Pequenos e médios produtores contam com incentivos para criação de frango caipira em Minas Gerais

0

A receita de frango caipira é uma das mais tradicionais da culinária mineira. Para muita gente, a qualidade da carne, mais saborosa quando comparada à do frango de granja, deve-se à forma de criação das aves, que ficam soltas. E não é só na mesa dos mineiros que o frango caipira mostra a sua força: no interior do estado, pequenos e médios produtores se qualificam e buscam profissionalizar a criação das aves, com assistência de órgãos como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e a Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig).

“A criação de aves caipiras está crescendo e é uma boa alternativa de renda para o agricultor familiar, porque hoje existe uma grande demanda por produtos mais naturais, como é o caso do frango caipira”, afirma o coordenador regional da Emater-MG em Montes Claros, Luiz Fernando Mendes.

É o caso de Antônio Santana, de 60 anos, que há cinco anos cria frango caipira em Montes Claros, no Norte do estado. “Trabalho com venda de peças automotivas, mas sempre tive vocação para trabalhar em roça e sou apaixonado por galinha caipira. Então resolvi investir nisso”, conta. Hoje, Santana tem 900 cabeças, entre pintinhos e frangos adultos, que vende para o mercado central da cidade e para os fregueses fiéis, que semanalmente buscam as aves.

Mais de 17,5 mil agricultores familiares trabalham com avicultura no sistema caipira, indica levantamento da Emater-MG em Montes Claros (Foto: Divulgação/Utramig)

Para manter as características do frango da roça, é necessário que os animais mantenham contato com a natureza, mas alguns cuidados são fundamentais. Segundo Mendes, a Emater-MG oferece assistência técnica aos produtores para melhorar a produtividade da avicultura familiar, com foco em quatro pilares: escolha da raça; nutrição; manejo sanitário e prevenção de doenças; e instalações adequadas.

Santana, que recebeu ajuda da Emater, é um exemplo de boas práticas na criação do frango caipira: os pintinhos de sua propriedade são frutos de cruzamento da raça Índio Gigante, resultado em um caipira melhorado, com porte avantajado.

Outro ponto é que, fora a ração tradicional, composta por milho, farelo de soja e mineral, os animais também comem gramíneas. “Para o frango ser bom, ele tem que ter alimentação verde, muito capim, insetos, alimentos naturais”, diz o produtor.

Além disso, Santana trabalha com um calendário rigoroso de vacinas para a prevenção de doenças. As principais vacinas administradas protegem contra a Bouba Aviária e a Newcastle, doença virótica de alta mortalidade.

“O último pilar diz respeito à construção de instalações para as aves, porque muita gente acha que, por ser frango caipira, os animais podem ficar completamente soltos, sem nenhum galpão próprio, e não é verdade”, explica o coordenador regional da Emater, Luiz Fernando Mendes.

A recomendação é que a instalação tenha um metro quadrado disponível para cada dez frangos ou seis galinhas adultas. Além disso, o espaço deve ter o pé direito mais alto, sem muita incidência de sol, e deve ser mantido limpo e desinfetado com solução de água sanitária.

No terreno de Antônio Santana foram construídos ainda 17 piquetes, que são espaços cercados para pastejo das aves. “Eu estudei seis meses antes de começar a criar frango caipira”, ressalta o criador.



Associação de produtores

De acordo com levantamento da Emater-MG, em Montes Claros e municípios próximos, cerca de 17,6 mil agricultores familiares trabalham com avicultura no sistema caipira. “Comercializar o frango é o mais difícil pra nós, que somos pequenos produtores. Por isso, estamos lutando para montar uma associação aqui, unindo os criadores e facilitando nosso alcance ao consumidor final”, defende o criador Antônio Santana.

Desde março, os produtores rurais da região têm se reunido para viabilizar a criação da Associação de Produtores de Frango Caipira, com apoio da Emater-MG. Um dos objetivos é inclusive facilitar a participação dos criadores em iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

O coordenador regional da Emater-MG em Montes Claros, Luiz Fernando Mendes, está à frente da iniciativa e explica que o processo está em fase de criação do estatuto da futura associação. “Com o CNPJ próprio, esperamos inclusive reduzir custos para os produtores, pois compraremos os insumos em maior quantidade”, conclui.

Curso de galinha caipira

Na região de Uberlândia, a demanda existente por parte de associações e produtores fez com que a Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig) criasse o Curso de Galinha Caipira, com 30h/aula, que já teve duas turmas concluídas. No último sábado (18/6), a terceira turma começou as aulas.

Totalmente estruturado e adaptado à rotina dos produtores e agricultores, o curso tem aulas aos sábados. As aulas são ministradas por veterinários especialistas em avicultura, que ensinam aos alunos manejo, assistência, vacinas, sanidade, nutrição, incubação, acompanhamento de resultados e normas de saúde e segurança alimentar vigentes ligadas ao segmento da galinha caipira.

O professor Ronald de Lucca explica que um dos objetivos do curso é trazer mais sustentabilidade aos pequenos produtores, que ganham eficiência produtiva.

Maria Soares de Brito, 72 anos, aluna da primeira turma do curso oferecido pela Utramig, define-se como uma criadora apaixonada. “Para mim é uma terapia, comecei a criar frango caipira sem compromisso nenhum de vender. Depois que fiz o curso, comecei a arrumar muita coisa que eu fazia errado, e agora estou começando a ganhar dinheiro com as galinhas”, conta.

A aposentada relata que, entre as mudanças adotadas após o curso estão o descarte de galinhas mais velhas, a administração de vermífugos e a construção de um local apropriado para a criação de pintinhos. “Também contratei uma empresa para vacinar as galinhas. Vendo os frangos e ovos para família, amigos, vizinhos, o pessoal sempre procura, e agora vou vender com mais qualidade e procedência”, afirma ela.

Negócio lucrativo

Dois anos se dedicando à criação de diversos tipos de aves, entre elas a galinha caipira melhorada, e o produtor Hélio Gomes, de Uberlândia, já colhe os frutos do negócio. “É uma coisa que eu gosto de fazer. Estudei o mercado, vi que tudo que eu criar que for caipira tem venda garantida. Crio pato, marreco, galinha, é o tempo de engordar as aves e vender”, relata ele, que também fez o Curso de Galinha Caipira da Utramig.

Prova do sucesso de Hélio é a reserva antecipada dos lotes de frango pelos clientes. “Minha produção de 30 dias pra frente já está vendida. Não sobra galinha caipira, vem gente de cidades em um raio de 500 quilômetros buscar”, conta ele.

O negócio deu tão certo que hoje a aposentadoria de Hélio virou um complemento da renda obtida com a venda das aves, e não o contrário. O criador conta com ajuda de um funcionário, e a rotina de cuidados começa cedo, às 7h30, e vai até 17h.

Além de colher os frutos da criação, ele também a desfruta. “Faço frango caipira toda semana. Abato na hora e cozinho à moda mineira, com macarronada, arroz, tutu de feijão. Os temperos e legumes são todos colhidos na hora, então fica especial”, diz.

O produtor Hélio Gomes / Foto: Arquivo Pessoal

(Agência Minas)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui