Policiais civis e militares, além de representantes do Ministério Público e do Judiciário, foram homenageados pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (15/6/16). Eles participaram de uma operação policial responsável pela prisão de 27 pessoas, a maior parte de uma mesma família, envolvidas com o tráfico de drogas em Itamarandiba (Jequitinhonha) e região.
O delegado da Polícia Civil de Itamarandiba, José Olegário de Oliveira, apresentou um vídeo mostrando as ações desencadeadas, que contaram com o apoio também das polícias de São Paulo. Segundo ele, José Maria Caetano de Andrade, o Zelão, foi quem comandou a organização criminosa por muitos anos em Itamarandiba, acompanhado por sua mulher, Antônia Pires de Andrade. Em 2008, na primeira fase da operação Calcário da Morte, conta o delegado, o casal foi preso junto a outros envolvidos no tráfico local.
Com isso, segundo as investigações, assumiu o poder na organização criminosa o filho do casal, Fábio Caetano de Andrade, conhecido como Bidu. Atualmente, ainda de acordo com a polícia, todos os filhos do casal, além de netos atuavam no tráfico em Itamarandiba e região, aterrorizando os moradores. Todos foram presos na sequência de operações policiais desencadeadas, culminando na Calcário da Morte II, no último dia 8 de junho.
Com o envolvimento de mais de 30 viaturas, 17 integrantes da quadrilha foram presos e três menores apreendidos. Foram também apreendidos sete quilos de maconha, 1,3 quilo de pasta base de cocaína, munições, armas, joias e dinheiro. De acordo com José Olegário, a organização responderá POR associação criminosa, tráfico de drogas, porte de arma de fogo de uso restrito, roubo, sequestro, entre outros crimes.
Histórico – Na Calcário da Morte II, as investigações começaram em março de 2016, já com prisões de seis suspeitos, em abril e maio, nas regiões de Itamarandiba e Diamantina (Central). Nos dias 2 e 3 de junho, policiais civis mineiros se deslocaram para São Paulo, onde conseguiram prender, no bairro Capão Redondo, periferia da capital paulista, o suposto líder da organização, Bidu. Também foram presos lá o irmão dele, Manoel Caetano de Andrade, e o sobrinho, Kaíke Santos de Andrade.
Por fim, o delegado afirmou que a razão principal de sua vinda à reunião era mostrar que, apesar da magnitude do trabalho policial, poderá haver reações por parte da criminalidade. “Esse trabalho não pode ser esquecido. Pelo contrário, deve ser propagado”, sugeriu. “O campo está aberto, pois o pequeno traficante, com a prisão desses grandes, está querendo tomar esse espaço lá no bairro Fazendinha, em Itamarandiba. Então, precisamos manter a cidade limpa e a população precisa se engajar”, completou.
Mobilização – O comandante do 42º Batalhão da PM, em Curvelo (Central), coronel Elton Romualdo Araújo, contou que assumiu o comando em fevereiro deste ano e, pouco depois, já estava a par do problema na cidade do Jequitinhonha. Seguindo ele, os esforços conjuntos das duas corporações e individuais de cada policial contribuíram para o sucesso das ações.
O policial também avalia que o trabalho está apenas começando. “Em Itamarandiba e região, tinha-se chegado ao ponto de os marginais quererem botar fogo em delegacias, matar policiais; então temos ainda muito trabalho a fazer, de investigação, repreensão e apoio”, receitou ele, defendendo ainda uma mobilização maior da sociedade.
Silas Clóvis de Andrade, investigador do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), da Polícia Civil, participou das operações em São Paulo. “Agradeço a oportunidade de participar dessa operação. Fizemos campana (vigilância) em São Paulo e efetuamos três prisões no Capão Redondo, região considerada um das mais violentas do mundo”, relatou. Ele disse que o grupo que foi ao local, viajando em viaturas descaracterizadas, teve que pagar pedágio e combustível do próprio bolso.
