Valadarenses ainda temem consumir a água captada no Rio Doce

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Sete meses depois de a onda de lama que vazou da barragem da Samarco em Mariana percorrer todo o Rio Doce, causando o maior desastre socioambiental da história brasileira, moradores de Governador Valadares – cidade mais populosa ao longo do leito, com 300 mil habitantes – ainda temem beber da água captada no leito e tratada pela autarquia municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). A prefeitura assegura que o líquido está próprio para consumo humano, mas as garantias não são suficientes para tranquilizar os consumidores.

Prova disso é que, diariamente, centenas de famílias preferem encher galões, baldes e outros utensílios em poços artesianos perfurados por particulares, que em muitos casos não se incomodam em doar grandes quantidades de água, mesmo que a solidariedade, às vezes, tenha seu preço. “Paguei R$ 600 para consertar a bomba que capta a água, pois, de tanto ser usada, estragou. Não tem problema: cada um ajuda como pode”, justificou Rildo Gonçalves da Silva, de 47 anos. Pedro Henrique dos Santos, de 16, é um dos que agradecem esse tipo de solidariedade. “Busco água praticamente toda semana. Não tenho coragem de beber a que vem do Rio Doce”, contou.

O último relatório do Grupo Independente para Avaliação de Impacto Ambiental (Giaia), formado por cientistas que estudam consequências do rompimento da Barragem do Fundão, ajuda a entender o receio de parte da população valadarense. Os profissionais coletaram amostras da água bruta em duas expedições ao longo do Rio Doce, em dezembro de 2015 e em abril de 2016.

Na primeira, o Giaia constatou alto índice de metais, em desacordo com a Norma 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama): arsênio (quatro vezes mais que o permitido), cádmio (três vezes acima), níquel (duas vezes acima) e manganês (12 vezes acima). Na segunda medição, o volume dos três primeiros minerais se reduziram a nível aceitável pelo Conama. “Já o manganês, embora em menor concentração, continuou alterado”, informou o relatório.

Quando ingerido, segundo o Giaia, o manganês apresenta toxicidade baixa, por isso, há poucos relatos de intoxicação via oral. “Entretanto, Wasserman (pesquisador) e colaboradores observaram déficits intelectuais em crianças expostas a elevados níveis, iguais ou maiores que 0,5 mg/l de manganês na água potável em Bangladesh (Ásia)”, anotou o grupo.

A Prefeitura de Governador Valadares afirmou que o Saae faz análise semanal na água tratada e, mensalmente, analisa o líquido diretamente do leito. “Apesar de haver metais na água bruta, o tratamento realizado pelo Saae consegue reduzir os valores dessas substâncias a níveis mais baixos dos que os que são determinados pelo Ministério da Saúde, garantindo a potabilidade do líquido”, assegurou a prefeitura.

Pedro agradece ajuda de quem tem poço artesiano (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

(Fonte: Estado de Minas / Repórter: Paulo Henrique Lobato)

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