Em um local carente como o Vale do Jequitinhonha, a dificuldade de acesso provocada pelo mau estado de conservação das BRs 367 e 251 é apontada por moradores e lideranças como o mais perverso dos desafios enfrentados na região. O problema atinge não só o comércio das cidades, mas também impede o deslocamento de estudantes e dificulta o atendimento médico. Existem trechos que, por serem de terra ou por terem buracos, são quase impossíveis de ser vencidos por uma ambulância, causando um prejuízo difícil de ser medido financeiramente, mas definitivamente muito sentido por uma população predominantemente pobre.
Presidente da Associação Comercial de Araçuaí, Elzita de Souza diz que os supermercados da região têm dificuldades em repor suas mercadorias. “O fluxo de produtos está comprometido, as lojas estão com problemas para reposições. Como somos uma cidade-polo, muita gente que é da região e fazia compras aqui não vem mais. Então, o comércio está perdendo tanto pelo comprador, que não chega até aqui, quanto pelos produtos que acabam faltando”, detalha.
Já o secretário municipal de Administração e Planejamento de Almenara, José Rodrigues, destaca que o município está ilhado, pois é – ou deveria ser – atendido pelas duas rodovias. Segundo ele, as duas principais atividades econômicas da região, o gado de corte e a extração de granito, estão praticamente paralisadas, já que não existe como escoar a produção. “A cada cem cabeças de gado, estamos perdendo 30, que morrem na estrada por conta de dificuldades no transporte. E os caminhões não estão conseguindo trafegar com o granito, que é o segundo principal produto do vale, mas é muito pesado, e, por isso, a carga não consegue passar pelas estradas ou pelas pontes de madeira. Está muito difícil”, lamenta.
Falta de pavimentação causam prejuízos imensuráveis (Foto: Omar Freire / Divulgação)
Saúde
Os doentes das cidades ao longo das duas rodovias não sabem o que é pior: passar pela enfermidade ou encarar a viagem para serrem atendidos. A situação revolta a gestora do hospital São Vicente de Paulo de Araçuaí, Maristane Alves. Formada há 21 anos em enfermagem, ela fez questão de voltar para o Vale do Jequitinhonha para ajudar seus conterrâneos, mas constantemente vê seu esforço ser consumido pela rodovia.
“A situação é muito grave e desumana, chega a ser primitiva. Constantemente, quando temos que transferir um paciente para Diamantina, que é a referência, ele chega ao destino pior do que saiu por conta da situação da estrada”, relata.
Maristane aponta que, além da ambulância balançar demais, ela corre o risco de ter um problema mecânico e deixar o doente ilhado no meio da estrada. Por conta disso, não é raro que um caso mais grave seja tratado no próprio hospital. “Nossa estrutura atende casos de até média complexidade, mas alguns, de pacientes mais complicados, têm que ser resolvidos aqui mesmo, pois não sabemos o que vai acontecer na rodovia”, finaliza.
Acidentes por causa de buracos são comuns na região (Foto: Divulgação)
Morte
O acidente com morte mais recente na BR–367 foi no último dia 10, entre Araçuaí e Itinga, quando o motociclista Alisson de Oliveira Soares, 30, e seu pai, João Batista Soares, 55, que ia na garupa, foram atingidos por uma caminhonete e morreram. Os dois tentavam desviar de buracos na pista e, por isso, trafegavam em baixa velocidade. A batida ocorreu durante uma freada da motocicleta.
Ex-diretor regional do DER-MG critica descaso
Durante o período em que a BR–367 ficou sob responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), Victor Antonio de Oliveira, 62, acompanhou de perto tudo que foi feito na rodovia. Hoje aposentado, ele fez carreira no órgão, primeiro como encarregado de conservação e, depois, como chefe de transporte e trânsito na região de Araçuaí.
Apesar da experiência de quem já viu de tudo ao longo da pista, ele se emociona enquanto fala sobre os acidentes recentes na rodovia. “Estamos perdendo amigos e pessoas queridas nessa estrada. Em menos de um ano, foram 12 pessoas. É inaceitável”, diz.
Entre os problemas apontados por Oliveira, está o transporte de toras de eucalipto por carretas. “É um trânsito muito intenso e carregado. Aos poucos, foram abrindo buracos que aumentaram sem parar. Temos trechos em que as crateras comeram o asfalto completamente, não dá nem para falar que tem pavimento mais por lá”, pontua.
Oliveira avalia que o problema é simples de ser resolvido, mas falta vontade. “A base sobre a qual a estrada foi feita é boa, e a sinalização não está tão horrível. O problema é mesmo a pavimentação, completamente esburacada, mas esse conserto é fácil e seria barato e rápido”, garante, resumindo o sentimento que parece ser comum entre os moradores da região: “Estamos abandonados”.
Diretor de escola relata sofrimento
O diretor do campus de Araçuaí do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Aécio Oliveira de Miranda, 42, sabe bem o drama que é encarar as péssimas condições da BR–367 em prol da educação. Morador do município de Chapada do Norte, ele encara os cerca de 80 km de distância entre as duas cidades todos os dias, sendo que, desses, cerca de 50 km são sem pavimentação.
“As crianças têm dificuldade em estudar, porque é caro para elas se deslocarem nas condições que temos. Nossos jovens estão crescendo completamente sem perspectiva de continuar no Vale do Jequitinhonha e só pensam em tentar a vida em outras regiões. É muito triste, estamos perdendo nosso futuro”, desabafa.
BR-367 em péssima condição de tráfego (Foto: Divulgação)
(Fonte: O Tempo / Repórter: João Renato Faria)
Culpa Quem???
Quando as rodovias estão Boas, os Caminhoneiros rodam com peso superior o permitido, para se conservar as Estradas!!!!
De Quem é a Culpa ? ? ?
Simplesmente: seca, estradas em abandono, obras inacabadas e outras mazelas mais, parece ser de propósito , para cada ano de eleição, são cabeçalhos de discursos pífios de campanha.
Simplesmente.
Pedem verbas e mais verbas… lemos e vimos os “slogans” dos governos: mensalão, propina, petrolão, enganação…
Zombam, mente, ri… ROUBAM. TROCISTAS!
Corrupção. São litigantes.
Governam preparando para trocar a pele pela esperança de ficar com os ossos.