para seguirmos nossa vida em paz. É isso que significa nossa união. Só a morte vai poder nos separar, e se acontecer vai ser da vontade de Deus”, se emociona a servidora.
A cerimônia rápida, simples e improvisada, não precisou de muito para emocionar. Ainda assim, os funcionários do hospital se mobilizaram para deixar o enlace do Gilberto e da Ângela mais especial. Uma vaquinha entre os enfermeiros arrecadou dinheiro para comprar um buquê de flores para a noiva, e o quarto hospitalar foi todo decorado e reposicionado para que tudo acontecesse.
“Apesar do improviso, nós unimos forças com a portaria, para que os parentes e amigos do Gilberto pudessem entrar e assistir, contamos com a higienização, que fez a limpeza do local para receber a todos, e que limpará tudo de novo para a acomodação dos pacientes. Todo mundo contribuiu de alguma maneira. Acreditamos que o maior presente somos nós, da saúde, quem recebemos. A humanização vai além do trato do dia-a-dia, compreende fazer algo a mais para fazer essas pessoas que sofrem mais felizes”, afirma a enfermeira Dannyelle Ribeiro.
Os colegas de quarto, também pacientes em estágio grave, participaram do momento. Júlio Xavier, também internado, garante que o astral e a emoção do casamento contagiaram a ele e aos outros internos. “Ver todo mundo alegre faz bem para nós. O astral foi muito bom, trouxe felicidade para nós. Parece que nós também ficamos melhores com esse momento”, garante.
Concessão da Igreja
Há 10 anos não se realizava um casamento fora de uma Igreja Católica em Montes Claros. O padre Aylson Bessa foi o responsável por presidir o matrimônio entre Gilberto e Ângela. A noiva foi batizada dentro do hospital, para depois poder se casar, segundo o regimento católico. O religioso explica que a emoção das circunstâncias permitiu que a autorização fosse concedida pela Igreja.
“A fé dos noivos na cura e no amor foi o que levou a Igreja a permitir que realizássemos o matrimônio fora da Igreja. Estava planejado para ser na casa do Gilberto, mas, como ele precisou ser internado às pressas, resolvemos fazer dentro do hospital mesmo. Ele se confessou e revelou que era a vontade que tinha, de realizar o sonho da esposa de se casar. Esta união mostra que podemos realizar nossos sonhos, e que a fé no amor ainda existe, ainda que haja a dor da doença e o sofrimento”, completa o padre.
(Fonte: G1 Grande Minas)