Comissão da ALMG homenageia policiais de Itamarandiba (Foto: Divulgação)
Autoridades pedem efetivo maior e reforma da cadeia
O promotor de justiça de Itamarandiba, Diego Espíndola Sanches, também participou da operação Calcário da Morte II. Em sua avaliação, ela somente foi possível devido ao somatório de forças que resultou no desmantelamento da quadrilha. Ele considerou um “absurdo” uma cidade pequena como Itamarandiba, de 37 mil habitantes, sendo 26 mil na zona urbana, ter 50 pessoas presas por envolvimento com o tráfico. “A situação lá não é normal: as organizações criminosas foram desarticuladas, mas não estão inativas. Portanto, o perigo não foi neutralizado. Daí a importância da ação do poder público”, analisou.
Nesse sentido, ele defendeu a reforma da cadeia como prioridade número um para a segurança da cidade, com a remoção dos 72 presos para outra unidade e a transferência da responsabilidade sobre eles para a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). Ele lembrou que essa demanda já tinha sido apresentada na audiência anterior sobre o tema na ALMG, em abril deste ano, na qual foi solicitado o aumento do efetivo das polícias na cidade.
O prefeito de Itamarandiba, Erildo do Espírito Santo Gomes, agradeceu a todos os participantes das ações policiais e pediu apoio aos deputados para o aumento do efetivo policial e a transferência dos detentos para a Suapi. “Já temos os recursos para a reforma da cadeia, mas precisamos transferir os presos para outro local antes de iniciarmos a reforma”, reivindicou.
Também o presidente da Câmara Municipal de Itamarandiba, vereador Eduardo César Moreira, cobrou melhorias na segurança local. Ele solicitou a instalação da 2ª Vara da Justiça da cidade, vagas para menores infratores e a transformação do pelotão local em companhia independente da PM.
Geraldo Gonçalves Vieira, investigador de Polícia Civil, que teve participação decisiva nas operações, também indo a São Paulo para efetuar as prisões, foi aplaudido de pé pelos presentes. Ele também pediu aos parlamentares que não se esqueçam de Itamarandiba e do Vale do Jequitinhonha. “Precisamos de mais viaturas, equipamentos e efetivos. Que haja a manutenção do trabalho de segurança em Itamarandiba para mantermos a cidade dentro de um padrão aceitável de criminalidade”, cobrou.
Transferência de presos será tema de requerimento
O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), foi quem solicitou a reunião. Além da entrega dos diplomas de voto de congratulação, ele explicou que a audiência teve também como objetivo debater os resultados da reunião anterior da comissão, que discutiu o combate a criminalidade naquela região.
“O crime não estava dando sossego naquela cidade, que tem um povo ordeiro e pacato. Os bandidos estavam achando que Itamarandiba estava entregue à própria sorte, mas esses nobres policiais e membros da segurança, com empenho e trabalho, provaram que não é bem assim”, elogiou. No fim da reunião, Sargento Rodrigues anunciou que será aprovado, na próxima reunião da comissão, um requerimento solicitando a transferência dos presos de Itamarandiba para outra unidade.
O deputado Wander Borges (PSB) também enalteceu o trabalho dos homenageados. “Foi uma resposta muito positiva com relação à cobrança feita na audiência pública em abril. Por isso este reconhecimento de público”, disse. João Leite (PSDB) também reconheceu o papel importante que os policiais desempenharam. Para ele, a impunidade é um desastre, pois dá chance aos bandidos de expandirem suas ações e colocar medo nas pessoas.
Por último, Antônio Carlos Arantes (PSDB) se mostrou esperançoso com o trabalho realizado na cidade do Jequitinhonha. “Essa ação policial mostra que nem tudo está perdido, temos muita gente boa nas polícias, no Ministério Público e no Judiciário”, ponderou.
(Fonte: ALMG)