Um levantamento feito pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) mostra que, apesar de ainda ser junho, a estiagem que atinge o Norte de Minas Gerais é equivalente ao mês de setembro, o que significa que o período crítico de seca foi antecipado em três meses. A afirmação é baseada em dados da situação dos recursos hídricos e das perdas agropecuárias.
Informações do último relatório enviado para os Governos Estadual e Federal apontam que 90% dos córregos e rios que abastecem a região estão comprometidos, e 70% dos poços artesianos secaram ou tiveram a vazão comprometida, impactando diretamente o abastecimento da população.
“Alguns municípios já estão tendo que levar água para a zona rural e até urbana com carro-pipa”, destaca Reinaldo Nunes, coordenador técnico da Emater. Somente no campo, 150 mil famílias sofrem os impactos sociais da seca.
Em relação à safra agrícola, Nunes destaca que as perdas nas quatro últimas safras chegam a R$ 2 bilhões. O rebanho bovino, que chegava a 3,3 milhões de cabeças, foi reduzido a 1,5 milhão, e a produção de leite caiu 60%. As pastagens, que somavam 4 milhões de hectares, foram reduzidas em 70%.
Rebanho da região foi reduzido em mais da metade (Foto: Emater/Divulgação)
Situação de emergência
O último boletim divulgado pela Defesa Civil Estadual aponta que 119 municípios mineiros decretaram situação de emergência pela seca. De acordo com a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene, 75 estão situados no Norte do Estado.
O decreto de emergência permite que os municípios sejam beneficiados por políticas públicas e programas do governo como o Seguro e Garantia Safra e Abastecimento e as Operações Pipa, compra de insumos com preços subsidiados e renegociação das dívidas rurais com os bancos.
Luiz Lobo, secretário executivo da Amans, associação que abrange 89 municípios, diz que os prefeitos encontram dificuldades para conseguir a homologação do decreto, e também reclamam da burocracia para terem acesso aos benefícios garantidos pela Situação de Emergência.
“Dependemos das possibilidades dos Governos Estadual e Federal em atender às nossas demandas, a situação fica complicada por causa da crise. As nossas prioridades estão sendo levantadas há muito tempo, iremos fazer alguns encontros para chamar atenção para as nossas reivindicações, a expectativa é de que o acesso às ações demandadas pelos municípios se torne mais fácil, já que o governo está prometendo um atendimento mais eficaz nos próximos meses”, diz.
Em relação às dificuldades, Luiz Lobo cita o caso dos caminhões-pipa custeados com verbas do Estado e União. “A liberação desse tipo de abastecimento ocorre no período crítico, a partir de setembro, mas as Prefeituras já estão enfrentando situações que podem ser consideradas críticas”, destaca.
Três encontros estão previstos para serem realizados em breve; no dia 27 deste mês, os pipeiros que vão trabalhar na ‘Operação Pipa’ serão capacitados pelo Sebrae para otimizar os serviços. No dia 30 será realizado um Seminário da Defesa Civil com prefeitos e coordenadores municipais. E em julho será realizado um encontro para discutir a gestão da crise hídrica na região em São Francisco.
Caminhões-pipa não param
“Estamos enfrentando os efeitos da estiagem há vários meses. Para se ter uma ideia, em 2015 choveu apenas 470 milímetros. Em janeiro deste ano foram 600, mas desde então não houve mais chuvas. Esta é uma das piores secas dos últimos 80 anos”, fala o prefeito Danilo Mendes.
Desde julho do ano passado o município utiliza caminhões-pipa para abastecer ininterruptamente a zona rural. “O trabalho é feito todos os dias, com exceção do domingo. É uma questão de sobrevivência para mais de três mil pessoas, que não têm água nem para beber se não levarmos”, explica Hélcio Alves, responsável pelo setor que faz o abastecimento.
Em Taiobeiras, cinco caminhões levam água até a zona rural, o custo do serviço é de R$ 7 mil por mês para cada um dos veículos. Para evitar que a cidade fique sem água, como ocorreu nos últimos dois anos, estão sendo perfurados poços artesianos.
El Niño e La Niña
A expectativa da Emater, de acordo com Reinaldo Nunes, é de que a escassez de chuvas no Norte de Minas seja amenizada em 2017, com o enfraquecimento do El Niño, fenômeno natural que provoca o aquecimento da água do oceano no Peru e no Equador, e chegada da La Niña, que é o contrário.
“A seca prolongada ocorre de tempos e tempos, houve um período longo de estiagem entre 1934 e 1940, por exemplo. Apesar de ser algo natural, a interferência do homem também tem efeitos extremamente negativos”, destaca Reinaldo.
(Fonte: G1 Grande Minas / Repórter: Michelly Oda)